Leônidas da Silva em São Paulo

Leônidas da Silva foi uma aquisição incomparável do tricolor paulista e ajudou a equipe a conquistar tudo nas décadas de 1940 e 1950; creio que este período só comparável ao de Gerson, quando também veio, veterano e também do Rio para fazer o São Paulo crescer.

Por: José Sebastião Witter

 

(*) Ilustração: Zuca Sardan

Na década de quarenta do século XX, quando ainda acontecia a Segunda Guerra Mundial, o craque insuperável, Leônidas da Silva, veio para São Paulo, contratado pelo São Paulo Futebol Clube. Já veterano, para a época, o São Paulo iniciou uma prática e que mantém até os tempos atuais: contratar veteranos para jogar com os seus jovens iniciados, atualmente nos seus setores de treinamento e, então, no Canindé, onde, hoje a Portuguesa tem seu estádio.

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Leônidas foi uma aquisição incomparável do tricolor paulista e ajudou a equipe a conquistar tudo nas décadas de 1940 e 1950; creio que este período só comparável ao de Gerson, quando também veio, veterano e também do Rio para fazer o São Paulo crescer.

Mas fiquemos com Leônidas – o Diamante Negro – sobre quem voltarei a falar, neste mesmo espaço, em momento oportuno. Creio que não exagero em dizer, pois eu o vi jogar, que ele só não é mais lembrado porque, então, não havia vídeo para eternizá-lo e divulgar suas jogadas espetaculares nos canais de televisão. Com ele o São Paulo fez um time que, os antigos como eu, o têm na ponta da língua: King, Piolim e Virgilio; Zezé, Zarzur e Noronha; Luisinho, Sastre, Leônidas, Remo e Pardal (depois Teixeirinha).

Nesses mesmos anos, em que os sampaulinos dizem desses jogadores, também os corintianos, palmeirenses e ipiranguistas, santistas, jabaquarenses, etc, dirão dos seus. Eram times que jogavam juntos por muitos anos e não se podia substituir jogadores (mesmo machucados) durante uma partida. Nada era como na atualidade em que, a cada partida, joga um grupo diferente. E por isso mesmo não se fala mais em time do São Paulo, time do Santos ou do Corinthians ou do Palmeiras, Flamengo, Vasco, enfim; fala-se em Grupo de jogadores do Fluminense ou Grupo Unido da Seleção tal ou qual.

Mas, Leônidas da Silva veio como craque, não agradou de pronto e passou até a ser chamado de “bonde” pela imprensa paulistana até começar a brilhar e se transformar no grande craque do futebol paulista. Eu tive o privilégio de vê-lo, em sua estréia no Pacaembu, em 1942, e de acompanhar sua trajetória toda como jogador e depois como treinador e cronista esportivo.

Imaginem os leitores, a emoção que me toma ao estar repensando e, por isso, revivendo o espetáculo de 71 anos atrás, vivido pelo menino de 9 anos num Pacaembu da Concha Acústica! Ninguém pode sentir o que se passa na alma do velho professor que conviveu com esse momento histórico. Então, naquele estádio lotado o menino via do alambrado o jogador que ele somente conhecia das figurinhas da ‘bala futebol’, que a gente colecionava em álbuns que nunca se completavam porque as ‘carimbadas’, e Leônidas era uma delas, quase nunca chegavam às nossas mãos. Mas eu tinha um Leônidas com carimbo e tudo… Era um outro momento do nosso futebol!

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Leônidas da Silva acabou vivendo sua grande história e sempre foi lembrado como o ‘homem da bicicleta’, eternizada por uma foto que existe lá no Morumbi, em um memorial bem montado pelo clube que o consagrou e o apoiou sempre até seus últimos dias.

Já nos tempos de cronista esportivo, Leônidas teve quem concordasse e quem não concordasse com ele, mas sempre foi um homem de opiniões firmes e muito bem informado.

O tempo passou, o São Paulo, o Corinthians, o Palmeiras, a Portuguesa, o Santos, para falar somente dos maiores clubes, montaram grandes equipes e chegaram a ter conquistas memoráveis, que também marcaram época, mas, nestes tempos de século vinte e um parece que estamos a carecer de mais futebol e mais craques em todos os clubes brasileiros, pois, embora o Brasileirão seja, no meu entender um dos grandes campeonatos do mundo, está a exigir mais organização e através desta o essencial: público. “E, bola pra frente…”.

(*) Deixa Falar: o megafone do esporte, espaço de debates idealizado e editado por Raul Milliet Filho.

(*) No dia 20 de janeiro , dia de São Sebastião, José Sebastião Witter fará 80 anos. O Megafone presta homenagem a ele pelo seu aniversário.

(*) José Sebastião Witter é torcedor do São Paulo, professor emérito da USP e professor normalista. Foi um dos pioneiros na introdução do futebol como objeto de estudo na Universidade, assunto até então estigmatizado.

 

 

 

Fonte: Carta Maior 

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