Levante de Soweto: no dia 16 de junho de 1976, dez mil estudantes tomam as ruas

Após violenta repressão da polícia, protesto contra apartheid terminou com 23 mortos. Manifestações continuaram e, no fim do ano, eram 360 mortes, chegando a mil em 1977

no Globo

Hector Pieterson, Soweto, 1976 – Sam Nzima

Um protesto de dez mil estudantes de Soweto – o grande gueto negro a 16km de Johannesburgo, na África do Sul – contra a política racista do governo, no dia 16 de junho de 1976, provocou a maior onda de violência no país desde o massacre de Sharpeville, em 1960, quando 69 negros foram mortos pela polícia. Crianças e jovens que reclamavam por escolas melhores para negros no país se dirigiam em passeata a um estádio, cantando pacificamente, acompanhados de perto pela polícia. Um policial atirou uma bomba de gás lacrimogêneo, outro achou que eram os garotos que tinham dado um tiro, e todos começaram a disparar contra a multidão. O primeiro a cair morto foi Hector Pieterson, de 12 anos. Pelo menos 23 pessoas morreram no primeiro dia do Levante de Soweto, duas delas brancas, favoráveis à integração racial.

Por três dias, em várias partes do país, houve tumultos, incêndios e saques, provocando cem mortos e mais de mil feridos. A maior parte, evidentemente, era de negros, que enfrentavam só com paus e pedras soldados em veículos blindados, com lança-bombas de gás, cães policiais e helicópteros. Contidas num primeiro momento, as manifestações continuaram estourando. No fim do ano eram 360 mortos e mais de mil no final de 1977.

O governo gostava de mostrar Soweto como atração turística – visitada todo ano por 15 mil brancos – com 256 escolas, um hospital com três mil leitos, 55 mil carros, advogados, médicos, comerciantes e até cinco milionários, mas escondia a falta de saneamento, eletricidade e água corrente para a maior parte dos mais de 700 mil negros que lá viviam, na maioria da tribo dos zulus.

Além disso, os serviços médicos, colégios e livros escolares eram pagos, ao contrário do que acontecia nas cidades brancas. Para piorar a insatisfação, o africâner – dialeto holandês que os negros ligavam aos seus tradicionais opressores – fora adotado nas escolas. O estopim da revolta dos jovens, de 10 a 20 anos, foi justamente a intenção do governo separatista de forçar o aprendizado do africâner nas escolas, em lugar do inglês, que os sul-africanos de outras nove etnias usavam para se comunicar entre si.

Soweto era o símbolo da segregação racial no país, iniciada como política oficial em 1948. Tratava-se de uma cidade-dormitório de Johannesburgo apenas para os negros que trabalhavam nas minas de ouro, nas fábricas e nas residências dos brancos na área metropolitana.

A população negra da África do Sul, mais de 70% dos habitantes, não mais se conformava em ser tratada como estrangeira em sua própria terra. Iniciava-se com o levante a contagem regressiva para o fim do apartheid. E a data 16 de junho passou a se chamar o Dia da Juventude, marcando o começo de uma série de manifestações que se prolongariam por 18 anos. Os protestos culminaram com a queda do regime segregacionista depois das eleições multirraciais e democráticas em 1994, vencidas pelo Congresso Nacional Africano, comandado pelo líder Nelson Mandela.

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