Lula reverencia a vida e a obra de Vinicius de Moraes

Por: Irlam Rocha Lima

Cerimônia marca a reintegração, post-mortem, do escritor aos quadros do Itamaraty, agora como embaixador


Emocionado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ter inveja de Vinicius de Moraes, que sempre estava “com as portas da casa abertas para os amigos”; e lamentou não ter convivido com o poeta como gostaria. “Não conheço alguém que tenha sabido viver a vida como o nosso Vinicius viveu.” Segundo o presidente, o intelectual tinha o dom de saber escolher pessoas boas para conviver e evitar gente chata. “Gostaria de ter sido convidado para as tardes de música na casa do compositor. Hoje as pessoas não têm mais coragem de convidar alguém para um trago (de uísque). Um trago para conquistar e não para embebedar.”

Essas reflexões foram feitas ontem, no começo da noite, no Itamaraty, ao discursar de improviso no encerramento de cerimônia que marcou a reintegração, post-morten, de Marcus Vinicius da Cruz Melo Moraes aos quadros do Ministério de Relações Exteriores no cargo de ministro de primeira classe (embaixador).

Ao assinar a aposentadoria compulsória de Vinicius, com base no Ato Institucional nº 5 (AI 5), o general Arthur da Costa e Silva, ordenou: “Demita esse vagabundo”. Ontem, o poetinha foi reverenciado, com pompa e circunstância, pelo presidente da República: “Muitas vezes no Brasil deixamos de exaltar quem foi vítima no período do autoritarismo, e ficamos preocupados com quem prendeu e matou. E com isso, a gente se esquece de valorizar os nossos heróis”.

Na abertura da cerimônia, o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, traçou um perfil do embaixador-poeta e lembrou-se de passagens da carreira do homenageado. Contou, por exemplo, que quando Vinicius servia em Montevidéu, “misturou” a poesia com a burocracia ao pedir seu retorno para o Rio de Janeiro, justificando: “Preciso voltar para o Rio e não é por problemas de dinheiro ou material, porque isso se recupera, mas sim por amor, que é irrecuperável”.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Brito destacou a atuação de Vinicius de Moraes como diplomata, principalmente por divulgar no exterior a arte e a cultura brasileiras. Presentes à cerimônia estavam as filhas Luciana (que recebeu a placa com uma cópia da promoção), Georgiana; a neta Mariana, a bisneta Maria Luiza, que entregou ao presidente um livro de fotos do avô Pedro de Moraes, com imagens de Lula e Vinicius em São Bernardo do Campos (SP) em 1979, e Gilda Matoso, a última mulher de Vinicius. Ao lado da cantora Miúcha, Georgiana e Mariana interpretaram clássicos do poeta, como Gente humilde e Chega de saudade, esta última acompanhada em coro pela plateia.

 

 

 

Fonte: Correio Braziliense

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