Eleição de Nicolás Maduro projeta a continuidade de regimes de esquerda na América Latina; nos últimos anos, com a riqueza gerada pelo petróleo, o regime de Caracas reduziu a desigualdade social e apoiou vários países da região, como a Bolívia, o Equador, a Argentina e, sobretudo, Cuba, além de El Salvador e Nicarágua; Maduro promete dar continuidade à Revolução Bolivariana, mas, sem o carisma de Chávez, terá que construir sua própria liderança; Capriles, no entanto, não reconhecerá o resultado
247 – Hugo Chávez acaba de vencer sua última eleição. Com os resultados oficiais divulgados na Venezuela, Nicolás Maduro, seu herdeiro político, é o novo presidente do país que possui as maiores reservas de petróleo do mundo e, portanto, ocupa papel central na geopolítica global – e não apenas da América Latina. Maduro, segundo o primeiro boletim oficial, foi eleito com 50,66% dos votos, contra 49% do opositor Henrique Capriles e agradeceu a Chávez pela vitória. “Vou me entregar a Cristo redentor para ser presidente de todos e todas, e continuarei enfrentando os que odeiam para que deixem de odiar”, acrescentou. Ele ressaltou que está preparado para o que vier ao argumentar que “não é uma eleição pessoal”, mas de Chávez.
A vitória de Maduro é também decisiva para vários países da América Latina. Com recursos gerados pelo petróleo, a Venezuela não apenas combateu desigualdades internas (foi a país que mais reduziu o Índice de Gini na última década), como também apoiou regimes de esquerda em praticamente toda a América Latina. Chávez deu apoio decisivo à Argentina quando o país rompeu com o Fundo Monetário Internacional e também ajudou a eleger e a sustentar regimes como o de Evo Morales, na Bolívia, Rafael Correa, no Equador e, sobretudo, de Raúl Castro, em Cuba, com a venda de petróleo subsidiado. Maduro, que foi chanceler de Chávez, deve manter a mesma política. Seu desafio será construir uma liderança própria, sem contar com o mesmo carisma do antecessor.
A apoiadores, ele pediu “paz e tolerância”, conforme noticia o Opera Mundi:
Falando a apoiadores no Palácio de Miraflores, em Caracas, o presidente eleito Nicolás Maduro pediu neste domingo (14/04) que a oposição reconheça o resultado e acenou à paz na Venezuela. Ele também prometeu dar continuidade ao processo político levado a cabo pelo falecido presidente Hugo Chávez e estabelecer um governo de “unidade”.
Maduro derrotou Henrique Capriles, conquistando 50,7% dos votos, contra 49,07% do candidato opositor. “Saibam administrar o resultado, sem prepotência. Sem chamar à violência. Não! Não queremos violência. Pedimos paz e tolerância. Querem fazer auditoria? Bem vindos à auditoria. Confiamos no poder eleitoral da Venezuela”, afirmou Maduro.
Setores da oposição solicitaram recontagem de 100% dos votos depositados neste domingo. “Eles tentaram iniciar a violência, mas nós não. O povo quer cantar pátria. Aqui estamos com a nossa fortaleza, para aguentar o que quiserem fazer com a nossa pátria. O juro no balcão do povo. Serei presidente da paz dessa pátria”, avisou Maduro.
Ele relatou que manteve uma conversa telefônica com Capriles pouco antes do anúncio do resultado. “Há duas horas, recebemos uma solicitação da MUD porque o candidato queria conversar comigo. Eu decidi receber a chamada, há meia hora, para escutá-lo. Somos democráticos e devemos defender esses princípios. Ele me transmitiu sua visão e eu, a verdade. Em primeiro lugar, há resultados. Há um poder eleitoral. Ele propôs que mandássemos gente ao CNE para fazer um pacto. ‘Não, que o CNE diga o resultado antes!’, disse. Propus que o poder eleitoral fizesse seu trabalho. Ele disse que ia pensar”, contou o presidente venezuelano. Segundo Maduro, Capriles teria dito que o chavismo precisava “levar em conta” os votos da oposição.
“Vamos manter o país em dúvida por semanas? É brincar com a maioria” da população, respondeu o presidente. Ele em seguida fez um novo chamado à calma “Ao povo bolivariano e patriota, e aos que não votaram em mim, chamo à paz. Eles estão dizendo que ‘motorizados’ estão percorrendo lugares da oposição…que ninguém caia em provocações”, pediu.
“Amanhã, a vida continua, o trabalho continua. A construção da pátria continua. E agora com mais avinco e amor pelo gigante [Chávez], continuou Maduro. “A luta continua, que não se equivoquem”, completou.
Próximos passos
De acordo com ele, que estava acompanhado de familiares próprios e de Chávez, além de políticos nacionais e internacionais, “a construção da pátria entra numa nova fase”, ressaltando que quer montar “um governo poderoso do povo. Uma nova, ampla, poderosa maioria da revolução bolivariana.”
Para Maduro, houve “uma vitória trabalhada, lutada, em meio a uma situação de muita dor”, e que agora deve ser iniciada “uma nova etapa da revolução bolivariana, de eficiência, honestidade absoluta, do poder popular.”
Fiel a Chávez, Maduro promete manter e aprofundar a chamada Revolução Bolivariana. Na última sexta-feira, ele publicou artigo no jornal inglês The Guardian a respeito. Leia, abaixo, reportagem do Opera Mundi sobre este artigo, em que ele explicita seus objetivos políticos:
O presidente interino da Venezuela e candidato à Presidência, Nicolás Maduro, publicou nesta sexta-feira (12/04) um artigo em inglês no jornal britânico The Guardian no qual garante que irá dar continuidade ao processo revolucionário levado a cabo por Hugo
No texto, intitulado “Sob minha Presidência, revolução de Chávez irá continuar”, Maduro diz que “legado de Chávez é tão profundo que os líderes da oposição (…) agora defendem suas conquistas”. No entanto, pontua, os venezuelanos “se lembram que muitas dessas mesmas figuras apoiaram o fracassado golpe de Estado contra Chávez em 2002 e tentaram reverter políticas que reduziram dramaticamente a pobreza e a desigualdade”.
“O mito difundido pela mídia de que nosso projeto político iria desmoronar sem Chávez foi uma má interpretação fundamental da revolução venezuelana. Chávez deixou uma sólida construção, com fundações amplas, com um movimento unido que apoia o processo de transformação”, afirma Maduro. “Perdemos nosso extraordinário líder, mas nosso projeto – construído coletivamente por trabalhadores, fazendeiros, mulheres, indígenas, afro-descendentes e a juventudo – está mais vivo do que nunca”, pontua o presidente interino.
No plano internacional, continua o texto, a Venezuela irá continuar a “trabalhar” com seus vizinhos, para “aprofundar a integração regional e combater a pobreza e a injustiça social. É uma visão hoje compartilhada pela região, por isso minha candidatura recebeu apoio tão contundente de figuras como o ex-presidente brasileiro Lula da Silva e de tantos movimentos sociais latino-americanos”.
Maduro escreveu que a América Latina está vivendo “uma segunda independência” política e social. “Sob a minha presidência, a Venezuela vai continuar a apoiar esta transformação regional e construir uma nova forma de socialismo para os nossos tempos”, diz o presidente interino.
Fonte: Brasil 247