Mãe de menino que teve rosto tatuado em corpo de estranho sofre ataques racistas nas redes

Enviado por / FonteExtra, por Cíntia Cruz

A microempresária Preta Lagbara, mãe do menino Ayo, de 4 anos, que teve o rosto tatuado no corpo de uma pessoa desconhecida sem sua autorização, diz que sofreu ataques racistas nas redes sociais. Ela conta que recebeu por inbox mensagens de seguidores do tatuador Neto Coutinho.

— Teve uma pessoa que disse: “Você está acabando com a paz da minha família. Neto tem pai, tem mãe, tem família. Por isso que não acredito nesses movimentos”. Várias contas fake foram feitas nesse meio tempo. Teve um homem que me chamou de imunda. Outro que fala que minha alma que é preta e que eu sou macumbeira. É uma coisa surreal.

Na próxima segunda-feira, Ayo completará 5 anos e Preta lamenta que ainda não tenha encontrado quem está com a tatuagem do rosto do seu filho.

— Estou esperando essa bendita remoção acontecer, ter um início. Dia 12 vai ser aniversário de Ayo e queria estar com isso resolvido, mas, pelo visto, não aconteceu.

Preta Lagbara é mãe do menino Ayo, que teve imagem do rosto tatuada em corpo de uma pessoa desconhecida Foto: Arquivo pessoal

Em seu perfil no Instagram, Preta afirmou que vai expor as pessoas que estão cometendo os ataques: “Sofri racismo, racismo religioso e ameaça contra o Ronald. Vou na delegacia e vou expor as fotos e os nomes de todas as pessoas próximas ao @netocoutinhotatoo que estão vindo ao meu direct, tentar tirar o resto de sanidade que me resta, tentando me desestabilizar. Também vou expor os seguidores do netocoutinhotatoo que estão praticando crimes de racismo contra mim e contra a minha religião”.

O tatuador Neto Coutinho conquistou o segundo lugar na categoria Portrait na Competição Tattoo Week, em São Paulo, em outubro, com a tatuagem do rosto de Ayo, filho de Preta. A categoria abrange reprodução de retratos de uma ou mais pessoas em primeiro plano. A tatuagem foi realizada tendo como base a fotografia de Ayo, feita com autorização da família pelo fotógrafo Ronald Santos Cruz. Doze dias após ter descoberto que era de seu filho a tatuagem premiada, Preta ainda espera descobrir quem é a pessoa que tem a imagem em seu corpo.

Para Preta, é preciso que fotógrafos e tatuadores mudem a postura em relação à forma como retratam pessoas:

— Muito me incomoda quando vejo pessoas entrarem em comunidades e fotografarem crianças. Depois, as fotos vão parar em festivais e premiações sem sequer a família ficar sabendo. É a questão de ter nossos corpos violados como se fosse foto de ninguém. Acham que não vai dar em nada porque é criança preta, filho de mulher de favela ou criança do continente africano. Se eu não tivesse visibilidade por ser mãe de santo e ativista, ninguém ficaria sabendo disso.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Tattoo Week informou que só foi procurada pela mãe da criança nesta sexta-feira, dia 2, e que as tratativas devem prosseguir na próxima semana.

O advogado Gabriel Rodrigues, que representa Neto Coutinho, informou que “o posicionamento oficial do artista encontra-se fixado em seu Instagram” e que o tatuador “se reservará ao seu direito de silêncio”.

Leia a nota na íntegra:

“O artista Neto Coutinho vem através do presente comunicado posicionar-se oficialmente acerca da tatuagem em que retrata a imagem de uma criança, a qual teve intensa repercussão na data de 28/11/2022.

Assim sendo, o referido se retrata expressamente sobre a reprodução da fotografia efetuada por Ronald Santos Cruz. No que se refere à criança representada pela tatuagem, o artista Neto Coutinho encaminha seu profundo pedido de desculpas, principalmente aos pais, familiares e à própria criança.

Há de se evidenciar que, no caso em apreço, o artista Neto Coutinho pautou a execução da tatuagem sem o nível de informação necessária, reconhecendo o equívoco cometido, mas – sobretudo – sem qualquer intenção de trazer prejuízo para quem quer que seja.

A par disso, assenta-se o total interesse e disponibilidade de o artista em menção resolver possíveis pendências juntamente com o fotógrafo e com a genitora da criança representada na imagem, principalmente diante da importância de todas as questões que circundam o caso.

Em seu turno, o artista Neto Coutinho também se retrata frente à comunidade preta, a qual – inclusive – faz parte, basta uma breve análise de sua fisionomia/traços através de fotos em seu perfil do Instagram.

De fato, a jornada de qualquer pessoa é marcada por erros e acertos, de modo que – por parte do artista Neto Coutinho – haverá um canal contínuo de diálogo junto aos envolvidos para a minimização de eventuais danos sofridos.”

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