O menino de 12 anos que sofreu racismo em uma escola de São Caetano do Sul, em São Paulo, chegou da aula e perguntou se a situação que passou era realmente um caso de racismo, diz a mãe dele, Patrícia Santos.
— Ele chegou da escola dizendo que queria me contar algo que aconteceu. Perguntou: “Mãe, isso foi racismo, não foi? — explica a empresária.
Segundo a mãe da criança, ele estava na escada e descia para o intervalo quando encontrou o outro garoto. Foi nesse momento que o menino perguntou se ele “queria ser seu escravo” e disse que ele “deveria ser seu pet”.
— Na escada, ele começou a dizer: “Ei, deixa eu falar com você. Não quer ser meu escravo? Não quer ser meu pet? — relata.
A escola diz considerar a ocorrência como algo grave. Os pais do jovem foram comunicados da situação. Segundo Patrícia Santos, o garoto negou a fala e o pai disse que ele não faria isso. A família da criança disse, ainda, que se Patrícia seguir com a denúncia, será processada por calúnia e difamação.
— Quero ver o que o município vai ter de atitude, sabe? Estou realmente bem revoltada — diz.
Após ouvir o relato do menino, a mãe decidiu usar as redes sociais para divulgar o caso.
Na publicação, Patrícia relata que não é a primeira vez que um de seus filhos sofre racismo em uma escola do município. A mãe conta que já tinha entrado em contato com a escola e com a Secretaria de Educação outras vezes para cobrar medidas efetivas de enfrentamento do racismo e da aplicação de uma educação antirracista.
“Gente, aconteceu de novo… Mais um caso de racismo na escola dos meus filhos. Dessa vez, uma criança branca falou para um deles: ‘Você não quer ser meu escravo?’, em um tom de ‘brincadeira’. Lá fui eu falar com a escola sobre um currículo antirracista na prática, sobre ferramentas de repertório pros meus filhos, que são negros, e para os brancos. Para terem respeito, para que a educação seja de fato antirracista e a gente possa cumprir a Lei 10.639 de ensino e educação para as relações etnico raciais”, relatou a empresária na publicação.
Em outras publicações, Patrícia rebate falas sobre “vitimismo”, e diz que já formalizou denúncia na escola e nos órgãos de Justiça de São Caetano do Sul. “Tenho exigido da Secretaria de Educação um projeto pedagógico antirracista, e não só sugestões para os professores de como fazer para lidar com o tema (…) Não é vitimismo! Não inventamos o racismo, mas vivemos diariamente e queremos dar um basta”.
A lei 10.639/03 torna obrigatória, desde 2003, a educação de história e cultura afro-brasileiras em todos os currículos escolares de ensino fundamental e médio em todo o território nacional. Em 2008, a lei foi ampliada para o ensino sobre povos indígenas.
A Secretaria de Educação de São Caetano do Sul foi procurada pelo GLOBO, mas não se posicionou sobre o caso até a publicação desta reportagem.