Por: Edson Costa
Está lá nos textos produzidos pelo cientista, pesquisador e intelectual Manoel Quirino, as grandes contribuições de conhecimentos, saberes e fazeres extraordinários produzidos pelos negros no processo civilizatório da primeira capital do Brasil, uma contribuição fantástica para o nosso processo de desenvolvimento, as contribuições elucidadas e descritas, passam pela arquitetura, linguagem, gastronomia, economia, ciência, cultura, arte, matemática, religiosidade, fé, política, lutas históricas, literatura, educação, organização social, organização de classes e tantas outras colaborações que deram a Salvador uma beleza material e imaterial conhecida no mundo inteiro, através de cheiros, música, pinturas, danças, rezas, encantos e tantos elementos de identidade, que traduziram a cidade em Terra da Felicidade, por conta da alegria espontânea do povo negro deste lugar, sempre a sorrir e agirar em suas rodas de samba, de santo e de capoeira.
Todo este legado civilizatório, de nada serviu para reduzir o impacto cruel do racismo orientado pelo Estado, que jogou na marginalidade todos estes conhecimentos, saberes e fazeres, de forma cruel e absolutamente absurda, durante séculos, nenhuma política de educação bem orientada para inclusão destes conhecimentos, nenhuma estruturação do habitat destes cidadãos brasileiros, que se refugiaram em favelas, guetos, becos e pequenas comunidades, abandonados pelas políticas públicas, com se fossem condenados a um crime que não cometeram.
A Cidade de Salvador “desenvolveu-se assim”, sempre destruindo seu povo negro, com se não tivessem eles dados suas contribuições relatadas por Manoel Quirino em suas obras, nos bairros de salvador em um tempo não distante, se não fosse a presença de nossas Mães Pretas a cuidar da saúde de todos, não sei quanto males poderiam ter destruído e acabado com a nossa população marginalizada pelo abandono e falta de investimento, é incrível como a cidade foi ficando cada vez mais desigual e injusta, referendando esta desigualdade a mídia sensacionalista completa nos dias atuais todo processo de marginalização de todos conhecimentos, saberes e fazeres do povo negro, que ainda são em muitos momentos massacrados por alguns pastores e seguidores de Igrejas Evangélicas/Crentes, que discriminam e atacam não só religiosos de Matriz Africana, como todos que pareçam defender as heranças africanas na cultura, na arte e em tantas outras manifestações, tudo foi marginalizado e diabolizado.
Falta de saneamento, educação precária, falta de serviço de saúde, falta de infra estrutura para habitação, transporte precário, pouca formação profissional, falta de oportunidade, invasão do tráfico como organização social que substitui o Estado e o processo de formação de valores de crianças e jovens negros, dão conta de que estamos em uma cidade altamente racista e elitista, onde a violência é seu maior legado, terrível realidade, que pode ser mudada, por que na verdade, muito dos conhecimentos, saberes e fazeres citados por Manoel Quirino em suas obras, continuam vivos nas periferias desta cidade, infelizmente refém do abandono, da violência policial, da violência do tráfico, da violência da falta de oportunidades, da violência da falta de investimentos qualificados a curto, médio e longo prazo, que integre Estado e Mercado, no mesmo espaço de desenvolvimento integrado e sustentável, com ações estruturantes, construída com a participação da comunidade, que vive ávida por fazer valer os seus conhecimentos, saberes e fazeres, nas comunidades criativas de baixa renda, onde as viuvas meninas, são marca perversa de um Município, que tem tudo para mudar, basta modificar a priridade de alguns investimentos e chamar a comunidade para participar de forma concerta através de diversos projetos deste processo, que visa a transformação da cidade, certamente que os investimentos nesta direção, reduzirão de forma qualitativa, o que estamos vivendo na cidade de Salvador, onde um jovem palhaço de circo é morto, por que é negro e tem neste momento toda sua família ameaçada, por que deveria nos proteger, por tanto, além dos indíces de violência da nossa cidade, precisamos construir uma grande mobilização de negras e negros, independente de siglas, cores partidárias e outros conteúdos colocados para nos fragmentar, e fazer uma revolução da nossa irmandade, neste momento, onde um novo milênno, nos pede novas iniciativas para construir um novo momento para a Nossa Roma Negra.
Fonte: Discriminação Racial