Marcas do racismo

Discriminação racial será tema de uma série de artigos e reportagens nas próximas edições do Maré de Notícias

Segundo o 14º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2019 cerca de cinco mil crianças e adolescentes tiveram morte violenta no Brasil; 75% das vítimas eram negras. Esse é apenas um dos dados sobre os quais o Maré de Notícias vai se debruçar nas próximas edições, trazendo uma série de artigos e reportagens sobre discriminação racial e seus impactos na sociedade, na economia e na educação. 

Racismo estrutural

Segundo o filósofo Silvio Almeida, o racismo estrutural é um processo histórico em que as desigualdades raciais são naturalizadas nas relações sociais, políticas, jurídicas e econômicas. Ou seja, é um conjunto de práticas, falas e ações que estão entranhadas no dia a dia de uma sociedade. 

Compreender esse mecanismo é essencial para perceber como o racismo afeta a vida dos moradores de favelas e periferias — sobretudo porque a maioria é composta por pessoas que se autodeclaram negras ou pardas. 


Esse tipo de preconceito internalizado se manifesta quando, por exemplo, uma pessoa negra é perseguida em um shopping ou loja; é acusada de roubo ou furto sem provas; sofre uma abordagem truculenta da polícia somente por ser negra, principalmente quando se está em uma favela. 


Além de filósofo, Almeida é advogado tributarista, professor universitário e autor do livro Racismo estrutural (Editora Pólen). Em entrevista ao canal de notícias CNN, o advogado, que é um dos principais intelectuais negros da atualidade, disse que “o racismo tem mecanismos para funcionar e um deles é fazer com que nós assumamos a culpa por aquilo que o mundo fez com a gente”. 


Para Silvio, o racismo impulsiona a articulação de operações e a violência policial contra moradores desses locais. 


“As relações sociais no Brasil e no mundo são atravessadas pela naturalização do racismo. Essa naturalização, porém, só é possível se você tiver instituições que reproduzam, do ponto de vista ideológico e político, essas relações permeadas pelo racismo. O Judiciário e o Ministério Público são coniventes com a violência policial e com o desrespeito à Constituição. É mandado de busca e apreensão coletivo, é policial entrando nas favelas e metendo o pé na porta sem mandado. Precisamos falar sobre a polícia e como a violência policial só atinge os parâmetros porque existe uma relação entre a ação da polícia, o Ministério Público, que fecha os olhos ou dá amparo para que os agentes ajam de maneira violenta, e o Judiciário, que depois confirma [essas ações]”, afirmou, em agosto de 2020, em entrevista ao site de notícias El País Brasil

+ sobre o tema

Polícia identifica suspeito de insulto racista contra Fred Ferreira

O jornalista Fred Ferreira, da TV Globo, publicou no perfil...

USP pede cancelamento de audiência sobre cotas, dizem ONGs

Encontro com entidades do movimento negro estava marcada para...

para lembrar

Comunicado do Colégio Anhembi Morumbi sobre o caso de racismo e a ‘boa aparência’

do Colégio Internacional Anhembi Morumbi para o Portal Geledés  ...

Noites paulistanas

Três garotos negros parados por policiais... E a surpresa...

Que país é esse?

Os novos dados sobre pobreza divulgados pelo IPEA falam...

O Racismo recreativo não é piada

No Dia Nacional de Combate ao Racismo, queremos lembrar...
spot_imgspot_img

Elites que se tornaram uma caricatura

Em salões decorados com obras que ninguém sabe explicar e restaurantes onde o nome do chef vale mais que o sabor da comida servida, uma parte da elite...

Festa de São Jorge é a utopia de um Rio respeitoso e seguro

Poucas celebrações são mais reveladoras da (idealizada) alma carioca e, ao mesmo tempo, do fosso de brutalidade em que nos metemos. Todo 23 de...

Belém e favela do Moinho, faces da gentrificação

O que uma região central de São Paulo, cruzada por linhas de trem, a favela do Moinho, tem a ver com a periferia de Belém, sede...
-+=