Marcha do Empoderamento Crespo leva autoestima a mulheres do Nordeste de Amaralina

Para Naira Gomes, mais do que uma questão econômica, assumir o crespo é uma forma de se sentir bem com o próprio corpo

Por Gil Santos Do Correio24Horas

Cuidar dos cabelos nunca foi tão fácil e tão barato, ao menos, é o que pensa a antropóloga Naira Gomes, 29 anos. Até os 16, ela desembolsava mais de R$ 100 todo mês em cremes alisantes. Hoje, são R$ 25 e criatividade.  “Descobri que poderia substituir uma prateleira cheia de cremes por apenas um, que misturo com açúcar para deixar meu cabelo mais sedoso. Descobri isso com o tempo, experimentando”, diz.

Gomes foi uma das palestrantes da Marcha do Empoderamento Crespo, realizada na Associação de Moradores do Nordeste de Amaralina, na tarde de ontem. Para ela, mais do que uma questão econômica, assumir o crespo é uma forma de se sentir bem com o próprio corpo.

A estudante de Psicologia Veluma Oliveira, 21, tem péssimas lembranças da infância. O uso do ferro no cabelo deixava o couro cabeludo machucado, a chapinha quebrava os fios e os elásticos apertavam demais. Mas, as feridas eram mais profundas.

“Na escola, recebia apelidos como ‘nega maluca’ ou ‘cabelo duro’ e isso doía. As princesas nos livros tinham o cabelo liso e as professoras só achavam lindo os cabelos lisos. Foram muitos anos de sofrimento”, contou emocionada, enquanto segurava uma das tranças do dread. Ela saiu da Liberdade para participar do evento.

Adultos e crianças lotaram o espaço para assistir às palestras, aprender a fazer turbantes e pinturas afros. Teve também contação de história. Emilly Almeida, 10, exibia seu black power com todo orgulho. “Minha irmã que fez. Eu uso desde os 7 e acho lindo”, contou.

RTEmagicC_MarchaCrespo1.jpg

A coordenadora do evento, Hilmara Bitencourt, 22, garante que essa é mais que uma tendência, é uma questão de identidade: “Trata-se de autoestima. De olhar no espelho e se reconhecer, sem precisar forçar o seu cabelo a ser o que não é”. A atração musical ficou por conta do grupo Quabales.

A Marcha realiza atividades em bairros e escolas. Interessados entram em contato pelo e-mail [email protected]. O lema é: “Cabelo crespo não é moda, é nossa luta, resistência e história!”.

+ sobre o tema

Brasileira vai a ONU para denunciar casos de racismo no país

A brasileira Lúcia Xavier, coordenadora geral da ONG Criola,...

Três mulheres dividem o Prêmio Nobel da Paz de 2011

Três mulheres- a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf,...

A culpa é das vítimas. Os crimes de motivação homofóbica no Brasil

A CULPA É DAS VÍTIMAS "Será que tem culpa o...

Debate sobre questões de gênero nas escolas ganha reforço

Secretaria da Mulher irá transferir tecnologia ao Centro Judiciário...

para lembrar

Idosos LGBTQIA+ são tema de exposição no Rio de Janeiro

A trajetória de idosos da população LGBTQIA+ e a...

Não foi boto Sinhá: a violência contra a mulher ribeirinha

Tajá-panema chorou no terreiro e a virgem morena fugiu no...

‘Sou sapatão e não um mesclado de estereótipos’

‘Depois de um tempo descobri que tipo de sapatão...

O dia em que o judo venceu o racismo

Depois de ter sofrido uma onda de críticas e...
spot_imgspot_img

Pesquisa revela como racismo e transfobia afetam população trans negra

Uma pesquisa inovadora do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans), intitulada "Travestilidades Negras", lança, nesta sexta-feira, 7/2, luz sobre as...

Aos 90 anos, Lélia Gonzalez se mantém viva enquanto militante e intelectual

Ainda me lembro do dia em que vi Lélia Gonzalez pela primeira vez. Foi em 1988, na sede do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), órgão...

Legado de Lélia Gonzalez é tema de debates e mostra no CCBB-RJ

A atriz Zezé Motta nunca mais se esqueceu da primeira frase da filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez, na aula inaugural de um curso sobre...
-+=