Marginalização dos adolescentes pobres é o maior motivo de alta taxa de assassinatos, dizem especialistas

Por: Mônica Ribeiro e Ribeiro

 

Ineficácia de políticas sociais e de inserção no mercado de trabalho facilita a violência

A marginalização dos adolescentes pobres é o principal fator que provoca a morte precoce de adolescentes entre 12 e 18 anos no país, segundo especialistas em violência ouvidos pelo R7. Nesta quarta-feira (8), um estudo divulgado em Brasília (DF) revelou que , até 2013, 33 mil adolescentes nesta idade devem ser assassinados. O PRLV (Programa de Redução de Violência Letal contra Adolescentes e Jovens) foi elaborado pelo Observatório de Favelas em parceria com o Governo Federal, e levou em consideração dados de 2007.

Para o doutor em sociologia da Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Rogério Baptistini, a dinâmica social excludente promove a maior taxa de homicídios entre jovens.

– A impossibilidade de incorporação dos chefes de família promove a desarticulação no mercado de trabalho. Os jovens e adolescentes ficam entregues às ruas. Os próprios meninos, na rua, não são apenas vítimas da violência, mas também agentes.

Segundo ele, a falha nas políticas sociais facilita a ida de jovens tanto para o tráfico de drogas quanto para o que é denominado como violência residual, que é caracterizada por pequenos furtos e roubos.

Para Baptistini, a maior incidência de morte entre meninos – segundo o estudo, os garotos têm 9,5 mais chances de serem assassinados do que as meninas – está relacionada à formação cultural brasileira, que é patriarcal.

– As meninas são estimuladas a cuidar da casa e dos irmãos. É um dado de formação cultural, nada tem a ver com gênero. Já os meninos são mais livres. Mas isso não significa que a diferença dos sexos vá diminuir. Hoje, as meninas também estão ocupando as ruas e se aventurando. No Nordeste, há um grande índice de violência pela exploração sexual infantil.

Herança histórica

Para a pesquisadora em violência e adolescência da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Maria da Graça Gonçalves, o maior índice de morte, apontado no estudo, entre adolescentes negros (que é 3,7 vezes maior em relação ao dos brancos) também está ligado ao processo histórico do país.

– Vivemos numa sociedade em que há um racismo enraizado. O fim da escravidão não concluiu a integração dos negros na sociedade, e essa segmentação perdura na sociedade brasileira. Os negros ainda estão nas camadas mais pobres da sociedade.

Levantamento

O estudo, que também teve a contribuição da Unicef e do Laboratório de Análises de Violência da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), foi baseado em mortes provocadas por armas (de fogo e brancas) e outros meios.

O levantamento foi feito em 266 municípios com mais de 100 mil habitantes, com jovens entre 12 e 18 anos. Pelo levantamento, 2,67 adolescentes a cada grupo de mil pessoas devem morrer por homicídio antes de completar 19 anos.

 

 

Fonte: R7

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