Maria Rita Kehl encerra o 1º Ciclo de Debates do Fórum Direitos e Cidadania

A psicanalista e escritora Maria Rita Kehl ministrou na quinta–feira (6/10) palestra com o tema “Os emergentes e o ressentimento – existe um fosso entre a emancipação econômica e a inclusão social?” encerrando o 1º Ciclo de Debates do Fórum Direitos e Cidadania, promovido pela Secretaria-Geral da Presidência da República. O evento aconteceu no Palácio do Planalto, em Brasília com as presenças dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Garibaldi Alves (Previdência Social), Luiza Bairros (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), Iriny Lopes (Secretaria de Políticas para Mulheres) e Vitor Ortiz, secretário-executivo e ministro em exercício da Cultura.

O tema ressentimento é objeto de estudo de Maria Rita Kehl, decorrente da prática de atendimento no consultório. Segundo ela, ressentimento não se confunde com outros tipos de dor moral. Entre as características mais marcantes, o ressentido acha que a vingança dele é colocar a culpa no outro e mais, a pessoa quer se manter sempre em situação de queixa, afirma a psicanalista.

“Como o ressentimento social pode ser patologia da modernidade?”, indaga Maria Rita Kehl, esclarecendo que na modernidade pós direitos humanos há um estatuto que afirma que todos são iguais perante as leis, com direitos iguais. Entretanto, quando uma sociedade diante desse estatuto acha que tem direito e na prática não tem, tal fato gera ressentimento, afirma a psicanalista. Ela alerta que “mesmo um governo progressista não poupa classes sociais da luta pelos seus direitos”.

Maria Rita Kehl afirma que “a ascensão de classes sociais, quando vem por política econômica, parece benefício concedido ou mérito individual”. A nova classe média emergente que não reconhece a ascensão decorrente de políticas econômicas pode sofrer de ressentimento social, disse, “já que a inclusão econômica não implica em inclusão social”, conclui. E sugere a adoção pelo governo de um discurso que politize a política desenvolvimentista.

Por outro lado, Maria Rita vê ressentimento por parte da elite, acostumada com direitos vistos como privilégios e que se sente ameaçada pela nova classe média. Ela cita como exemplo o preconceito visível na época do chamado caos aéreo, em 2010. Em entrevistas a canais de televisão, membros da classe média alta reclamavam do estado dos aeroportos que, segundo eles “pareciam rodoviárias”. Em grande parte, as reclamações eram contra a nova classe média que começava a usar o transporte aéreo, afirmou.

O Ciclo de Debates do Fórum tem como proposta analisar a recente mobilidade social brasileira não apenas em seus aspectos econômicos e sociais, mas também nas transformações que vem desencadeando na sociedade no que diz respeito aos seus valores, expectativas e símbolos. A palestra de Maria Rita Kehl fechou o ciclo de debates de 2011. Os palestrantes anteriores foram com o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann e com a filósofa e professora da USP, Marilena Chauí. Direitos e Cidadania.

O Fórum Direitos e Cidadania é um dos quatro fóruns temáticos que estruturam a gestão da administração Dilma Rousseff – os demais são: Desenvolvimento Econômico; Gestão, Infraestrutura e PAC; e Desenvolvimento Social e Erradicação da Miséria. O Fórum é a instância que promove a articulação política e gerencial, no âmbito do governo federal, das prioridades para a garantia e expansão dos direitos que materializam, fortalecem e ampliam a cidadania brasileira. Tem por finalidade debater, propor e articular ações de governo relacionadas à redução da desigualdade, à valorização da diversidade sociocultural e étnica, à garantia dos direitos humanos e ao fortalecimento dos valores de cidadania e da autonomia das pessoas com vistas ao fortalecimento de suas capacidades para o exercício dos seus direitos.

Compete ao Fórum Direitos e Cidadania promover a pactuação de prioridades e monitorar o alcance das metas do governo associadas a essa temática para o período 2011-2014. O Fórum Direitos e Cidadania é coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, de forma compartilhada com as Secretarias de Direitos Humanos, de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e de Políticas para as Mulheres e pelos Ministérios da Cultura e do Esporte. É composto, além daqueles citados anteriormente, por 15 ministérios (Justiça; Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Educação; Desenvolvimento Agrário; Saúde; Trabalho e Emprego; Comunicações; Meio Ambiente e Pesca e Aquicultura), seis empresas estatais (Banco do Brasil, Caixa, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Petrobras, Eletrobrás e Correios), bem como pela Fundação Nacional do Índio, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas/MJ e pelo ‘Sistema S’.

Suas atividades vêm sendo desenvolvidas com foco em duas linhas de trabalho. A primeira é voltada para a definição das ações que integrarão a Agenda Direitos e Cidadania, que está estruturada em quatro eixos: Participação social e democratização da gestão pública; Brasil de paz, sem violência; Igualdade, diversidade e garantia de direitos; e Desenvolvimento, sustentabilidade e cidadania. A segunda está relacionada ao aprofundamento do debate sobre os valores de cidadania diante das mudanças recentes na realidade socioeconômica brasileira: os valores e as expectativas que movem a sociedade em nossos dias, bem como as demandas e prioridades impostas ao Estado em decorrência desses valores e expectativas.

Fonte: Secretaria Geral

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