Marina abandona ideias de campanhas anteriores do PV

Por: BERNARDO MELLO FRANCO

 

Descriminalização da maconha e do aborto, fim do serviço militar obrigatório, criação de “ecotaxas” para coibir o consumo de gasolina e a produção de automóveis.

Estas são algumas bandeiras que marcaram as duas primeiras candidaturas do PV à Presidência, mas foram descartadas pela campanha de Marina Silva em 2010.

 

À exceção das causas ecológicas, as diretrizes do programa de governo da senadora pouco lembram as plataformas de Fernando Gabeira, em 1989, e Alfredo Sirkis, em 1998. Os dois receberam menos de 1% dos votos.

 

Apresentado por Marina anteontem, o documento “Juntos pelo Brasil que queremos” evita polêmicas que possam contrariar o eleitor conservador, os militares ou as convicções religiosas da candidata, que é evangélica.

 

Na área econômica, promete manter a política vigente e condena a criação de novos impostos, num aceno a empresários e doadores.

 

MACONHA

A liberação da maconha, defendida por Gabeira em 89 e prevista até hoje no programa do PV, foi um dos itens “esquecidos” por Marina.

 

Sua plataforma tem uma única frase sobre o tema, sem citar a droga ou emitir opinião: “Discutir com a sociedade a política de drogas e investir no esclarecimento, na prevenção e no tratamento dos dependentes”.

 

A descriminalização do aborto, prevista na primeira campanha verde e no documento partidário, também sumiu da pauta. Em entrevistas, a candidata sugere um plebiscito sobre o assunto.

 

Na primeira eleição direta para o Planalto após a ditadura, Gabeira aparecia na TV entre tanques e canhões para defender o fim do serviço militar. O alistamento segue obrigatório, mas a causa nem sequer é mencionada na cartilha verde de 2010.

 

Ao justificar a mudança no discurso do PV, Sirkis sugeriu que as campanhas anteriores não foram para valer: “Minha candidatura foi para tornar o partido mais conhecido. Nem nos sonhos mais delirantes passou pela nossa cabeça a ideia de ganhar”.

 

“As diretrizes de Marina têm componentes de sonho, mas é um sonho factível”, acrescentou ele.

 

Candidato ao governo do Rio, Gabeira disse ter usado a disputa presidencial de 89 para divulgar teses “ligadas ao Parlamento”. “Na verdade, nenhum partido resolve essas questões”, reconheceu, 21 anos depois.

 

“O PV tinha pretensões minoritárias e agora está introduzindo questões que preocupam o cidadão comum. Mas não há uma distância tão abissal entre o presente e o passado”, afirmou.

 

Na terça-feira, Marina não quis comentar a guinada na plataforma verde. Ontem, o coordenador da campanha de Marina, João Paulo Capobianco, disse à Folha que o partido só mudou em temas “não estruturais”.

 

“São coisas diferentes. O programa do PV mantém várias dessas questões que se chamam de libertárias. Visões do partido que não são consideradas estratégicas não precisam estar na plataforma de governo”, afirmou.

 

Ele também invocou a “cláusula de consciência” introduzida no programa do PV em agosto de 2009, quando a senadora se filiou ao partido. O objetivo da alteração foi permitir à futura candidata à Presidência divergir da sigla por razões religiosas.

 

Sobre o sumiço das “ecotaxas”, previstas no programa de Sirkis e rejeitadas pelo empresariado, Capobianco disse: “Queremos induzir práticas sustentáveis, mas sem aumentar impostos”.

 

 

Fonte: Folha de S.Paulo

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