Martinho da Vila comemora desfile como enredo na Vila Isabel: ‘A gente é quase uma coisa só’

Enviado por / FontePor Gabriela Sarmento, do G1

Sambista de 84 anos é enredo da escola do coração neste sábado (23) e desfila em ala com família e amigos

Martinho da Vila está acostumado com toda a agitação do carnaval desde os anos 60, mas o desfile da Unidos da Vila Isabel tem um gostinho diferente neste ano.

O sambista de 84 anos e presidente de honra da escola será homenageado com o enredo “Canta, Canta, Minha gente! A Vila é de Martinho” no desfile deste sábado (23).

Da mesma maneira que está feliz, Martinho, com toda tranquilidade que lhe é característica, se diz um pouco tímido de ser o centro das atenções.

“É diferente para chuchu ser enredo, porque eu estou acostumado a criar enredos e a fazer samba enredo, mas não ser o enredo. É uma honraria rara, mais impressionante ainda porque é na minha própria escola”, diz.

Martinho conta que preferia assistir ao desfile “de camarote”, mas vai sair no chão em uma ala com 140 familiares e amigos importantes para a sua carreira na música e no carnaval.

“Eu e Vila Isabel a gente é quase uma coisa só… Para mim, ela é como uma menina que eu ajudei a criar, a crescer, adotei e depois adotei o nome dela no meu”.

“Todo lugar que vou, eu falo da Vila Isabel. Eles também falam de mim o tempo inteiro, tem busto na entrada da escola, agora vou ser enredo. É uma beleza, é muito bom assim né?”, comenta.

Segundo o carnavalesco Edson Pereira, celebrar a vida e obra de Martinho é um desejo antigo da Vila Isabel.

O sambista já se envolveu em três enredos campeões da escola. Em 1988, ele participou da escolha do tema “Kizomba, festa da raça” e “Soy Loco Por ti América A Vila Canta a Latinidade” em 2006.

Ele também é um dos compositores de “A Vila canta o Brasil celeiro do mundo”, samba campeão de 2013.

O desfile da Vila é o último do Grupo Especial do sábado, às 3h da manhã, e um dos mais aguardado deste carnaval carioca.

Animado com a retomada

O músico Martinho da Vila é homenageado pela escola de samba Unidos de Vila Isabel. (Foto: Leo Martins / Agencia O Globo)

O compositor e cantor de Duas Barras, no Rio de Janeiro, ficou recluso na pandemia, mas teve tempo de escrever e produzir o álbum “Mistura Homogênea”.

No novo trabalho, Martinho fala sobre o amor pela poesia, canta diferentes religiões e tem a proposta de encontrar antigos parceiros, como Zeca Pagodinho, e artistas novos que descobriu através dos netos, como Djonga.

É com esse trabalho que ele volta aos palcos após mais de dois anos e se diz com mais energia do que em anos atrás.

“O palco tem uma energia… Em um show, eu não estou sozinho porque tem o público. Então, eles estão mandando uma energia para mim e eu mandando para eles. É uma troca, ainda estou bem energizado”.

“Antes, eu era mais devagar do que hoje. Por exemplo, em uma entrevista dessa você não ia arrancar nada de mim. Eu tinha preguiça até de falar, hoje já sou uma falastrão”, brinca.

“Mistura Homogênea” chegou a ser anunciado como o último álbum da carreira, mas Martinho repensou essa ideia com um empurrãozinho da gravadora, segundo ele.

“Eu vou fazer músicas esparsas e lançar, mas vou fazer [disco ] também. Falando isso com a minha gravadora, o presidente Paulo Junqueiro me disse que eu tinha que fazer álbum inteiro, mas ir colocando aos poucos na internet”.

Até porque parar de compor ou de fazer shows não é uma opção para Martinho: “Barco parado não faz frete, já diz um dito popular”.

Com uma discografia com mais de 50 álbuns, Martinho viveu fases áureas do samba, mas mesmo assim sofreu preconceito. Aos 84 anos, ele analisa como o gênero é visto hoje em dia.

“Nos anos 60 por aí, início dos 70 era tudo muito setorizado. O pessoal que fazia um tipo de músicas não lidava com o outro. Uma vez eu fui em um concerto de rock e as pessoas ficavam olhando e falando ‘O que que ele tá fazendo aqui?'”, lembra.

“Agora, está tudo misturado, então fazer samba agora é mais legal. Quase todas as grandes estrelas cantam samba, de todos gêneros e tal até do rock. O samba foi lá atrás muito perseguido, tem aquela história tradicional, mas foi resistindo, foi conquistando e, hoje, no Brasil, tudo acaba em samba”.

Família no álbum, na avenida e na música

A festa de Martinho na Sapucaí vai ser em família. Filhos e netos devem estar com o anfitrião na avenida para acompanhar a justa homenagem que receberá.

No álbum, ele também canta com filhos e netos em várias faixas como “Muadiakime/Semba dos Ancestrais”, “Sim Senhora” e “Odilê Odilá”.

O sambista diz que não é daquele tipo de pai que fica em cima para que a família siga os seus passos, mas não nega que sente orgulho da família que continua o legado que construiu na música.

“Sou contra isso, mas acabava puxando eles para botar em alguma coisa, fazer um corinho ali comigo e eles seguiram. Por sorte, eles são muito talentosos, então acho bem legal”. Sorte, né, Martinho?

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