Médicas Pretas

Hoje, dia 18 de Outubro é comemorado o Dia da(o) Médica(o).

Do Tudo de Preta 

Eu, particularmente nunca fui atendida por uma médica preta ou médico preto. E olha que são 29 anos de muitas idas à clínicas e hospitais, além de ter passado minha infância toda no posto de saúde onde minha trabalhava como auxiliar de enfermagem. Por ser o maior posto de saúde da América Latina, haviam diversos profissionais, então oportunidade de conhecer médicos em que me espelhasse não faltou.


Na época, isso nunca me causou incômodo, porém, atualmente mesmo procurando por uma ginecologista preta, tenho dificuldade em encontrar. 

Meses atrás fiz esse questionamento no meu perfil do facebook e tiveram algumas colegas que não entenderam o porquê, e, sim, eram moças também pretas que não compreendem a nossa necessidade de sermos atendidas por profissionais da saúde que são da nossa etnia.
Mulheres pretas são as que mais sofrem negligência e abuso em atendimentos médicos.  Não recebem anestesia e medicamentos quando necessário em momentos de dor, aguardam mais tempo nas filas mesmo quando chegam antes, além do racismo escancarado quando profissionais da saúde em atendimento, afirmam que somos mais resistentes a dor que mulheres brancas.

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No ano passado o Governo Federal lançou uma campanha contra o racismo no SUS.

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, afirmou que a campanha tem como objetivo o enfrentamento da discriminação institucional e o reforço à Política Integral de Saúde da População Negra. “Não podemos tolerar nenhuma forma de racismo. Essa campanha é um alerta para os profissionais de saúde e para toda a sociedade brasileira. A desigualdade e preconceito produzem mais doença, mais morte e mais sofrimento. Nós queremos construir um país de todos e a maneira mais importante é falar sobre a desigualdade”, disse. O ministro ressaltou que o racismo se manifesta, muitas vezes, “em uma negativa do acesso, da informação adequada, e do cuidado”.(Fonte: Campanha mobiliza população contra racismo no SUS)

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Diante desse contexto, me questionei do porquê o tratamento é tão desumanizado e em contra partida por que é tão raro encontrarmos profissionais pretas e pretos na área de Medicina?

Médicas pretas da vida real

Apesar de não ter conhecido nenhuma médica ou médico preto, tempos atrás via facebook conheci a Dra Júlia Rocha. Uma preta, moradora de Minas Gerais, Médica da Família que atende seus pacientes de uma forma tão humanizada e carinhosa que contando ninguém acredita(sem querer diminuir os demais profissionais, mas diante do contexto do atendimento médico que estamos habituados, ver médicas que tratam seus pacientes de forma correta, chega a ser um choque.)

Júlia sempre relata seus casos em seu perfil do e emociona quem os lê.

Para minha surpresa, algumas nesses dias conheci mais duas médicas pretas. DraMaysa Teotonio Simão, que também é de Minas e Médica da Família, porém atua na Bahia, e Dra Inaia Saraiva, reside no Rio de Janeiro e atua como Médica da Família, especialista em pediatria.

Um amigo me falou de sua mãe, Dra Zuleide Melo, que é Médica especialista em ginecologia, porém mora e trabalha em Pernambuco. :(

A queridinha das famosas pretas

Outra profissional maravilhosa, famosa entre os artistas, linda e dona de um sorriso cativante é a Dra Katleen Conceição.

Katkeen é Dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro e Membro da Sociedade Brasileira de Laser, ela iniciou sua carreira como estagiária na Santa Casa de Misericórdia e fez pós-graduação na Universidade Federal Fluminense, onde ficou por quatro anos à frente do ambulatório de acne e peeling. O pai, também médico, além de coronel do exército, exerceu forte influência por sua escolha profissional. De família estruturada – cultural e financeiramente – Katleen teve a oportunidade de estudar em bons colégios, frequentar bons restaurantes, se vestir bem (o pai sempre a orientou nesse sentido), mesmo assim, constantemente é vítima de olhares desconfiados daqueles que não conseguem enxergar (ou não aceitam) um profissional negro e supercompetente (ainda mais na área médica). Quanto a isso, Katleen dá de ombros, pois hoje, não precisa provar nada a ninguém.

katleen

Referência na área (ex-chefe do primeiro Ambulatório de Dermatologia da Pele Negra, no Hospital Federal de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, onde atendia pessoas carentes), é também a queridinha dos artistas e craque quando o assunto é peeling e, principalmente, laser para a pele negra. (Fonte: A especialista)

Quem tiver interessa pelo atendimento da Dra Katleen, segue abaixo seus telefones para contato:

Rio de Janeiro 21-22749629/21-22749284/São Paulo 11-32941957

Racismo na medicina

Débora Reis, 29 anos, estudante do curso de Medicina da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) de Santo Antônio de Jesus relatou em sua página pessoal no Facebook um episódio em que foi vítima de racismo.

A jovem revela que, na tarde da última sexta-feira, 3, uma senhora que estava ao seu lado na fila de um correspondente bancário iniciou um diálogo: “Você estuda história? É impressionante como a carreira define a pessoa…”, questionou.

Eu não, faço medicina”, respondeu Débora. “Minha nora também faz medicina, mas ela tem cabelos lisos, olhos claros e é bem branquinha”, rebateu a senhora.

Por que a pergunta? Não pareço fazer medicina por não ter cabelos lisos e ter cara de pobre?”, questionou a estudante. “Não, porque geralmente quem faz esses cursos se veste de outra forma e hoje em dia até filho de faxineiro pode estudar”, respondeu, sem graça, a senhora.

Ainda em seu relato, Débora revela que se sentiu machucada com o diálogo e chegou a chorar. “Ao ouvir a declaração de que seres humanos, por serem negros, não têm cara de médico, doeu e eu chorei”, desabafou a jovem.(Fonte:Estudante de Medicina sofre racismo por ‘não ser branquinha de cabelos lisos’).

Ariana Reis, 32 anos, chegou ao fim de 14 anos dedicados à universidade: três de preparação para as provas de acesso, cinco do curso de Pedagogia, seis do de Medicina. No convite para a cerimônia de formatura, terminava com o seguinte: “Sou mulher, sou negra, sou da favela e hoje sou médica.”.

Porque “é difícil”. Porque Ariana é a grande exceção num Brasil onde é raro encontrar-se médicos negros nos hospitais. A “caçula” de 12 irmãos foi a primeira a ir para a universidade. Era a única mulher negra da sua turma na Faculdade de Tecnologia e Ciências da Bahia. Em seis anos a estudar Medicina, cruzou-se com apenas duas estudantes negras de outros anos. “Nos hospitais sempre me confundem com a menina que limpa o chão. Se cai qualquer coisa: ‘Você vem aqui, pega o pano, limpa.’ Quantas vezes eu já ouvi isso? Muitas vezes. [Olham para mim]: ‘Ah, é a enfermeira, a técnica.’ Se estou sentada lá na mesa — sabem que é um médico que está ali na mesa — [perguntam]: ‘É você? Ah…’” E Ariana responde: “Vou chamar a pessoa responsável por isso.” Ou então mostra o distintivo na bata: “Está aqui, sou médica.”. (Fonte: Sou mulher, sou negra,sou da favela e hoje sou médica)

Apesar de todas essas intempéries, reverencio todas as médicas que citei e todas as demais.

Parabéns à todas profissionais Médicas de Pele Preta. #UBUNTU

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