Quando um grupo de brasileiros irritado vaiou os nadadores norte-americanos campeões olímpicos Gunnar Bentz e Jack Conger, os chamando de mentirosos e dando um peteleco na orelha de um deles, os jovens atletas pareceram chocados com a reação raivosa.
Por Daniel Flynn e Brad Brooks Do Extra
Do que eles pareceram não se dar conta foi que a história inventada sobre como eles e dois colegas de equipe haviam sido assaltados e ameaçados com um arma –supostamente contada para encobrir um ato de vandalismo em um posto de gasolina do Rio– tocou em uma ferida aberta no Brasil.
O brasileiro, apesar de profundamente orgulhoso do país, sabe perfeitamente dos seus problemas: corrupção, pobreza e violência, entre outros. E normalmente olha para os Estados Unidos com uma mistura de respeito, admiração, inveja e ressentimento.
A relação complicada já levou a episódios envolvendo norte-americanos que desafiaram a lei brasileira, provocando indignação. O escândalo dos nadadores se encaixa na visão típica brasileira dos “norte-americanos desagradáveis”.
“O Brasil é um país que já tem um complexo de inferioridade quando o assunto é os Estados Unidos”, afirmou Esther Solano, uma socióloga da Universidade Federal de São Paulo, em visita ao Rio para os Jogos.
“Então as pessoas se sentem vulneráveis e irritadas quando norte-americanos vêm aqui e agem como se pudessem fazer o que quisessem, sem respeito pelas leis ou pelas pessoas.”
Em 2009, quando o Brasil foi escolhido para sediar os Jogos, a economia estava indo muito bem. O então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o fato mostrava que o Brasil havia se tornado um país de “primeira classe”.
No entanto, os preparativos para os Jogos foram afetados por uma grave crise política e pela pior recessão econômica das últimas décadas, agravada pelas investigações de corrupção da operação Lava Jato, além das críticas sobre o fracasso em limpar a Baía de Guanabara.
Depois que alguns assaltos foram registrados durante os Jogos, inclusive a dois ministros de governos estrangeiros, atletas e turistas, e de longas filas nos estádios, as alegações dos nadadores norte-americanos pareceram ser a humilhação final.
Quando a mentira deles foi revelada, a reação imediata de muitos brasileiro foi: “Imagine o que aconteceria se um brasileiro fizesse isso nos EUA?”. Essa foi uma pergunta feita por legiões de brasileiros nas redes sociais nos últimos dias.
“A impressão que dá é que eles chegaram achando que aqui era uma terra sem lei, que iam fazer o que quisesse e que iam sair safos”, disse Marcelo Vieira, de 33 anos, no Parque Olímpico.
Ainda assim, os brasileiros também mostraram o seu bom humor. Memes envolvendo o nadador Ryan Lochte, acusado pela polícia de ser o protagonista do vandalismo e da invenção da história, inundaram o Facebook e o Twitter, muitos o mostrando como o boneco Pinóquio.
“A gente aqui do Rio está acostumado com tiro, assalto, com tudo que tem de ruim”, disse Paulo Henrique Cunha, um contador de 73 anos. “Mas aí vem os gringos e querem inventar que foram roubados? Aí não.”