Apesar dos extremos desafios enfrentados pelas duas chefes de governo, Angela Merkel e Dilma Rousseff ocupam o 1° e 3° lugares respectivamente no ranking do poder feminino estabelecido pela revista “Forbes”.
O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, vê a lista das cem mulheres mais poderosas do mundo, divulgada pela revista Forbes, mais como uma notícia trivial do que “a ser levada realmente a sério do ponto de vista político”. Afinal, da lista encabeçada por Merkel, fazem parte, além da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton (2° lugar), da presidente brasileira, Dilma Rousseff (3° lugar), e da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde (9° lugar), também celebridades como a cantora pop Lady Gaga, de apenas 25 anos.
A Forbes, comenta o semanário alemão Der Spiegel, “não define poder apenas através do dinheiro, mas também em função de posições políticas e sociais, bem como da influência exercida” pelas personalidades em questão. Merkel recebeu os elogios da revista norte-americana, contudo, exatamente depois de ter sido alvo de críticas veementes por parte do presidente alemão, Christian Wulff, e do ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl.
Sinal de alerta
Se aos olhos da Forbes a premiê alemã é vista como “a chefe incólume da União Europeia” e “líder de uma real potência global na Europa”, a mídia interna assinala um momento extremamente delicado para o governo alemão, descrito pela revista Spiegel como “o verão da desilusão: o presidente Wulff repreende a forma como Merkel vem gerenciando a crise do euro e o ex-chanceler federal Kohl, aos 81 anos, fez um acerto de contas com toda a política externa do atual governo. Para a premiê, a pancada dupla é um sinal de alerta, que vai influenciar o debate sobre o curso do euro”.
Interessante é o fato de que a pressão sobre a chefe alemã de governo não vem de fora, nem da oposição, mas de seus correligionários. “Da oposição não chegam contestações. Os ventos contrários sopram a partir de seu próprio partido”, salienta o semanário Die Zeit em artigo sobre a postura de Merkel frente à crise que assola a Europa. A respeito das divergências acerca dos pacotes de resgate do euro, um parlamentar bávaro da União Democrata Cristã (CDU), partido de Merkel, que prefere se manter anônimo, diz ao diário berlinense Der Tagesspiegel: “Não podemos mais explicar tudo isso aos cidadãos”.
Críticas ácidas
Se as ácidas e abertas críticas do presidente Wulff ao Banco Central Europeu e à forma como Merkel vem conduzindo o gerenciamento da crise não surpreenderam, de fato, no cenário político alemão, as declarações do ex-premiê Helmut Kohl à revista Internationale Politik vieram a agravar o clima avesso a Merkel. Segundo Kohl, “a Alemanha deixou de ser, há muito tempo, uma potência calculável – nem do ponto de vista da política interna, nem da externa”. De acordo com o ex-chefe de governo, “temos que tomar cuidado para não colocarmos tudo a perder”.
Os ataques de Kohl à conduta de Merkel foram estampados em praticamente todos os grandes jornais de língua alemã. O conceituado diário Süddeutsche Zeitung chega a mencionar em artigo publicado nesta quinta-feira (25/08) que o país está diante de uma “chanceler federal na berlinda”.
A premiê, por sua vez, defendeu-se tanto frente às críticas do presidente Wulff quanto em relação às observações de Kohl. “Cada tempo tem seus desafios. O governo democrata-cristão-liberal está trabalhando para vencer, com determinação, os desafios da nossa época, junto de nossos parceiros na Europa e no mundo”, disse Merkel ao Süddeutsche Zeitung.
Dilma: terceira do ranking
Já Dilma Rousseff, apontada pela Forbes como “a terceira mulher mais poderosa do mundo”, aderiu, segundo a revista, a “uma abordagem mais pragmática e capitalista” em seu governo e enfrenta hoje “um Congresso Nacional rebelde”. Na mídia alemã, a presidente brasileira mantém-se presente, da mesma forma que seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, mas nem sempre apenas pelo viés do elogio de conduzir a mais forte economia da América Latina.
Entre outros assuntos, os escândalos envolvendo corrupção em Brasília, a recente detenção dos funcionários do Ministério do Turismo, a suspensão da distribuição de material contra a homofobia nas escolas brasileiras, bem como as controvérsias envolvendo a construção da usina de Belo Monte trouxeram Rousseff às manchetes europeias. Apesar de tudo, como salientou o jornal suíço Neue Zürcher Zeitung, em artigo de julho último sobre a corrupção no governo brasileiro, a presidente consegue “manter sua confiabilidade”.
Brasil no cenário internacional
A escolha do nome de Dilma Rousseff pela Forbes reflete, de fato e acima de tudo, a relevância que o Brasil vem ganhando no cenário político internacional. Em artigo recente, o Süddeutsche Zeitung destacou a importância dos países do Bric e o potencial de conflito com as nações industrializadas que essa ascensão gera.
Para o jornal, “essa nova consciência” do Brasil, China, Índia e Rússia “não apareceu de repente”, mas se dá devido à fragilidade crescente das potências ocidentais, ao endividamento dramático sobretudo dos EUA e à luta da União Europeia para sobreviver como instituição.
“O sistema financeiro global, construído pelo Ocidente, está em vias de desmoronar”, alertou o jornal. Enquanto isso, os países do Bric “procuram seus lugares neste mundo, no qual sabedorias antigas esfarelam-se. E eles, hoje, dispõem de uma base econômica para tal”.
Revisão: Carlos Albuquerque