No mês da Consciência Negra, um momento de reflexão

Mônica Francisco

Mês da Consciência Negra, novembro chega com ares de anunciação. Seu vento quente e abafado trouxe notícias duras do Norte. Nossa linda Belém do Pará (re)vivendo a nossa triste Vigário Geral.

Os trotadores da morte, segundo notícias oficiais do Brasil oficial, contabilizam dez mortos, mas o Brasil real, aquele que morre e que sempre perde, nos dá conta de algumas dezenas.

Aqui pelo Sudeste, mais precisamente no nosso lindo Rio de Janeiro, as favelas fervem com tiroteios diários apesar de ocupadas militarmente. E nós vamos torcendo para que o Brasil oficial consiga ter um mínimo de dignidade.

Dignidade essa que cada vez mais posso perceber e você leitor(a) também, causa certa espécie em alguns de nossos compatriotas, que infelizmente pensam viver nos séculos XVIII ou XIX e esquecem que algumas leis aboliram determinadas práticas contra seres humanos. Pio é saber que alguns deles dão aulas em nossas universidades e reiteram publicamente sem a menor vergonha e levando aos píncaros a alheia.

No último dia 4 comemorou-se o Dia da Favela. No próximo dia 20 o da Consciência Negra, para mim deveria ser o de conscientizar sobre o negro e seu papel fundamental na humanidade, como qualquer outro povo e etnia.

Mas, mais do que realizar atos simbólicos, os movimentos negros, parlamentares comprometidos com causas importantes, humanitárias e sociais, deveriam agir com mais incisão sobre a diminuição do racismo institucional, principalmente nas instituições públicas.

É preciso uma discussão profunda sobre a forma e o tratamento da população negra ainda no século XXI. Não podemos permitir que nossos jovens sejam chamados de “menor” em qualquer que seja a situação, e  que jovens brancos e de classe média sejam denominados jovens ou adolescentes.

Nós mulheres negras e negros somos a mulher, a vítima, o homem, o suspeito, nunca em um primeiro momento somos identificadas(os) por nomes.

Pior do que isso é ver tão claramente como, através de água cristalina, o embranquecimento dos postos de trabalho em shoppings, principalmente. Se dermos uma boa olhada, as lojas não têm em sua composição elementos que contemplem nossa diversidade.

Se isso não acontece, tem que ser por força de lei, não há outro jeito. Sem contar as propagandas e anúncios de todos os tipos. O que parece é que a população negra não existe, é a famosa invisibilidade do negro(a).

Mas, apesar de tudo, vamos avançando. Com os olhos bem abertos, até porque, os ventos de novembro chegaram e com eles a realidade da iminente precariedade do abastecimento em nosso estado. E com isso, os moradores de favelas e periferias, em sua maioria negros e negras, são os que mais vão sofrer. Oremos!

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)

 

Fonte: Jornal do Brasil

 

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