Mesmo após ter pago suas compras, cliente é agredido com “mata-leão” em supermercado em São Bernardo

Vídeos de câmeras de segurança obtidos pelo G1 nesta segunda-feira (18) mostram um cliente sendo agredido por funcionários no Carrefour do bairro Demarchi, em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, no dia 20 de outubro de 2018.

 

cliente sendo arrastado por seguranças no Carrefour
Imagens video de camera de segurança / G1

Luís Carlos Gomes tomou uma lata de cerveja dentro da loja e alegou que pagaria pelo item, mas antes disso foi perseguido pelo gerente da unidade e por um segurança, encurralado no banheiro e recebeu um mata-leão na esteira rolante do supermercado (veja vídeo acima).

Luís é negro e deficiente físico. Ele sofreu um acidente, teve múltiplas fraturas, e como sequela de uma cirurgia, tem uma perna mais curta do que a outra. Ele acusa o Carrefour de racismo e discriminação e pede indenização de R$ 200 mil.

Em nota, o Carrefour diz que “a empresa sente profundamente pela situação a qual nosso cliente foi submetido e informa que, logo após rigorosa apuração, os colaboradores envolvidos foram desligados. A rede repudia veementemente qualquer tipo de violência e reforça que, constantemente, realiza treinamentos e reorienta suas equipes, a partir da prática do respeito que exige dos seus colaboradores e prestadores de serviço. A empresa esclarece ainda que permanece colaborando com as investigações.”

Segundo a advogada de Luís, Adriana Jarenco, três funcionários do Carrefour e um terceirizado foram afastados.

Mata-leão, socos e chutes

De acordo com o processo instaurado na 3ª Vara Cível da Comarca de São Bernardo pela advogada Adriana Jarenco, Luís estava na loja da rede Carrefour do bairro Demarchi, em São Bernardo do Campo, fazendo compras na noite de 20 de outubro de 2018 quando, “pelo calor excessivo que fazia naquela noite, resolveu consumir uma lata de cerveja do pacote que estava comprando (sempre carregando consigo a unidade vazia)”.

Veja o vídeo da agressão no site do G1

De acordo com o relato, Luís passou a ser seguido pelo gerente da empresa que o “intimidou, ofendeu, injuriou e caluniou de forma ameaçadora” e disse “Seu vagabundo, você vai ter que pagar por isso, seu ladrão!”.

A vítima teria, então, mostrado ao gerente que tinha dinheiro para pagar suas compras e continuou a fazer suas compras. Em seguida, um segurança teria passado a acompanhar o gerente “e ambos passaram a intimidar o requerente, continuando a persegui-lo, injuriá-lo e ameaçá-lo”. Luís teria, então, se dirigido ao caixa para pagar suas compras. O segurança e o gerente o acompanharam e continuaram a “lhe ofender, ameaçar e humilhar”.

De acordo com o relatado no processo, Luís teria se sentido mal diante das investidas e deixou seus documentos e cartão de banco com a atendente de caixa, informando-a que iria ao banheiro para se recompor, sendo acompanhado pelo gerente de prevenção e segurança da empresa.

Assim que entrou no banheiro do estabelecimento, Luís teria sido agredido fisicamente pelos funcionários do local, que o golpearam com socos nas costelas e o jogaram no chão, onde passaram a lhe atacar com chutes e mais socos. De acordo com o processo, os agressores teriam deixado o local e Luís teria saído em seguida e voltado ao caixa para pagar por suas compras. Depois de pagar, ele teria solicitado a presença do gerente e dito que ligaria para a polícia.

Neste momento, de acordo com o relatado no processo, um segurança atacou Luís com um golpe conhecido como “mata-leão” e o arrastado pela esteira rolante abaixo, acompanhado do gerente, que carregava as compras realizadas por Luís. Ao chegarem ao estacionamento do supermercado, Luís teria sido jogado novamente no chão e recebido ameaças inclusive de conotação racial e discriminatória.

Luís teria, então, sido socorrido por outros clientes do estabelecimento comercial, que intervieram e impediram que a agressão fosse reiniciada. Estes testemunhas teriam presenciado Luís sendo arrastado violentamente e arremessado no chão, e ouvido as ameaças do gerente que teria dito que iria atropelar Luís.

As testemunhas teriam ligado para a Polícia Militar e uma viatura chegou ao local 30 minutos depois. Luís teria ido para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Silvina Ferrazópolis. Lá, Luís fez radiografias do tórax, que não constataram fraturas, e tomou analgésicos por meio de injeção.

Depois de ser atendido na UPA, Luís e as testemunhas seguiram para o 3º DP (Distrito Policial) de São Bernardo do Campo, onde registraram boletim de ocorrência. As testemunhas também prestaram depoimento.

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