Metodologia de ensino voltada para história e cultura africana é desenvolvida em espaços comunitários

Iniciativa: Curso de Educação Popular 

Pública ou Privada: Pública

Descrição: Diante da falta de recursos culturais destinados aos bairros periféricos da cidade de São Paulo (SP), moradores dessas regiões vêm articulando e construindo seus próprios centros culturais, movimentos artísticos independentes e saraus de música e poesia, nos quais trocam as mais diversas experiências que vivenciam em suas comunidades.

Por: Allan da Rosa

 

Inspirado nessa mobilização cultural da periferia, é que, em 2009, nasceram cursos que tinham como  objetivo levar a história afro-brasileira para os bairros periféricos da cidade, em aulas gratuitas, apresentando conceitos para além daqueles apresentados pelos tradicionais livros didáticos.

As atividades também têm como intuito influenciar professores, coordenadores pedagógicos e movimentos sociais na discussão sobre o tema, mostrando um curso que inter-relaciona geografia, poesia, teatro, samba, cerâmica e demais elementos presentes na cultura africana, propondo, assim, uma educação popular transdisciplinar e em diálogo com espaços de produção de conhecimento na comunidade.

 

Para trazer à tona a luta dos antigos quilombos e mocambos como referências de resistência negra, boa parte das aulas foram realizadas em centros culturais independentes das periferias da cidade; outros em bibliotecas públicas, com um objetivo muito claro de que a educação se faz nos diversos espaços da cidade e não apenas dentro das escolas.

A organização de cada curso se deu de forma conjunta aos coletivos culturais que receberam a atividade, desde o financiamento das apostilas à escolha de recursos pedagógicos. Mesmo que todos os locais demandem elementos como retroprojetores e computadores, cada um se diferencia nos materiais destinados às oficinas, que vão desde folha de hortelã – para falar sobre matemática, candomblé e geografia –, até tecidos– para desenvolver temáticas como as relações de gênero e literatura. As atividades trazem tanto histórias rituais [religiosidade], quanto aquelas presentes no cotidiano da história africana tradicional e contemporânea, como artes, ofícios ancestrais, músicas, produção de máscaras e utensílios domésticos e até mesmo manuseio de argila.

Antes mesmo da escolha do local, é realizada uma discussão sobre a temática a ser abordada, em diálogo com outras pessoas entendidas na questão, sejam elas especialistas no tema, graduados, líderes comunitários ou referências em suas regiões. Participam como estudantes uma multiplicidade de perfis: atores, pedreiros, estudantes de escolas públicas, geógrafos, sociólogos, escritores, entre outros. A mobilização sempre é feita por meio da internet (e-mail, Facebook) e cartazes pontuais nos locais onde a iniciativa é realizada.

Cada curso é dividido em seis encontros que têm, em média, quatro horas de duração cada um. Os cursos são compostos de aulas teóricas, oficinas e reflexão coletiva, além de um café comunitário que também serve para que os participantes e educadores reflitam e analisem aquilo que foi aprendido e ensinado.

Exemplos de cursos já organizados

– Caminhos africanos e giros afro-brasileiros. Realizado na “Senzalinha”, sede do Grupo de Capoeira Irmãos Guerreiros, em Taboão da Serra (SP). Dividido em cinco encontros aos sábados, o curso aconteceu de 24 de outubro a 21 de novembro de 2009. Dentre os temas discutidos destacaram-se a ancestralidade do barro, o papel do corpo na memória, candomblé e geografia. (Veja apostila do curso).

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– Espiral Negra: ciência e movimento. Realizado na Comunidade Cultural Quilombaque, no bairro de Perus (SP). Foram seis encontros aos sábados, de 30 de janeiro a 30 de março de 2012 e, além de aulas sobre ancestralidade do barro, houve também temas como o samba inserido no território e na geografia; a geometria do ritmo, construção da cidadania e nação Moçambicana; arte afro-brasileira e a identidade afro por meio dos tecidos.  (Vela apostila do curso).

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– Resistência e anunciação: arte e política preta. Realizado na Senzalinha (Taboão da Serra – SP), de 8 de maio a 5 de junho de 2010, com temas como os dilemas contemporâneos no cinema e dança e as migrações e trajetórias femininas. (Veja apostila).

– Presença latino-amefricana – arteReflexão. Realizada no Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo (SP) (CDHEP), de 31 de julho a 4 de setembro de 2010, abordando temas como cultura indígena, poesia argentina, música afro-peruana, hip-hop em Cuba, literatura zapatista, literatura das margens mexicanas e teatro negro brasileiro. (Acesse a apostila).

– Literatura, futebol e negaça. Realizado na Biblioteca Helena Silveira, no Campo Limpo (SP), de 2 a 30 de abril de 2011, e abordou temas como corpo negro no futebol e no teatro. (Veja aqui estudos utilizados nesta oficina).

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– Teias da Expressão, Chamas da Reflexão: Artes Plásticas e Gráficas Africanas e Negro-Brasileiras. Realizada na Biblioteca Paulo Duarte (Centro Cultural do Jabaquara), de 7 de maio a 4 de junho de 2011, abordando o tecido como elemento histórico africano e questões de identidade nas linguagens plásticas e grafites.

– Literatura de cordel. Realizada na Biblioteca Brito Broca, em Pirituba (SP), de 2 a 30 de julho de 2011. Com temas como a representação feminina no cordel, imaginário e natureza nesta literatura, africanias e iconografias no cordel.

Início e duração: 2009 até os dias atuais
Local: São Paulo (SP)
Responsáveis: Allan da Rosa, escritor do livro “Autonomia, pedagoginga e moçambicagem”, que descreve como o curso de educação popular Pedagoginga é realizado.
Envolvidos e parceiros: saraus de poesia, movimentos culturais independentes, escolas, bibliotecas públicas.
Financiamento: As atividades foram financiadas de forma colaborativa entre organização e espaços onde os cursos foram realizados.

Principais Resultados

Desde 2009, já aconteceram oito edições dos cursos. Gratuitos, cada um reuniu cerca de 50 pessoas por turma, sendo 400 no total, trazendo uma multiplicidade de interessados, como geógrafos, historiadores, sociólogos, atrizes, professores, educadores e outros profissionais e estudantes.

Além disso, a organização ressalta que um dos maiores resultados do curso foi a criação de uma rede entre periferias de norte a sul na cidade para discutir a temática. E com a presença de professores e coordenadores escolares, acredita-se também na influência indireta no currículo e atividades de algumas escolas da rede pública da cidade.

Segundo Allan da Rosa, organizador e autor do livro “Pedagoginga, autonomia e mocambagem”, por meio de sua divulgação pelo Brasil, já foram vendidos mais de 400 exemplares do livro, sem contar aqueles que estão sendo vendidos nas livrarias. Da Rosa já levou o livro aos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, com divulgações previstas nos estados do Paraná e Minas Gerais.

Os cursos e livro, além de estimularem a reflexão crítica sobre assuntos como reflexão sobre ciência, arte e cultura negra, impulsiona a discussão sobre o uso de outros espaços educativos da cidade e a ideia de que todos podem ser educadores, independente de sua graduação ou titulação. Nas atividades, em diálogo com os movimentos sociais locais, o tema vem ganhando maior permeabilidade, estimulando que os envolvidos levem a discussão e criem novas atividades com outros espaços e grupos.

Materiais e Publicações

– Livro Pedagoginga, autonomia e mocambagem, de Allan da Rosa. (Disponível para download clicando aqui).

-Dissertação: Imaginário, Corpo e Caneta – Matriz Afro-Brasileira em Educação de Jovens e Adultos, de Allan da Rosa (Para download, clique aqui).

 

 

Fonte: Educação Integral

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