Por: ANA CONCEIÇÃO E ANNE WARTH
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirma que sua candidatura a governador pelo PSB é uma decisão sem volta. “Minha candidatura é irrevogável”, disse, em entrevista exclusiva à Agência Estado. Com a candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) descartada no Estado, Skaf briga para ser o nome do partido e concorrer ao cargo.
De acordo com pesquisa Datafolha divulgada hoje, ele aparece com 2% das intenções de voto para o governo de São Paulo.
Skaf encara o desafio que Silvio Santos e Antônio Ermírio de Moraes assumiram sem sucesso: emplacar a candidatura de um empresário a um cargo executivo. Em 1986, o presidente do Conselho de Administração da Votorantim candidatou-se a governador de São Paulo e não chegou nem ao segundo turno. O dono do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) tentou a Presidência da República em 1989 e desistiu antes mesmo da eleição. Skaf, porém, tem na ponta da língua dois exemplos de empresários bem-sucedidos politicamente: o senador Tasso Jereissati (PSDB), governador do Ceará por duas vezes, e Blairo Maggi (PR), governador de Mato Grosso desde 2003. “Até estatisticamente isso me dá mais força, já está na hora de dar certo.”
Para esta tarefa, o presidente da Fiesp buscou um dos nomes mais requisitados entre os políticos: o publicitário Duda Mendonça, que cuidou da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e que agora será o marqueteiro da campanha de Skaf. O presidente da federação afirma que não mudará a imagem e será “ele mesmo”. “Duda apenas sugeriu que eu fosse mais informal e deixasse de usar a gravata e o paletó”, contou. Skaf negou ter feito plásticas ou intervenções cirúrgicas. “Ele está mais gordo, mas é por minha causa”, afirmou a mulher dele, Luzia Skaf, que acompanhou toda a entrevista.
Vetado pelo presidente estadual do PDT, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, para ser candidato a vice-governador na chapa liderada pelo senador Aloizio Mercadante (PT) com o apoio de PCdoB, PR, PRB e o recém-criado Partido Pátria Livre (PPL), o presidente da Fiesp nega que o PSB tenha ficado isolado e diz que nenhuma negociação está fechada. “Não sei de onde existe essa impressão de que o PSB está isolado. O diálogo e as conversas estão acontecendo com todos os partidos e não conheço siglas que já estejam fechadas com o PT”, afirmou.
Polêmica
Apesar da polêmica em torno de seu nome, ele disse não ver dificuldades na transição entre o mundo econômico e o político. “Sou presidente do Sesi (Serviço Social da Indústria) e do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e administro um orçamento maior que o de 99% das cidades e alguns Estados brasileiros. Estamos construindo cem escolas, dez teatros e implantando ensino em tempo integral para cem mil alunos.” Ele sairá do cargo de presidente da Fiesp no prazo determinado por lei, quatro meses antes das eleições, no fim de maio.
Com fama de centralizador, como ele mesmo admite um pouco constrangido, Skaf apresenta-se como uma novidade no mundo da política. De acordo com ele, o eleitor está cansado de ver os mesmos candidatos disputando cargos e isso o fortalece diante dos concorrentes. Skaf baseia o discurso na ideia de que é possível fazer diferente, como Soninha Francine, que disputou – e perdeu – a eleição municipal pelo PPS em 2008. “Ela (Soninha) já tinha mostrado alguma vez o trabalho dela? Ela tem uma bagagem?”, interferiu Luzia, em defesa do marido.
A corrida pela sucessão estadual não verá na figura de Skaf um candidato polêmico e batendo na administração do governador José Serra (PSDB), conforme desejava Lula ao tentar unir a oposição no Estado em torno do polêmico Ciro. Ele se esquivou de avaliar os 16 anos de poder do PSDB no Estado mais rico do País. “Não olho para o passado, apenas para o futuro.”
Embora se esquive de fazer críticas, Skaf deixa entrever que elegerá a educação como bandeira de campanha, justamente uma das áreas em que o governo estadual é mais criticado. De olho na disputa eleitoral, a reformulação das escolas do Sesi/Senai e a adoção do ensino integral têm sido promovidas como a marca de sua gestão frente à Fiesp.
Dificuldades
Skaf acredita que não terá dificuldades para encontrar doadores para sua campanha, mas diz que esse é um problema do partido. “Será muito natural que empresas contribuam para um candidato que é presidente da Fiesp”, acredita. “Mas esse é um problema do PSB. Dentro da legislação o partido vai ter que obter os recursos necessários.”
O financiamento de campanhas foi justamente um dos temas que colocou o nome de Skaf em evidência, na deflagração da Operação Castelo de Areia pela Polícia Federal. Ele afirmou ter sugerido a empresas que doassem recursos de forma legal para a campanha de parlamentares que, em sua visão, fossem éticos e favoráveis aos interesses da indústria.
Meses depois, Fernando Arruda Botelho, um dos sócios da construtora Camargo Corrêa e também vice-presidente da Fiesp, acabou renunciando ao cargo. Segundo Skaf, Botelho, citado no inquérito da PF, teria alegado motivos pessoais para se afastar da entidade. “A Fiesp nunca pediu nada. Nunca passou um tostão pela Fiesp.”
Fonte: Estadão