Hoje (21), é o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial. Em 1960, cerca de 20 mil negros sul-africanos protestavam contra a lei do passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde eles podiam circular. Mesmo sendo uma manifestação pacífica, o exército atirou sobre a multidão, matando 69 pessoas e ferindo outras 186. Em memória à tragédia, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia mundial.
Apesar de todos os esforços que foram feitos até agora, o Brasil ainda tem muitas batalhas a enfrentar. As desigualdades econômicas do País influenciam diretamente na incidência de casos HIV/aids na população de menor nível socioeconômico. Parte da nossa população negra faz parte desta estatística.
Um número expressivo de negras brasileiras ainda têm baixos níveis de escolaridade e não possuem plano de saúde. Na região serrana do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, 58,8% delas possuem apenas o Ensino fundamental completo/incompleto e 55,6% não tem assistência de saúde privada. Mas o fator mais preocupante é, sem dúvida, a opressão. Por sentirem-se com menos poder de negociação diante do parceiro sexual, essas mulheres se expõem a contextos sociais de vulnerabilidade que podem culminar na infecção pelo vírus da aids e outras doenças sexualmente transmissíveis.
Atento a esta realidade e em busca de soluções, o Ministério da Saúde investiu em uma série de estudos sobre HIV/aids e a população negra brasileira. Uma das pesquisas, realizada com jovens mulheres moradoras de 10 diferentes comunidades do Rio de Janeiro, comprova que 74% são negras, 39% são sexualmente ativas e 24,4% destas mulheres são portadoras de DST. Esta é apenas uma parte da realidade brasileira.
Os resultados das pesquisas de DST e HIV/aids em afro-descendentes brasileiros servem de subsídios para o fomento de políticas públicas. Ao todo, foram realizadas 10 pesquisas em sete estados brasileiros a partir da Chamada de Pesquisas Nacionais em População Negra e HIV. Inclusão social, ações afirmativas e estratégias de gestão participativa voltadas a redução das condições de vulnerabilidade da população negra são fundamentais para o controle dessas doenças e o Ministério da Saúde está disposto a trabalhar e ajudar a modificar o quadro atual.
Acesse o site: www.aids.gov.br e conheça as pesquisas na íntegra. As publicações também podem ser acessadas na Biblioteca Científica Eletrônica Online (Scielo).
A vulnerabilidade da população negra à infecção pelo HIV e aids
A desigualdade de gênero e raça diante da epidemia
Resumo dos resultados
Contexto
O Ministério da Saúde vem desenvolvendo estratégias de gestão participativa voltadas à redução das condições de vulnerabilidade da população negra à infecção pelo HIV e aids. A ação pioneira que ilustra este contexto é o Projeto Brasil AfroAtitude, lançado em dezembro de 2004. Esse projeto gerou desdobramentos importantes, como uma campanha voltada para essa população e dois editais públicos de chamadas de pesquisas lançados pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, cujos resultados podem ser conhecidos na publicação Saúde e Sociedade, suplemento População Negra HIV/Aids. Essa publicação está disponível agora no endereço eletrônico www.aids.gov.br
Abaixo, um breve resumo desses resultados que pode contribuir para o conhecimento das linhas gerais das pesquisas e seus principais achados. Os dados sinalizam principalmente o foco em algumas regiões do país e suas características, e esse pode ser o diferencial para o desenvolvimento local de políticas públicas de saúde voltadas para a população autorreferida como negra e parda. As pesquisas estão disponíveis na íntegra, também no endereço eletrônico do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais.
Locais onde as pesquisas foram desenvolvidas:
Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Recife, Santa Catarina, Bahia e Alagoas
O que você vai encontrar nas pesquisas:
__MCE_ITEM__· As desigualdades econômicas do Brasil influenciam no aumento da incidência de casos na população de menor nível socieconômico. – http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· O conhecimento incipiente sobre HIV/aids, aliado à prática sexual insegura, coloca mulheres de baixa escolaridade, menor renda e residentes no nordeste em situação de maior vulnerabilidade às DST/aids. –http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· O uso mais consistente do preservativo foi mais frequente em parcerias eventuais. O baixo uso do preservativo em mulheres nas relações estáveis foi atribuído à negativa do parceiro. – http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· O conhecimento sobre aids é maior do que sobre DST. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600003&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· As mulheres brancas são também aquelas com maior probabilidade de terem escolaridade mais elevada, possuir plano de saúde, ter tido parceiro estável no ano anterior à pesquisa e ter poder na relação sexual. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· Quanto às negras, elas têm maior probabilidade de terem baixa escolaridade, não possuírem plano de saúde, além de se sentirem com menos poder de negociação diante do parceiro sexual. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600004&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· Observou-se que o nível sociocultural desfavorável associou-se aos afrodescendentes jovens, enquanto o nível médio associou-se aos brancos. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· O conhecimento sobre aids está diretamente relacionado ao uso do preservativo.
__MCE_ITEM__· Os jovens afrodescendentes iniciam-se sexualmente mais cedo e têm mais relações amorosas esporádicas (“ficar”), porém os adolescentes brancos mantêm mais relações sexuais. Além disso, os adolescentes brancos usam menos preservativo em contexto de múltiplos parceiros e em relacionamento de namoro do que os afrodescendentes. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· Jovens mulheres moradoras de 10 diferentes comunidades do Rio de Janeiro foram entrevistadas. Dessas, 74% eram negras, 39% eram sexualmente ativas e 24,4% eram portadoras de DST. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· Nas favelas cariocas, evidenciou-se que a discriminação racial sofrida é cotidiana e contribui para a construção de autoimagem negativa que aliada à pobreza, violência de gênero e dificuldade de acesso aos serviços de saúde ampliam a vulnerabilidade às DST/aids. –http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· A dificuldade de adesão ao uso de preservativo pelas mulheres relaciona-se a questões de gênero e de “proteções imaginárias”, principalmente na concepção de que relações de confiança são protetoras diante da possibilidade de infecção pelo HIV. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· Muitas mulheres atribuem a responsabilidade pela aquisição e utilização do preservativo ao homem e acreditam que as mulheres devem se preocupar com a contracepção.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600007&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· Não foi observada associação da ancestralidade genômica com a vulnerabilidade, mas sim das condições socioeconômicas à vulnerabilidade ao HIV/aids da população afrodescendente.
__MCE_ITEM__· http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600008&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· Em relação ao acesso ao diagnóstico do HIV entre a população negra, a maioria dos entrevistados não relatou dificuldades para o acesso ao teste anti-HIV no município do Rio de Janeiro. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
__MCE_ITEM__· Ações conjuntas entre os serviços de saúde e o movimento social possibilitam maiores condições de fortalecimento de uma política de enfrentamento das DST/aids entre as negras e os negros brasileiros. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902010000600012&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
O resumo acima não pode ser considerado o resultado das pesquisas. São indicações que devem ser analisadas considerando o contexto de cada uma delas: região, número de entrevistados, sexo, dentre outros.
Observações importantes sobre o resultado das pesquisas:
__MCE_ITEM__· Os resultados apontam para a persistência e mesmo o agravamento, em algumas localidades e regiões, das condições de vulnerabilidade e de exposição à epidemia do HIV/aids, na população autorreferida como negra e parda.
__MCE_ITEM__· A interpretação deve ser feita com o necessário cuidado, levando em conta que a epidemia da aids no Brasil é considerada concentrada e homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo continuam apresentando vulnerabilidade maior à infecção pelo HIV do que a população geral.
__MCE_ITEM__· Outros fatores também devem ser considerados: a tendência à pauperização e interiorização da epidemia, além do aumento da incidência nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, onde há maior concentração da população negra e parda.
Fonte: Lista Racial