Ministério Público abre inquérito sobre ‘sexualização’ de MC Melody

O Ministério Público de São Paulo abriu nesta quinta-feira um inquérito para investigação sobre “forte conteúdo erótico e de apelos sexuais” em músicas e coreografias de crianças e adolescentes músicos.

Ricardo Senra no BBC

A cantora de funk conhecida como MC Melody, de oito anos, é um dos alvos da investigação, que suspeita de “violação ao direito ao respeito e à dignidade de crianças/adolescentes”. O caso está sendo investigado pela Promotoria de Justiça de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos da Infância e da Juventude da Capital.

Segundo uma das representações publicadas no inquérito, Mc Melody “canta músicas obscenas, com alto teor sexual e faz poses extremamente sensuais, bem como trabalha como vocalista musical em carreira solo, dirigida por seu genitor”.

Além dela, músicas e videoclipes de outros funkeiros-mirins como MCs Princesa e Plebéia, MC 2K, Mc Bin Laden, Mc Brinquedo e Mc Pikachu também são alvo da investigação do Ministério Público paulista.

A promotoria chama atenção para o “impacto nocivo no desenvolvimento do público infantil e de adolescentes, tanto de quem se exibe quanto daqueles que o acessam”.

Petição

ministerio_publico_mc_melody_ministeriopublicodesp

O inquérito, aberto pelo promotor Eduardo Dias de Souza Ferreira, é resultado de denúncias e representações encaminhadas pela Ouvidoria do Ministério Público e por cidadãos que pedem avaliação legal sobre a exposição dos funkeiros mirins.

O caso da MC Melody, que chegou a ser o assunto mais procurado por brasileiros no Google nesta quinta-feira (com mais de 50 mil buscas), gerou uma petição no site Avaaz que pede “intervenção e investigação de tutela” ao Conselho Tutelar de São Paulo.

O abaixo assinado alcançou mais de 23 mil assinaturas em quatro dias. A menina já chegou a ter seu perfil retirado do Facebook após denúncias de internautas sobre “sexualização” – ela aparece em fotos com roupas curtas e decotadas, dançando em bailes funks e em vídeos caseiros.

As críticas à exposição de MC Melody, no entanto, não são unânimes. Em seu blog, o jornalista musical André Forastieri publicou o texto “Chega de preconceito contra o funk. Deixa MC Melody ser funkeira e rebolar – mesmo que tenha 8 anos de idade”, onde afirma que “vinte anos atrás as menininhas dançavam na boquinha da garrafa ou queriam ser Paquitas”.

“A grita é que o pai está expondo a menina. Médio. O pai da menina é músico, não neurocirurgião. Era pagodeiro, virou MC Belinho, que funk é onde está a grana na periferia”, critica o jornalista, que acrescenta: “Fatura com a garota? Mathew Knowles botou a filhinha para cantar e dançar aos oito anos também. Produtor musical, com nove Beyoncé já estava no Destiny´s Child. Logo era um grupo de teenagers, requebrando com pouca roupa. Qual a diferença?”

No YouTube, dezenas de publicações feitas por anônimos criticam a exposição da menina – cujos vídeos acumulam milhões de visualizações no portal.

O pai de MC Melody – o também funkeiro MC Belinho – também é citado pelo inquérito do Ministério Público.

O texto afirma ser “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”, conforme dispõe o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente”.

A reportagem tentou contato com MC Belinho por telefone, mas não obteve sucesso. Em entrevistas anteriores, o pai de MC Melody se defende argumentando que existiria uma “perseguição ao funk” e que “não obriga sua filha a fazer nada”.

“Ela canta e dança assim porque gosta”, disse MC Belinho. “Entendemos quem não gostou ou ficou ofendido e estamos mudando a nossa postura por isso.”

+ sobre o tema

Psicóloga que oferecia ‘cura’ para gays tem registro cassado no DF e fica impedida de exercer profissão

O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP-DF) cassou...

Sambar com fé

  O samba, quem diria, constitui um importante eixo simbólico...

Mães denunciam neuropediatra do DF por abuso sexual

Número total de mulheres ouvidas pela polícia subiu para...

Grace Passô: “No Brasil, existem milhares de Viola Davis e Whoopi Goldberg”

Atriz mineira homenageada em Mostra de Tiradentes estrela 'Temporada',...

para lembrar

Casal afirma que o poliamor os ajuda a ter um lar mais feliz

Gracie, 48anos, e o marido Oz, 41, têm um...

‘Cansei de engolir sapo’ diz médico que apura casos de abusos sexuais na USP

Paulo Saldiva, médico responsável pela apuração de casos de...

Existo, Resisto, Persisto

Costumo sempre dizer que o feminismo é um caminho...
spot_imgspot_img

Vozes da resistência negra celebram a vida de Leci Brandão

Leci Brandão é uma artista e parlamentar cuja trajetória é marcada pela luta contra o racismo, um combate que atravessa sua música, sua vida...

Pena para feminicídio vai aumentar para até 40 anos

O Congresso aprovou um projeto de lei que aumenta para 40 anos a pena máxima para o crime de feminicídio, que estará definido em um...

Saúde lança programa para reduzir mortalidade materna de mulheres pretas em 50% até 2027

O Ministério da Saúde lançou nesta quinta-feira (12) uma nova versão do projeto Rede Cegonha, criado em 2011 e descontinuado em 2022, voltado para o cuidado...
-+=