Evento discutiu, com representantes das mídias negras, formas de inclusão dessas mídias nas ações de comunicação e campanhas publicitárias do governo
Do Seppir
A ministra da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR), Edinho Silva, se reuniram hoje (06), em Brasília, com representantes de mídias negras de todo o país.
A reunião foi organizada pela Seppir em parceria com a Secom, e os participantes puderam discutir com os ministros a inclusão dessas mídias nas ações de comunicação e campanhas publicitárias do governo. É a primeira vez, desde a criação da Seppir, em 2003, que um evento como este é realizado, unindo os dois ministros e diversos representantes de mídias negras independentes.
Para Edinho Silva, é nítido que tanto o governo quanto as mídias negras estão com a mesma pauta de inclusão social e combate ao racismo em todas as suas formas.
“A norma que temos hoje ainda não é ideal, mas avançamos muito. Estabelecemos critérios para atingir veículos diversos em todo o Brasil. A pauta das mídias negras vai ao encontro do que a Secom faz. Vamos dar apoio técnico para que todos vocês possam ser incluídos neste processo”, afirmou o gestor.
A ministra da Igualdade Racial lembrou que no início do ano já havia conversado com os representantes das mídias negras e que o evento de hoje foi uma oportunidade para continuar as discussões e vencer os obstáculos técnicos para que estas mídias possam ser inseridas nas ações não só do Executivo, mas também de empresas públicas como a Petrobrás, Caixa Econômica Federal, entre outras.
“Nem sempre a mídia negra tem a visibilidade que gostaríamos que ela tivesse. Vocês (da mídia negra) são batalhadores”, resumiu Nilma.
Pedro Caribé, da Rede de Mídia Livre Bahia 1798, disse que os comunicadores negros tiveram e continuam tendo importante papel para a democracia brasileira, mesmo quando a história oficial tenta escondê-los. Para ele, o país atravessa um difícil momento político e é preciso apoio aos veículos independentes.
“Nós precisamos encontrar formas de apoiar esses veículos independentes que não possuem a mesma estrutura dos grandes meios. O governo deve implementar outras formas para que todos possam ter acesso aos recursos de mídia”, ressalta Caribé.
Etiene Martins, do jornal Afronta, disse que as normas atuais são excludentes. “Não tem como competirmos com a tiragem dos grandes veículos. A legislação acaba aprofundando nosso processo de exclusão. Além disso, ainda presenciamos a mídia tradicional debochando de ações de autoafirmação e praticando racismo”.
Outra Metodologia
Edinho disse que apesar de o governo utilizar diversas métricas que envolvem o cálculo de custo x exposição para a realização de campanhas, o sistema não exclui veículos pequenos.
“Um veículo de mídia negra, por exemplo, não vamos comparar a tiragem dele com a dos grandes jornais que são medidos pelo Instituto Verificador de Comunicação (IVC). Nós medimos relativo a mídia a qual ela está inserida”, argumentou o chefe da comunicação social do governo, em resposta aos temores de que as mídias negras não teriam espaço na comunicação oficial.
Estas regras diferenciadas, segundo o secretário-executivo da Secom, Roberto Messias, fizeram com que o número de veículos que recebem verbas oficiais tenha passado de 400 em 2003 para 10.731 atualmente.
“Outro fator que modificou a estrutura é que tivemos um aumento de 5 para 15% da participação das mídias web na distribuição das verbas publicitárias”, acrescenta Messias.
O grupo definiu que em 60 dias será feita uma nova reunião para discutir os encaminhamentos propostos. Uma das sugestões foi a criação de um Grupo de Trabalho envolvendo governo e mídias negras para discutir formas de aumentar a participação governamental nessas mídias.