Morre em São Paulo o militante político César Augusto Teles

A família Teles foi torturada na ditadura e, hoje, luta para pela garantia da memória, verdade e justiça em relação período do regime militar.

Do Brasil de Fato

César Augusto Teles, militante e ex-preso político que lutou contra a ditadura militar, morreu hoje (29), na capital paulista, aos 71 anos de idade. Ele deixa a esposa, Amelinha Teles, e os filhos, Janaína e Edson. A família Teles é referência na luta pela verdade, memória e justiça no Brasil em relação ao período ditatorial. Ao lado de Amelinha, ele colaborou com a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo.

“Mesmo com todos os problemas de saúde, agravados pela prisão na ditadura e pelas torturas que sofreu, sempre manteve a leveza, a gentileza e o bom humor que contagiavam todos ao seu redor. As conversas sobre política, literatura e música, que ele conhecia como poucos, vão deixar muitas saudades”, diz comunicado sobre a morte do militante. O sepultamento será às 15h30, no Cemitério da Vila Formosa.

César, juntamente com Amelinha e Carlos Nicolau Danieli, um dos dirigentes do Partido Comunista, eram responsáveis por produzir veículos de imprensa contrários ao regime. “Era uma tarefa muito difícil. Nós publicávamos mil e quinhentos jornais todo o mês, para mandar para toda a comunidade. Com mimeógrafo a óleo ou a álcool. Mandava para o exterior – Suécia, Inglaterra, França, Itália, e outros países da Europa. E nós ouvimos a rádio, a de Moscou, a de Pequim, nós éramos rádio-escuta também”, disse Amelinha em depoimento à revista Leituras da História.

A família de César, inclusive os filhos, à época pequenos, além de Danieli e Criméia, irmã de Amelinha que estava grávida, foram presos e torturados pelos militares no dia 28 de dezembro de 1972. César, Danieli e Amelinha saíam de casa para encontrar outros militantes e para comprar remédios para César, que sofria de tuberculose, quando foram presos pelos agentes do regime.

“Eram 18h, na Rua Loefgreen, Vila Clementino, quando nós paramos o carro. O Danieli já havia descido alguns minutos antes para encontrar um companheiro e nós fomos cercados por quatro carros, que pararam na nossa frente – eu não sei como eles apareceram ali – […] era aquele momento em que tudo estava escurecendo. Eles cercaram os lados, desceram com metralhadoras na mão: ‘terrorista, terrorista, terrorista!’, gritaram”, relatou Amelinha.

Eles foram levados para o Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi), que era comandado pelo major Carlos Alberto Brilhante Ustra. Danieli foi assassinado, enquanto que César e Amelinha eram torturados.

Em depoimento, Amelinha contou detalhes das torturas sofridas por ela e pelo companheiro. “Eu e o César subimos para outras duas salas, cada um ficou em uma. E daí começam os gritos. Cada um de um lado sendo torturado. Um ouvia o grito do outro, o tempo todo. Eles torturavam a gente da mesma forma, com choques elétricos, pontapés… era com palmatória, com soco… daí vinha um soco no rosto. Arrancaram a minha roupa, eu estava despida, era tortura sobre tortura. Entravam equipes enormes e ficavam me torturando”.

Justiça

Em outubro de 2008, o juiz Gustavo Teodoro, da 23ª Vara Cível do Fórum João Mendes, reconheceu Ustra como responsável pelas torturas sofridas por Maria Amélia de Almeida Teles, César Augusto Teles e Criméia de Almeida, em 1972.

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