Morte de francês por skinheads reacende debate sobre extrema-direita

Clément Méric, militante de esquerda de 18 anos, foi abordado por um grupo de nazistas após sair de loja na capital francesa

Por Amanda Lourenço

Clément Méric, de 18 anos, agredido na noite da última quarta-feira (05) por um grupo de skinheads em Paris, foi declarado morto ontem por morte cerebral. O episódio causou comoção na França e diversas manifestações estão sendo organizadas em todo o país em resposta ao crime. Alunos da conceituada Science Po, universidade onde a vítima estudava, fizeram uma homenagem em frente ao prédio. Uma passeata também foi convocada para o final da tarde na praça Saint-Michel, no centro de Paris.

Clément Méric militava em um grupo antifacista (Foto: Reprodução / Facebook)

Méric era aluno do curso de Ciências Políticas e militava em um grupo antifacista. Segundo depoimentos, o estudante saía de uma loja em um bairro nobre da capital francesa junto com três amigos quando foi abordado por skinheads. Depois de trocarem ofensas, um dos jovens teria usado um objeto, supostamente um soco inglês, para agredir Méric, que teria caído e batido a cabeça. “Eles pareciam bem decididos a machucar”, contou uma testemunha à diversos canais de TV.

A vítima foi levada para um hospital, mas não resistiu. Méric fazia parte do movimento Ação Antifacista e era engajado na luta contra o racismo e o sexismo. Segundo seus companheiros, ele era um membro bastante ativo.

O presidente do Senado, Jean-Pierre Bel lamentou a morte do jovem. “Essa violência odiosa atinge nossa República em seus valores mais fundamentais”, afirmou. O presidente François Hollande condenou firmemente a agressão através de um comunicado emitido nesta quinta-feira: “Há instruções precisas para que os autores deste ato odioso sejam interpelados o mais rápido possível”.

Quatro suspeitos, com idades entre 20 e 30 anos, entre eles uma mulher, foram detidos à tarde. Eles são integrantes da Juventude Nacionalista Revolucionária, movimento neonazista ultranacionalista. Entretanto, o líder do JNR, Serge Ayoub, negou qualquer envolvimento da organização no ocorrido.

Debate

O episódio chocou a população e reavivou o debate sobre a extrema-direita no país, eixo político que vinha ganhando força na França tanto por causa da crise econômica, quanto pela forte oposição aos recentes direitos sociais conquistados pelos homosexuais. Há menos de duas semanas os grupos conservadores conseguiram reunir cerca de 200 mil pessoas nas ruas de Paris para marchar contra o casamento e a adoção de crianças por casais gays.

Testemunhas disseram que um dos agressores do estudante vestia uma camisa da Frente National, partido ultraconservador liderado por Marine Le Pen. A deputada se apressou em ir a público repudiar o ocorrido, dizendo que os jovens não têm envolvimento com seu partido e criticou qualquer tipo de generalização.

O ministro do interior, Manuel Valls, atacou os conservadores afirmando que o episódio de violência tinha a marca da extrema-direita, enquanto o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault pediu publicamente o combate deste tipo de movimento através de atos políticos e jurídicos: “Esses movimentos precisam ser fragmentados”.

Uma nuvem conservadora parece ter chegado na Europa junto com a crise econômica. Episódios de intolerância e discriminação foram registrados em diversos países e o crescente aumento de novos partidos de extrema-direita no continente traduzem a insegurança econômica, mas também identitária, pela qual passam os europeus neste momento.

 

 

Fonte: Revista Fórum

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