Morte no Araguaia

Passados os 50 anos do golpe militar a coluna 1964+50 segue firme em 2015, mas agora com novo título: VIVOS. Afinal, mortos e desaparecidos estão vivos na nossa memória e na nossa história.

maria_lucia

Maria Lúcia Petit da Silva
Nascimento: 20 de março de 1950
Cidade natal: Agudos – SP
Morte: 16 de junho de 1972
Local da morte: Pau Preto, Araguaia
Causa da morte: tiro
Identificação da ossada: maio de 1996

por Fernanda Pompeu   No Nota de Rodapé
Há quem diga que Maria Lúcia morreu em confronto com uma patrulha do Exército na região do Araguaia, sul do Pará. Nessa versão, ela tombou com a revólver na mão e a revolução no coração. Também há o relato de que Maria teria sido executada: recebeu o tiro e caiu morta. O assassino seria um camponês que se fazia de amigo, quando na verdade era inimigo. Dez minutos depois do disparo de carabina, helicópteros do Exército Brasileiro apareceram metralhando a área.

Passados 43 anos, as versões de como a jovem de 22 anos morreu ainda convivem. Mas há fatos irrefutáveis. Por exemplo, a ocultação do cadáver. Na época da ditadura militar, a ordem era matar, por tortura ou execução, e sumir com o corpo. Tal prática é a raiz da eternizada angústia de familiares e amigos que nunca puderam enterrar os seus queridos.

Mas no caso de Maria Lúcia Petit da Silva, em 1991, a história começou a mudar quando a ossada de uma mulher, enrolada num pedaço de pano de paraquedas, foi encontrada no cemitério de Xambioá (em tupi, pássaro feroz), no atual Tocantins. Os indícios apontavam se tratar dos restos mortais de uma guerrilheira do Araguaia.

Cinco anos depois, houve o reconhecimento feito por técnicos da Unicamp. Maria Lúcia foi sepultada em Bauru, com a presença de sua mãe Julieta. No entanto, seus irmãos Jaime e Lúcio seguem desaparecidos, como aliás todos os outros militantes da Guerrilha do Araguaia. Para nunca esquecer: 434 pessoas morreram ou desapareceram nos anos de chumbo. É claro que estamos falando dos nomes notificados.

Apesar da existência breve, Maria Lúcia fez história política. No fulgurante 1968 – ano marcado por juventudes nas ruas em vários países – ela participou do movimento estudantil secundarista. Dois anos depois, militante do PCdoB, foi para Goiás e logo após para o sul do Pará. A ideia era estar ao lado dos camponeses para tecer a resistência à ditadura de 1964 e preparar a revolução que – na visão daquela esquerda – derrubaria as injustiças do Brasil. Roubaram-lhe a vida por conta disso.

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