Movimentos africanos de independência podem seguir exemplo do Sul do Sudão

Por António Cascais, DW

 

Opinião é do diplomata português Victor Ângelo, que chefiou missões da ONU na África. Criação do Sul do Sudão, em 9/7, poderá “ter impacto em países com divisões internas profundas”. Mas “Cabinda (Angola) é diferente”.

O Sul do Sudão proclamará a independência no próximo sábado, 9/7, criando o país número 193 do planeta, reconhecido pelas Nações Unidas. A divisão do maior país africano foi aprovada em 98,83% pelos sudaneses do Sul, em referendo realizado em janeiro deste ano.

Há quem tema que esta alteração do mapa político possa criar precedentes para outras regiões do continente africano e contribuir para guerras de secessão um pouco por toda África, criando focos de instabilidade – quem destaca esses temores é Victor Ângelo, diplomata português que trabalhou durante mais de 30 anos para as Nações Unidas e chefiou várias missões no continente africano.

“Na minha opinião, a independência do Sul do Sudão acabará por ter impacto noutros países africanos em que há divisões internas profundas”, afirma Ângelo, citando o exemplo de países que têm uma composição étnica e cultural semelhante à do Sudão. “Mas, além dessa situação de semelhança, há outras situações – em que tem havido movimentos independentistas, e esses movimentos podem dizer que o que aconteceu no Sudão pode perfeitamente servir de exemplo para outros países”, acrescenta.

“Cabinda é diferente”

Questionado se a divisão do Sudão poderia ter algum tipo de consequência para o enclave angolano de Cabinda – onde existem movimentos que querem uma separação de Angola –, Victor Ângelo disse que “não queria entrar na questão de Cabinda, porque a questão de Cabinda é uma questão muito diferente da do Sudão”.

Sobre a questão de a independência do Sul poder acabar com a histórica divisão Norte-Sul e com os conflitos ocorridos por essa separação, Victor Ângelo alertou para o facto de o Sul ter poucas capacidades de governação e de ser uma região sem estruturas. A questão da divisão dos lucros do petróleo, por exemplo, é bastante delicada, lembrou o especialista. A maior parte dos campos de petróleo está no Sul – o Norte tem os oleodutos.

Victor Ângelo salientou em entrevista à Deutsche Welle que é preciso ter muito respeito pelas fronteiras existentes, mas que cada caso é um caso. Segundo ele, há situações em que – por diversos motivos – é preferível alterar as fronteiras, nomeadamente quando as alterações podem contribuir para um apaziguamento de regiões em disputa.

O Chade, por exemplo, é “praticamente um espelho do Sudão. No norte do Chade, as populações são de maioria muçulmana; no sul, as populações são bantus, são populações negras e fortemente influenciadas pela cultura cristã”, disse Ângelo

 

Fonte: Zwelangola

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