Caso ocorreu em outubro de 2015, no Hospital Regional de Taguatinga, e é apurado pela polícia
Por Nathália Cardim , do Correio Braziliense
Jane Rodrigues de Jesus Pires, 28 anos, denunciou à Polícia Civil do Distrito Federal um suposto ato violento que sofreu durante o parto da filha, realizado por uma médica da rede pública, em 20 de outubro de 2015, no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Segundo Jane, mesmo sabendo que não tinha dilatação suficiente para a que criança nascesse naturalmente, a profissional forçou o procedimento e a neném sofreu uma lesão no braço esquerdo e uma fratura na clavícula.
O laudo disponibilizado pela família com o resumo clínico da Unidade de Neonatologia do HRT confirma o depoimento da mãe, mas a Secretaria de Saúde afirma que não há registro de investigação sobre o fato. De acordo com Jane, o drama dela começou em 19 de outubro, quando os profissionais da saúde estavam em greve. “Acordei sentindo contrações, mas, como a minha bolsa não tinha rompido, arrumei a mala da minha filha e segui para o hospital somente às 15h, quando as dores ficaram mais intensas”, relatou. Após chegar à unidade de saúde, a mulher demorou cerca de uma hora para receber atendimento. O primeiro médico a examiná-la, segundo relato de Jane, disse que ainda não havia dilatação suficiente para a passagem da criança e que a mãe teria que esperar.
Por volta da meia-noite, no centro cirúrgico, Jane foi informada que o quadro não tinha evoluído e precisariam induzir o parto. “Depois disso, eu me recordo que a minha bolsa rompeu e eu pedi para fazer logo o procedimento, pois eu não aguentava mais”, contou. “Chego a sofrer quando penso em todo o sufoco. Desmaiei duas vezes e me lembro de a médica pedir para eu fazer força. Ela apertou bem forte a minha barriga na altura do estômago. O meu marido relatou que também usaram um fórceps para puxar a Isabela”, complementa.
Ao nascer, a criança estava roxa, não chorou e foi imediatamente levada para o oxigênio, onde ficou por cinco minutos. “Nesse momento, eu perguntei a uma das enfermeiras se ela estava viva. Demorou quase duas horas para que ela chegasse aos meus braços. O meu marido disse que a Isabela não conseguia mexer os bracinhos. Ela só chorava, e também não respirava direito.”
Tratamento
A pedido da pediatra que examinou a recém-nascida, Isabela foi encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde permaneceu por quatro dias. “No total, foram 10 dias internada. A minha filha tinha um inchaço no pescoço, e o ortopedista que a acompanhou mandou imobilizar o braço esquerdo.” Atualmente, a Unidade Hospitalar da Rede Sarah de Reabilitação, no Lago Norte, atende a garota. Ela também frequenta uma clínica de fisioterapia três vezes por semana e recebe os cuidados da mãe com exercícios que estimulam o desenvolvimento, diariamente. “Mesmo assim, as chances de ela recuperar 100% os movimentos do braço com a lesão são pequenas”, comentou Jane.
Como a família não tem condições de pagar um advogado, vai recorrer, na próxima semana, à Defensoria Pública para dar entrada no processo. O caso é investigado pela 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro), como lesão corporal culposa. Segundo a PCDF, a ocorrência está em apuração. A Secretaria de Saúde informou, em nota, que a direção do Hospital Regional de Taguatinga não tem registro de processo aberto pela paciente. O caso tampouco é investigado pela corregedoria da pasta.