Mulher negra é impedida de ser batizada por pastor por ter cabelo crespo

O caso aconteceu na Igreja Assembleia de Deus de Jacobina (BA) e mobilizou um grupo de jovens negros a realizar um protesto contra a atitude do pastor José Maurício

Por Lucas Rocha, da Revista Fórum

Foto: Reprodução/Instagram

Rebeca Santos é uma jovem frequentadora da Assembleia de Deus na cidade de Jacobina (BA) e pretendia ser batizada na quarta-feira da última semana (11). A jovem, no entanto, foi surpreendida por um pastor que não gostou de seu cabelo crespo e se recusou a batizá-la. Segundo ele, o “cabelo não era de crente”. Um grupo de amigos da jovem decidiu, então, realizar um protesto na igreja e recebeu a solidariedade de diversos fiéis, mas não mudou a posição do pastor José Maurício.

O caso foi divulgado por Marta Miranda, uma das amigas de Rebeca, por meio de sua conta no Instagram. “Nossa amiga foi impedida de ser batizada na igreja que frequenta (Assembléia de Deus) porque tem cabelo crespo. O pastor da igreja disse que ela não seria batizada com ‘esse cabelo’. Então a irmã dela teve a ideia de chamarmos todos os crespos e crespas que conhecíamos para que ela não se sentisse sozinha e deslocada”, relatou.

“Nós somos tão fortes e unidas. Pensei que seria constrangedor passar pela igreja cheia, mas a empatia foi maior que a militância. Feliz em saber que não estamos sozinhas e não somos menores ou inferiores a ninguém. Temos o direito de seguir a religião que quisermos, bem como ocupar qualquer lugar. Seguimos”, disse ainda.

Rebeca fez uma postagem na rede social agradecendo a solidariedade que recebeu. “Nem sei como falar o quão GRATA eu estou e o apoio que eu tive até aqui. Muito obrigado, a todos, sem exceção. Cristo é o melhor caminho sempre, buscar o evangelho é incrível e perdoar também é a melhor retirada de peso que existe”, postou.

Em conversa com a Fórum, as duas contaram que Rebeca participava de um evento na Igreja e teve o cabelo elogiado por uma palestrante. Contrariado, José Maurício tomou o microfone, a repreendeu e disse que não batizaria a jovem porque ela “não servia para ficar na Assembleia com esse cabelo” e só poderia seguir na igreja se mudasse o visual.

Rebeca contou também que o pastor tentou convencê-la a ficar na Igreja, mas ela não aceitou. “Depois que teve toda a repercussão ele tentou me batizar, mas eu me recusei a me batizar. Eu saí daquela igreja e fui para outra, vou me batizar em outra”, contou. “Eu gostaria de deixar bem claro também que não foi uma atitude da igreja em si, parte da igreja me apoiou. Foi uma coisa do pastor mesmo”, completou, dizendo que muitos fiéis ficaram tristes com o caso.

Após a repercussão do ato das jovens, o pastor disse que Rebeca poderia ser batizada, mas não pediu desculpas e insistiu que Rebeca precisaria mudar o visual. “Depois que ele viu que muitas pessoas estavam falando sobre, ele mandou mensagem para a mãe de Rebeca pedindo para conversar com ela. Disse que ela poderia preencher o formulário de batismo e a convidou para uma reunião. Chegando lá ele perguntou se ela poderia mudar ‘pelo menos um pouco’ o cabelo, porque ele disse que ‘isso não era cabelo de crente’. Demonizou o cabelo dela”, contou Marta.

Marta afirmou ainda que recebeu diversas mensagens com críticas ao pastor e que muitos dos frequentadores do templo discordam de José Maurício. “Muitas das pessoas discordam da atitude dele, mas não debatem isso porque ele tá levantando a Igreja, as pessoas ficam com medo. Um detalhe: ele é o único pastor dessa igreja que batiza. Ele é quem define quem é batizado ou não”, completou.

Maurício comanda a sede de Jacobina da Igreja Assembléia de Deus – Ministério Missão.

+ sobre o tema

para lembrar

Medo é manipulado para forçar estereótipos, diz Anistia sobre arrastões

Arrastões como os que deixaram em pânico frequentadores de...

Meu cabelo, o racismo e o mito da caverna

Desde criança sempre tive um problema com meu cabelo....
spot_imgspot_img

Relatório da Anistia Internacional mostra violência policial no mundo

Violência policial, dificuldade da população em acessar direitos básicos, demora na demarcação de terras indígenas e na titulação de territórios quilombolas são alguns dos...

Aos 45 anos, ‘Cadernos Negros’ ainda é leitura obrigatória em meio à luta literária

Acabo de ler "Cadernos Negros: Poemas Afro-Brasileiros", volume 45, edição do coletivo Quilombhoje Literatura, publicação organizada com afinco pelos escritores Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. O número 45...

CCJ do Senado aprova projeto que amplia cotas raciais para concursos

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou nesta quarta-feira (24), por 16 votos a 10, o projeto de lei (PL) que prorroga por dez...
-+=