Ato simbólico reuniu diversas entidades no velório da vítima, Maria Lídia França de Lima. Suspeito está internado em hospital. Caso é o 15º feminicídio registrado no Amazonas somente em 2017
por Oswaldo Neto no Patricia Galvão
O caso da professora Maria Lídia França de Lima, de 34 anos, morta após ter sido queimada pelo companheiro em Tefé (distante 524 quilômetros de Manaus) é o 15º caso de feminicídio registrado no Amazonas apenas em 2017. Lideranças de movimentos a favor das mulheres realizaram um ato simbólico nesta sexta-feira (2) em frente à funerária onde ela foi velada, localizada no bairro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus.
O caso ocorreu no último sábado (27) e chocou a cidade. Segundo a polícia, o suspeito do crime é o companheiro da vítima, identificado como Joaby Evangelista de Araújo, 29. Ele teria jogado gasolina no corpo da vítima e ateado fogo após terem voltado de uma festa. Antes, o casal já teria tido uma discussão.
“Soubemos do caso através de denúncia e acionados a rede de combate à violência. Ela (professora) teve 100% do corpo queimado. Foi um milagre ela ter resistido. Ontem nós fizemos uma visita no hospital e fomos informadas que o caso dela era gravíssimo”, disse a conselheira estadual dos Direitos da Mulher, Francy Guedes.
Ainda segundo a conselheira, o filho da vítima, de 15 anos, teria tentado salvar a mãe levando a mulher para o chuveiro a fim de apagar as chamas. “Foi muito violento. A mulher que está ali com o seu companheiro, que ajuda o companheiro, sustenta o companheiro, vai pra uma festa sofre a violência e no final, ele quer matá-la da forma mais cruel possível”, disse.
A vítima morreu por volta das 22h de quinta-feira (1) no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) e liberado por volta das 15h para o velório.
Feminicídio
Comovidas com o registro de feminicídio, mulheres de várias entidades do Estado realizaram um ato simbólico durante a tarde em frente à funerária Sagaz, no bairro Cachoeirinha. O motivo é alertar a sociedade sobre a prática, além de pressionar a prisão do suspeito. Ele está internado em um hospital de Tefé devido às queimaduras e corre o risco de perder uma das mãos.
Francy Guedes disse que o caso da professora se configura como feminicídio, que é quando a vítima é morta apenas por ser mulher. Ela explica que o crime é relacionado ao sentimento de posse do homem sobre a companheira. Atualmente, o crime é considerado hediondo e inafiançável.
A conselheira municipal e coordenadora do Fórum Permanente das Mulheres de Manaus, Florismar Silva, afirmou que a entidade está realizando um levantamento sobre os casos de violência doméstica ocorridos no Amazonas. Com o caso de Lídia, ela contabiliza que é o 15º de feminicídio registrado no Amazonas. “Isso mostra claramente que o machismo mata e continua matando. É preciso intervir na sociedade para que mais mulheres não sejam mortas e que os homens entendam que a mulher não é propriedade de ninguém, é um ser livre como qualquer outro”.
Ela pontuou ainda sobre as dificuldades enfrentadas para o atendimento de mulheres. Segundo ela, os municípios do interior são os mais prejudicados pela falta de estrutura, que vai desde a carência de transporte até a falta de preparação dos profissionais para atender casos do tipo.
“Não existe uma delegacia, não existe uma preparação para a delegacia geral atender esses casos. O que acontece nos interiores é que a mulher vai reclamar e o delegado manda voltar. Alguns questionam ‘será que você quer denunciar mesmo seu marido?’. Temos casos de delegacia onde tem uma delegada de mulheres, mas há dificuldade de falta de combustível, de pessoal… Muitas vezes elas pagam gasolina para colocar na rabeta para pegar o agressor. A dificuldade é muito maior”.
A atual presidente da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Amazonas (OAB-AM), Gláucia Barbosa, foi nomeada nesta semana para compor a Comissão Nacional da Mulher Advogada.
“É uma grande honra ter sido nomeada. Foi fruto de um grande trabalho ao longo dos anos e de apoio, tanto na gestão do doutor Simonetti quando na de agora, do doutor Choy. Essa é nossa grande bandeira, de trabalhar com nossas advogadas do sistema OAB nesse empoderamento e informação. Com a informação conseguimos quebrar o silêncio e salvar vidas”.