Mulheres de cabelo raspado quebram estereótipos no SPFW

Enviado por / FontePor Carolina Vasone, do Elle

Assim como em outros momentos da moda, a tendência ficou mais forte primeiro nas ruas para depois subir nas passarelas.

Um movimento radical e sinalizador da tomada de poder da mulher nesse exato momento em que a gente vive tem pipocado nas ruas e nas passarelas. Símbolo histórico da sedução feminina, os cabelos têm sumido da cabeça de muitas garotas. Radar do comportamento mais avant-garde da sociedade, as millenials são as protagonistas desse movimento, que traz uma grande diferença em relação às punks de outrora: a cabeça raspada não é mais somente sinal de rebeldia e feminismo (importantes e muito bem vindos), mas de tudo o que ela quiser transmitir, incluindo a sensualidade. Basta abranger um pouco mais o olhar sempre preso no conforto do padrão – ou ditadura – da beleza clássica cheia de regrinhas aprisionantes e ela está lá.

Iodice SPFW - N42 Outubro / 2016 foto: Ze Takahashi / FOTOSITE
Foto: Imagem retirada do site Elle

Assim como em outros momentos da moda – da estética punk ao hip hop -, a tendência ficou mais forte primeiro nas ruas, para depois subir nas passarelas em cabeças de modelos como Zyom e Kátia André. Não são muitas, mas chamam tanto a atenção que ganham efeito multiplicador onipresente. Já entre as convidadas do SPFW, o número é expressivo, e coloca na prática o que os desfiles idealizam: a carequinha interpretada em diferentes estilos de se vestir, com vestidos delicados, looks conceituais ou de streetwear. O contraste é radical e fica harmônico, como no vestido vermelho da Iódice. E ainda faz com que tudo o que é mais curto, justo e sexy ganhe ares modernos, graças ao corte de cabelo.

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Foto: Imagem retirada do site Elle

O cabelo raspado nas mulheres não é novidade mas exibe hoje, talvez, sua versão mais abrangente e positiva. Houve, antes, claro, Grace Jones, uma ode à beleza e força da mulher desprovida de cabeleira. “Meu cabelo raspado tornou minha imagem mais abstrata, menos ligada a uma etnia ou a um gênero específico. Eu era mulher, e não; negra, e não. Norte-americana, mas jamaicana. Africana, mas ficção científica”, disse a musa de estilo dos anos 1980 em seu livro I’ll never write my memories. E disse mais. “Raspar o meu cabelo fez com que eu tivesse o meu primeiro orgasmo.”

Se no Egito antigo homens e mulheres já raspavam a cabeça como símbolo de limpeza e para se refrescar do calor das Arábias, as religiosas europeias o faziam como prova de devoção, enquanto a igreja católica, durante a Idade Média, usava o artifício – contra a vontade das mulheres – como punição (Joana D’Arc foi queimada viva e careca). Recentemente, o seriado cult Stranger Things usa uma associação parecida, de aprisionamento, ao mostrar sua personagem Eleven, uma garota de 12 anos que vive sob confinamento sem cabelo, numa analogia da falta de madeixas com a falta de identidade. Acontece que a gente interpretou o contrário e ela virou ícone de estilo como um sinal dos novos e esperançosos bons tempos. Aos poucos, mas cada vez mais, a sedução feminina (e não estou me referindo apenas à sedução sexual) vem não necessariamente do que está em cima da cabeça. Mas do que está dentro dela.

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Foto: Imagem retirada do site Elle

Foto em destaque: Reprodução/ Elle

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