Luciane Dom impressiona quando começa a cantar. Com voz potente, ela é uma daquelas surpresas boas, que quando a gente escuta não quer mais parar. Acaba de lançar seu primeiro clipe, esse num plano sequência incrível e de rara beleza.
Por Karina Vieira Do Meninas Black Power
MBP – Quem é você?
Luciane Dom – Sou Luciane Dom, uma mulher bastante questionadora e argumentativa.
MBP – Como se deu a descoberta da sua negritude?
LD – Descobri minha negritude desde criança. Meus pais sempre se preocuparam em conversar comigo sobre identidade, apesar de na época não entender nada disso. Eu tive bonecas pretas, sempre usei tranças, a música que ouvíamos era música gospel americana, então cresci ouvindo aqueles corais negros e me sentia representada. Eu estudei em um colégio particular na infância e a maioria dos alunos eram brancos; meu apelido era “apagão” e “peste negra”… Logo, toda semana eu denunciava meus colegas de classe. Meus pais sempre foram muito ativos no colégio, frequentavam as reuniões de pais e professores para falar de racismo e me ensinaram a me defender com argumentos.
MBP – O que te levou a escolher a sua profissão?
LD – Eu estou me formando em História na UERJ, mas não pretendo trabalhar na área. Quero fazer o que amo fazer desde menina, que é cantar. Eu fui fazer História porque gostava muito de argumentar e criticar, sou questionadora desde criança, daí saí de Paraíba do Sul para vir estudar. Aqui no Rio de Janeiro decidi que arriscaria trabalhar só com música, já que além de cantar eu também componho. Eu sou inquieta com a questão de raça no Brasil e isso é um tema que trabalho desde a faculdade, então acabo fazendo músicas nesta temática. Quero ser reconhecida como cantora e continuar fazendo esse trabalho de valorização da identidade negra. É fundamental que sejamos vistos de forma positiva na sociedade. Mês que vem finalizo meu CD que se chama “Liberte esse Banzo”, nele eu falo de empoderamento e luta diária como mulher-negra.
MBP – Como foi o caminho da sua graduação?
LD – Foi bastante complexo… Peguei muitas greves, professores desestimulados, mas eu consegui ter uma boa base de formação porque eu fazia parte do Laboratório de Políticas Publicas da UERJ, e lá eu lia bastante coisa e tinha bons tutores.
MBP – Quem são as pretas e pretos que te inspiram?
LD – Ahh, vários! Me inspiro no Gilberto Gil, Itamar Assunção, Johnny Alf (sou apaixonada por suas músicas), Carolina de Jesus, minha bisavó – que tive a sorte de conviver até os 15 anos – dona Altiva Cabral, Elza Soares, Solange Knowles, Erykah Badu…
MBP – Quem é aquela mulher preta que você conhece e quer que o mundo conheça também?
LD – Mahmundi.
MBP – Na sua trajetória profissional o quanto avançamos e o que ainda temos que avançar?
LD – Ihh, falta muita estrada, mas já temos alguns avanços… Eu tenho visto várias mulheres pretas se empoderando e abrindo caminhos através da música, das artes em geral, mas ainda precisamos avançar em divulgação e propagação dos nossos trabalhos. Acho que ainda estamos muito presas à uma mídia branca que acaba silenciando nossa voz.
MBP – Como você lida com a sua estética negra?
LD – Eu cuido bastante da minha pele, uso pouca maquiagem, uso protetor solar, faço esfoliações e hidratações com frequência. Cuido bastante do cabelo também, toda semana hidrato, faço umectação. Para pele eu gosto dos produtos de limpeza da Mary Kay… Para o cabelo, tenho usado uma gelatina da Capicilin que modela os cachos. To totalmente feliz com minha aparência!
MBP – O que é representatividade pra você?
LD – Representatividade é se ver no outro. É se sentir identificado ou representar algo para alguém. Representatividade preta é ser visto não só nos mesmos lugares sociais que nos impuseram desde a escravização, mas mostrar que podemos ter acesso ao lugar que quisermos quando quisermos! #representatividadeimporta #representatividadepretaimporta #liberteessebanzo
Conheça a música de Luciane Dom:
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