Mulheres quilombolas brasileiras serão destaque na exposição fotográfica Women by Women, da ActionAid, em Londres

07/10/25
ActionAid

A exposição Women by Women, realizada pela ActionAid desde 2020, em Londres, terá o Brasil entre os protagonistas na edição de 2025: mulheres quilombolas quebradeiras de coco babaçu do Maranhão serão retratadas na Oxo Gallery. Intitulada Rooted in Resilience (“Resiliência enraizada”, em tradução livre), a mostra gratuita estará aberta para visitação entre os dias 9 e 12 de outubro, mas também pode ser vista na versão digital da exposição. As fotos são assinadas também por uma brasileira, a artista visual paraense Nay Jinknss.

Kleidianny Ferreira, de 36 anos, Bárbara dos Santos, de 29 anos, e Antônia Pereira, de 67 anos, terão suas histórias apresentadas por meio dos registros feitos por Nay Jinknss durante encontros realizados em suas próprias casas, no interior do Maranhão. A fotógrafa tem como foco valorizar as pessoas reais e suas comunidades, em total sintonia com o mote do projeto da ActionAid.

Quebradeiras de coco: sustento, tradição e resistência

As mulheres quebradeiras de coco babaçu retratadas na exposição fazem parte da Associação de Mulheres Quebradeiras de Coco (AMTQC) e contam com apoio da Associação em Área de Assentamento no Estado do Maranhão (ASSEMA), organização parceira da ActionAid há 25 anos.

Kleidianny, que atua como liderança local desde muito jovem, estará em Londres na abertura da exposição. Ela mora em Monte Alegre, uma comunidade quilombola do município de São Luís Gonzaga (MA), onde vive com marido e dois filhos, e atua como ativista e defensora das florestas e das palmeiras babaçu. A quebradeira concilia o trabalho rural e extrativista com a função de coordenadora geral da AMTQC.

Bárbara dos Santos entrou para a AMTQC há sete anos e, atualmente, é secretária da associação. Além de extrair cocos para produzir e comercializar seu óleo, ela é mãe e trabalha como professora do primeiro e segundo anos do ensino fundamental I.

Já Antônia Pereira começou a quebrar coco a fim de sustentar a sua família e ensinou à sua filha o ofício. Ainda hoje, ela gosta de realizar este trabalho, para se sentir ativa.

A fotógrafa e artista visual Nay Jinknss nasceu em Ananindeua, região metropolitana de Belém, no Pará.

“A fotografia pode ser ferramenta para a defesa da memória, da ancestralidade e da luta das comunidades. O que aprendo com quebradeiras de coco, pescadoras, marisqueiras e minhas avós é um conhecimento de biblioteca inteira que não se encontra na universidade, nem na internet. Meu trabalho busca preservar essa identidade e mostrar a preciosidade desses saberes e dessas vidas, que nenhum dinheiro no mundo é capaz de comprar”.

As imagens das quebradeiras foram feitas no município de São Luís Gonzaga e celebram as mulheres tanto à frente quanto atrás das câmeras para destacar as defensoras da terra. Elas estão inseridas em territórios e comunidades tradicionais no Bioma do Cerrado. Este trabalho é passado de geração em geração, de mãe para filha, fomentando uma profunda ligação com as palmeiras. Desse ofício, elas conseguem tirar seus sustentos na criação de suas famílias.

Ana Paula Brandão, Diretora Programática da ActionAid, enfatiza a importância do evento e do trabalho das mulheres retratadas:

“Às vésperas da COP30, a ActionAid reforça a urgência de colocar a justiça climática, os direitos à terra e as vozes negras, indígenas e quilombolas no centro da ação global. O exemplo das quebradeiras de coco babaçu no Maranhão mostra como gerações de mulheres sustentam suas famílias e preservam ecossistemas vitais, mesmo diante da expansão predatória da agricultura industrial. A exposição celebra essa resistência coletiva feminina e alerta para a necessidade de maior apoio e financiamento contínuo às organizações locais de mulheres que estão na linha de frente da luta por igualdade e pela proteção da vida”.

Quebradeiras de Coco Babaçu no movimento contra o desmatamento

Nas últimas décadas, com o avanço do agronegócio, as quebradeiras de coco babaçu passaram a desempenhar um papel ativo na luta para manter as florestas de pé. Na coordenação da AMTQC, Kleidianny lidera um grupo de 80 mulheres na defesa da terra e contra o desmatamento. Elas resistem aos impactos ambientais e sociais causados por grandes empresas do setor agropecuário que promovem o desmatamento das palmeiras e a contaminação dos rios para dar lugar à pecuária ou a plantações de monocultura.

“Usamos tudo que vem do babaçu. Vendemos as amêndoas e fazemos carvão com a casca do coco. Podemos usar o mesocarpo a fim de fazer óleo e adubo. A palha é usada na cobertura de casas e o talo na fabricação de cercas. Enquanto houver palmeiras, temos ciência da manutenção das quebradeiras de coco. É por isso que lutamos hoje, com o propósito de preservar os babaçuais”.

De acordo com Bárbara, fazer parte de uma associação é motivo de fortalecimento. Por meio dessa atuação, ela consegue apoiar mulheres de sua comunidade no acesso ao PGPMBio (Garantia de Preço Mínimo para Produtos Sociobiodiversos), permitindo a venda dos seus produtos com preço justo e proporcionando acesso à assistência jurídica em situações de ameaças de empresas ou incorporadoras que querem derrubar aos babaçuais.

“Quando há derrubamento das árvores, as pessoas entram em contato, e então eu posso mobilizar as outras mulheres, e vamos todas juntas à luta”.

A exposição Women by Women acontece na esteira da divulgação do relatório “Desmatamento Financiado: Quebradeiras de coco na mira do agronegócio”, produzido pela ActionAid Brasil e desenvolvido a partir dos casos denunciados no relatório “Who Pays The Price?”, da ActionAid Reino Unido, que abrange impactos climáticos de financiamentos de bancos globais a empresas do agronegócio, e da campanha Fund Our Future.

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