As mulheres trabalham em média sete horas e meia a mais que os homens toda semana. E precisam acumular as responsabilidades com as atividades domésticas, sem receber nada em troca por essa segunda jornada.
Por Victor Ribeiro Do EBC
Os dados fazem parte do Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, com informações colhidas de 1995 até 2015, e divulgado pelo Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
A pesquisadora do Ipea Natália Fontoura comemorou os avanços nesses 20 anos, mas alertou que o caminho para a igualdade entre homens e mulheres ainda é longo.
Outro dado do mercado de trabalho é que diminuiu o percentual de jovens trabalhando como domésticas. Em 1995, essa era a ocupação de mais da metade das mulheres com até 29 anos. Em 2015, correspondia a 16%. O trabalho doméstico ainda é a ocupação de uma em cada cinco mulheres negras e de uma em cada dez mulheres brancas.
Nos 20 anos de pesquisa, o rendimento da mulher negra aumentou 80%. Mas a desigualdade entre gêneros e raças é tão grande, que a escala de remuneração continua a mesma. Os maiores salários são dos homens brancos. Em seguida vêm as mulheres brancas. Depois, homens negros. E, por fim, as mulheres negras com os menores salários.
A pesquisadora Natália Fontoura destacou essa desvantagem das mulheres negras. Quando o assunto é família, o percentual de mulheres chefes de família aumentou de 23% em 1995 para 40% em 2015. Uma em cada três famílias chefiadas por mulheres tem um cônjuge homem que trabalha, mas a renda principal é mesmo a da esposa.
Outra mudança é que, em 1995, o tipo mais tradicional de família era formado por um casal heterossexual com filhos. 60% das famílias eram assim. 20 anos depois, o percentual de famílias tradicionais caiu para 42%. Elas deram lugar aos domicílios com somente uma pessoa e também a casais sem filhos.
Mesmo assim, a responsabilidade sobre as tarefas domésticas ainda pesa muito na rotina das mulheres. Para a pesquisadora do Ipea Natália Fontoura, um dos efeitos da dupla jornada é que a inserção feminina no mercado de trabalho esteve praticamente congelada nesses 20 anos, abaixo de 60%.
A pesquisa, divulgada na Semana da Mulher, também mapeou a escolaridade. Nos últimos anos, mais brasileiros e brasileiras chegaram ao nível superior. No período, a população adulta negra com 12 anos ou mais de estudo passou de 3% para 12%. Mas o patamar de educação alcançado pelos negros em 2015 é o mesmo que os brancos já tinham 20 anos antes. Em 1995, 12,5% dos adultos brancos tinham chegado à universidade. Agora, esse índice é de 26%.