Mundo terá 1 bilhão de famintos

Fonte: Tribuna do Norte

Jamil Chade –

Genebra (AE) – A crise econômica fará com que o número de famintos ultrapasse pela primeira vez a marca de 1 bilhão de pessoas em 2009. O alerta é da FAO que, ontem, publicou novas estimativas sobre o número de pessoas no planeta que sofrerão de desnutrição. A ONU já não acredita que suas metas de redução da fome pela metade até 2015 serão atingidas. Segundo a FAO, 1% dos recursos dados aos bancos na crise resolveria o problema do planeta.

Em 1996, quando o mundo contava com 840 milhões de famintos, os governos fecharam um compromisso para que em 2015 o número fosse de apenas 420 milhões. “Isso é irrealista”, admitiu o diretor da FAO, Jacques Diouf. “Pela primeira vez na história da humanidade, mais de 1 bilhão de pessoas, concretamente 1,02 bilhão, sofrerão de desnutrição em todo o mundo”, advertiu. Uma das opções da ONU é a de adiar a meta para 2025 e seguir o exemplo dos entendimentos feitos na América Latina.Mas o número é ainda um atestado de óbito às estratégias da ONU e às cúpulas realizadas sobre o assunto. Mesmo assim, a FAO anunciou hoje que convoca para novembro uma nova reunião de chefes de estado para tratar do assunto e conseguir investimentos para a agricultura. Diouf estima que essa será a forma de superar a fome.

Para a diretora do Programa da ONU para Alimentos, Josette Sheeran, com apenas 1% do valor dado aos bancos, a fome poderia ser solucionada. Mas sua entidade está sendo obrigada a cortar a ração distribuída em Uganda, Etiópia e outros lugares. “Tenho apenas 25% do orçamento que preciso para alimentar as pessoas mais necessitadas”, disse. No total, ela pede um orçamento de US$ 6 bilhões, um terço do que receberam as empresas automotivas nos Estados Unidos.

Segundo ela, entre 1969 e 2000, a proporção de famintos no mundo passou de 37% da população mundial para 18%. Hoje, essa proporção está em 15%. Porém, o porcentual começa a aumentar.

A FAO define como subnutrida a pessoa que ingere menos de 1,8 mil calorias por dia. O aumento do número de famintos começou a ocorrer já em 2008, quando a crise de alimentos deixou milhões sem recursos para adquirir comida. Agora, a recessão fez com que as remessas de recursos de imigrantes a suas famílias diminuíssem, os investimentos caíram e as doações secaram. O resultado é uma alta de mais de 100 milhões entre os famintos registrados em 2008 e o que se prevê para o final de 2009. O aumento previsto é de 11%.

Em termos absolutos, o diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico Agrícola da FAO, Kostas Stamoulis, insiste que essa é a primeira vez na história que o mundo tem tantos famintos. A constatação da FAO é de que o mundo vive uma contradição, já que 2009 verá uma das maiores safras da história. “Não há falta de comida, há falta de acesso. O problema não é um desastre natural nem de safra. O problema é econômico. É o resultado do desemprego, da queda de renda”, observou.

 

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