A não representação da mulher negra na mídia

No dia 16 de setembro, a Globo estreia o seriado “Sexo e as negas”, de autoria de Miguel Falabella. O autor sugere que o programa é uma paródia ao seriado estadunidense “Sex and the City”. No lugar de Nova York, a versão brasileira tem como cenário a cidade alta de Cordovil, subúrbio carioca. No lugar de quatro mulheres brancas bem sucedidas, estão as negras Tilde (Corina Sabbas) uma operária, Zulma (Karin Hills) camareira, Lia (Lilian Valeska) costureira e Soraia (Maria Bia) é cozinheira.

Nem mesmo foi ao ar e o programa já recebe críticas contundentes do movimento de mulheres negras, que o consideram racista e machista. Indo na contramão do que deveria propor uma emissora que se utiliza de concessão pública, o programa reforça uma série de estereótipos a cerca da mulher negra como sua associação à pobreza, a empregos mal remunerados e à hiperssexualização de seus corpos.

É claro que existem mulheres negras camareiras, costureiras, mas também há as advogadas, arquitetas, professoras, ou seja, “a realidade da mulher negra vai além desses estereótipos que o Miguel Falabella vai reportar”, afirma Gabi Porfírio, no episódio 1 do programa “#As nega real”, iniciativa do Blogueiras Negras.

Para além da representação negativa da mulher negra na mídia, o seriado é escrito por um homem branco e narrado por uma personagem branca – Jesuína, interpretada pela atriz Cláudia Jimenez, dona de um bar onde as amigas se encontram para discutir seus problemas e de onde saem para trabalhar e se relacionar. Esses dois elementos acabam por tirar o protagonismo das mulheres negras, enquanto autoras e narradoras de suas próprias histórias. Dizer, portanto que “Sexo e as negas” é um seriado protagonizado pro negras não cabe nesse contexto.

Na coletiva de imprensa do seriado, Falabella tentou se explicar: “eu já vi as críticas na internet. Só no Brasil as pessoas falam do programa antes de assistir. Eu escolhi esse nome como uma prosódia do jeito carioca de falar, inclusive por isso não tem o ‘r’ em negras. Por esse motivo também tinha que ser eu mesmo falando o nome no final da vinheta. As pessoas precisam encarar com humor. Mas é isso, as pessoas têm que protestar mesmo. Este país precisa de protestos”.

Menos de uma semana da estreia do seriado, já há boicote organizado na internet e a Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial recebeu três denúncias de racismo contra o programa. A Secretaria se comprometeu a averiguas as denúncias e notificará a emissora, se julgar necessário. No Facebook, a página intitulada Boicote Nacional ao programa “Sexo e as negas” da rede Globo, estimula as pessoas a não assistirem ao programa e recebe depoimentos de mulheres negras que revelam suas profissões e afirmam não serem representadas pelo programa.

Em tempos nos quais todos os dias temos notícias sobre racismo, é louvável as mulheres negras se articulares dessa maneira para afirmarem que não aceitam mais serem tratadas de forma estereotipada pela mídia e que querem contar suas histórias da maneira que julgarem mais apropriada. Toda a solidariedade à luta de nossas companheiras negras.

O assunto está sendo coberto pelo Blogueiras Negras, vale a pena acompanhar.

Luciana Mendonça, São Paulo

 

 

Fonte: A Verdade

+ sobre o tema

Barbie homenageia Madam C.J. Walker, primeira milionária dos EUA

A Barbie acaba de lançar mais uma boneca em...

Marco Feliciano tira sarro da cara de todo mundo porque pode

A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE NÃO PERDE BALCÃO DE NEGÓCIOS Por: Fátima...

Seppir e Mp de Minas Gerais firmam parceria pela promoção da igualdade racial

Assinatura de cooperação será nesta segunda (03/06), na sede...

para lembrar

Ferramenta anticolonial poderosa: os 30 anos de interseccionalidade

Carla Akotirene, autora de Interseccionalidade, pela Coleção Feminismos Plurais,...

Rosana Paulino: a mulher negra na arte

Longe de negar sua realidade e condicionar sua produção...

Carta aberta a Beatriz, Joacine e Romualda

Mais de 45 anos depois da ditadura, temos a...

Raça e educação por Sueli Carneiro

Os estereótipos dos professores a respeito da educabilidade das...
spot_imgspot_img

Poesia: Ela gritou Mu-lamb-boooo!

Eita pombagira que riscaseu ponto no chãoJoga o corpo da meninade joelho num surrão. Grita ao vento seu nomeComo se quisesse dizerQue mulher tem que...

A mulher negra no mercado de trabalho

O universo do trabalho vem sofrendo significativas mudanças no que tange a sua organização, estrutura produtiva e relações hierárquicas. Essa transição está sob forte...

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....
-+=