Nascido em Pará de Minas, Benjamim de Oliveira, primeiro palhaço negro do país será tema de samba-enredo do Salgueiro no carnaval 2020

Benjamim de Oliveira nasceu em 1870 e revolucionou a história do circo e teatro no Brasil.

Por MG2

Benjamim de Oliveira nasceu em Pará de Minas em 1870 — Foto- Reprodução:TV Integração

Benjamim de Oliveira, nascido em Pará de Minas e o primeiro palhaço negro do Brasil, será tema do samba-enredo da Acadêmicos do Salgueiro no carnaval carioca de 2020. O artista, nascido em 11 de junho de 1870, revolucionou a história do circo e teatro no país.

“A escola fez um contato e nós colocamos todo o material histórico, o nosso arquivo público, o Museu Municipal, toda a documentação que nós temos referente ao Benjamim Oliveira e a sua família à disposição da escola”, contou o secretário municipal de Cultura, Paulo Duarte.

Filho de escravos, Benjamin de Oliveira teve uma infância sofrida, ele apanhava muito do pai. O menino morava na zona rural e direto ia para a região central vender quitandas, para ajudar a família. Aos 12 anos ele estava na Praça Francisco Torquato, quando viu um circo e resolveu fugir. Com a trupe do circo Sotero, Benjamim viajou pelo sertão mineiro e fez de tudo um pouco.

Benjamim fez diversas coisas durante a carreira artística- foi palhaço, ator, diretor, tocava violão e fez sucesso no Rio de Janeiro e São Paulo — Foto- Reprodução:TV Integração

O MG2 perguntou para a direção do Salgueiro o motivo do palhaço Benjamim ter sido selecionado. Em vídeo enviado à produção, o carnavalesco Alex de Souza falou como foi a escolha do palhaço de Pará de Minas como samba-enredo de uma das maiores escolas de samba do Rio de Janeiro.

“Eu estava em busca de um enredo que fosse realmente emocionante, um enredo que tocasse. E fazendo uma pesquisa sobre o Rei Momo esbarrei com Benjamim de Oliveira. Eu estava fazendo uma pesquisa sobre a obra Guarani e esbarrei no Benjamim de Oliveira. E parecia que uma voz me disse assim ‘porque você não faz Benjamim de Oliveira?’, e aí eu comecei a pesquisar, procurar data de nascimento e morte. A coincidência foi que ele completará, em 2020, 150 anos. Uma história de vida que foi um grande exemplo para todas as pessoas, um grande gênio. Quando se fala em Benjamim de Oliveira naturalmente se fala em ser o primeiro palhaço negro do Brasil, só que acho que isso é pouco diante de tudo que ele foi capaz de fazer”, contou o carnavalesco.

No Museu Histórico de Pará de Minas há muito pouco sobre a vida do palhaço: por ser uma história mais antiga e também porque Benjamim ficou conhecido primeiro no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Alguns dizem que o palhaço pintava o rosto de branco para fugir do preconceito — Foto- Reprodução:TV Integração

O que se sabe da época é que ele virou palhaço por acaso, depois que um profissional não conseguiu se apresentar no circo. O artista negro pintava o rosto de branco, dizem que era para fugir do preconceito.

“O interessante de todo processo é o interesse da escola em retratar, através da história do Benjamim, a força que as minorias têm hoje em dia, a força do artista negro, quantos conseguem hoje o reconhecimento do seu trabalho”, opina Paulo.

Hoje, o palhaço é lembrado em um dos principais cartões postais de Pará de Minas. A obra no Parque do Bariri foi inaugurada em 2013, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.

“Ele não foi somente palhaço. Ele tocava violão, ele compunha músicas. Inclusive ele tem música em parceria com o Catulo da Paixão Cearense, ele escrevia peças, levou o teatro para dentro do circo”, conta a diretora do Museu, Ana Maria Campos.

A estátua em homenagem a Benjamin foi esculpida em bronze e traz características bem reais do artista. Por fotografias, dá para perceber que o palhaço era bem magro e pequeno, tinha no máximo 1,70 m de altura.

Benjamim de Oliveira — Foto- Reprodução:TV Integração

Embora a história Benjamin tenha momentos difíceis, no picadeiro ele estava sempre sorriso. “Tomando conhecimento do tamanho da obra dele ouvia que as homenagens feitas a ele eram muito singelas. Pela grandeza do artista que ele é”, elogia o artista plástico Alexandre Pinto.

Palhaço há 44 anos, Rogério Galvão de Faria lembra que Benjamim de Oliveira foi um grande incentivador da carreira dele. A notícia da homenagem no carnaval carioca trouxe esperança para quem ainda tem o sonho de viver da arte. “A gente fica feliz né, do nosso artista nascido em Pará de Minas, que foi sucesso no estado do Rio de Janeiro como diretor de teatro, ator, cantor, palhaço. A história dele é muito bonita”, conta.

Benjamim de Oliveira — Foto- Reprodução:TV Integração

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