Negros ainda não ocupam o lugar que lhes é devido na sociedade

Por Nilma Lino Gomes, ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.

No Seppir 

O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, é uma data para ser lembrada não apenas pela população negra, mas por todos que acreditam ser possível construir um país mais justo e democrático, o que passa, necessariamente, pela redução das desigualdades e pelo combate do preconceito racial e de todas as formas de discriminação.

A data foi pensada em 1971, em plena ditadura militar brasileira, por um grupo de militantes negros que costumava se reunir em Porto Alegre para discutir a situação dos descendentes de africanos no Brasil. Entre eles estava o escritor, professor e poeta Oliveira Silveira (1941-2009) que propôs o 20 de novembro por ser o provável dia da morte do líder Zumbi dos Palmares, ocorrido em 1695. A proposta foi acolhida por aqueles que lutavam contra a discriminação racial no país e posteriormente foi instituída pelo Movimento Negro Unificado, no final dos anos 1970.

Desde então, a data ganhou um número maior de adeptos, extrapolou os limites da militância negra e conquistou outros movimentos até chegar às escolas, passando a fazer parte do calendário escolar em 2003. Oito anos depois, em 2011, a presidente Dilma Rousseff, por meio da lei 12.519, estabeleceu o 20 de novembro como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que hoje é celebrado como feriado local em algumas cidades brasileiras.

A data cívica representa um registro na história da resistência negra à escravidão, à falta de liberdade e de cidadania, além de nos lembrar que, apesar dos avanços já conquistados, ainda estamos longe de superar o abismo da desigualdade racial no Brasil.

Ao longo dos últimos anos, avanços significativos vieram com a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial, coordenada pela Seppir (Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial), por meio de ações afirmativas que visam reduzir as desigualdades associadas à raça e a etnia, como a Lei de Cotas nas universidades e nos concursos públicos, e, em 2010, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, um documento que norteia a garantia e defesa dos direitos individuais e coletivos da população negra, o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica, racial e religiosa.

Mas, ainda é preciso fazer muito mais para garantir maior participação e cidadania às cidadãs e cidadãos negros do nosso país que majoritariamente vivem abaixo da linha de pobreza, enfrentam dificuldades no acesso a bens e serviços e convivem cotidianamente com situações perversas decorrentes do preconceito e da discriminação racial.

Que este 20 de novembro, celebrado em plena Década Internacional dos Afrodescendentes, seja um momento de reflexão sobre o papel histórico da população negra na formação do país, revigorando e fortalecendo a luta do movimento pela garantia de direitos iguais para que a população negra ocupe o lugar que lhe é devido na sociedade brasileira, ou seja, qualquer lugar em que almeje estar.

+ sobre o tema

Exorcismo revolucionário

O que Pele negra, máscaras brancas, de Frantz Fanon...

Você sabia que o Caribe só dá “flor ariana” na imaginação do autor de novela brasileiro?

As evidências mais explícitas da manutenção do projeto racista...

Deputado retira de pauta na Câmara artigo sobre cota racial para TV

Deputado retira de pauta na Câmara artigo sobre cota...

Da importância de bonecas negras: Uma coleção de questões

Uma coleção de questões enviado por Fernanda Vilar para PortalGeledés Falamos muito...

para lembrar

“Se é negro…Tem que me servir?”: Mulheres dão a melhor resposta ao racismo em shopping de SP

Ao vivenciarem mais uma situação de racismo, quatro mulheres...

Japão recebe críticas da ONU após onda de xenofobia nas ruas

Por: Ewerthon Tobace Uma recente onda de casos de xenofobia...

ONG faz mapa interativo com mais de 180 instituições com sistema de cotas

Educafro mapeia políticas de ação afirmativa na educação desde...

O que a intolerância religiosa tem a ver com racismo?

Brasil registra uma denúncia de intolerância religiosa a cada...
spot_imgspot_img

Polícia mata duas pessoas por dia em São Paulo, apontam dados do Ministério da Justiça

Mais de 5 mil pessoas morreram em decorrência de intervenções policiais entre janeiro e outubro deste ano no Brasil, de acordo com dados do...

É melhor ser alegre

A trend “Como eu vou ser triste se em 2024...” está rolando em praticamente todas as redes sociais e é uma das melhores e...

Geledés manifesta repúdio ao caso de racismo contra Egbom Lindinalva Barbosa

Na madrugada de segunda-feira (9), Lindinalva Barbosa, Omorixá Oyá do Terreiro do Cobre, na Bahia, foi vítima de racismo religioso no Aeroporto Internacional do...
-+=