Um repórter português em busca da personagem de Nelson Mandela
Na história há poucas figuras com a estatura política de Nelson Mandela e escrever um livro sobre o antigo presidente sul-africano é um desafio que deve assustar os autores mais corajosos.
Mas a coragem não faltou a António Mateus, jornalista da RTP que arriscou a sua vida a cobrir a transição sul-africana, quando trabalhou para a Lusa em Joanesburgo, entre 1990 e 1996 (depois, num segundo período, entre 2000 e 2003). Mandela, a Construção de Um Homem, da Oficina do Livro, é o relato de um período complexo e sobretudo a tentativa de compreender Nelson Mandela, conhecido por Madiba, e que já tem lugar na história.
Mateus testemunhou como jornalista os conflitos de Moçambique e de Angola, mas este livro centra-se no perigoso estertor do apartheid e na transição sul-africana. Tudo gira em torno de Mandela, que o autor conheceu pessoalmente, mas que paira a certa distância da narração. A leitura torna claro até que ponto os sul-africanos tiveram sorte. Sem Madiba, a transição talvez culminasse em guerra civil.
O autor do livro nunca esconde a sua admiração por Mandela. Alguns capítulos são comoventes e este é um daqueles livros que melhoram à medida que se progride na leitura. A história do jogo de râguebi, a viagem de reconciliação a Orânia, o prognóstico falhado de um português, a cena do tiroteio sobre a manifestação do Inkhata, a visita de Mandela a um vizinho português ou o testemunho de Zelda la Grange são momentos intensos de um trabalho que o prefaciador, António Vitorino, resume de forma feliz, ao referir que se trata de um “testemunho vivo e vivido”.
A África do Sul assistiu a uma transição miraculosa e repleta de drama. E o livro faz justiça ao tema difícil que propõe ao leitor. Apesar destas qualidades, a obra é por vezes imprecisa em relação ao tempo dos episódios (sobretudo no início) e há excesso de pormenores do autor, a distrair do essencial, que é Mandela. Mas os eventuais defeitos são superados pelo que se aprende com esta personagem fascinante que conseguiu conciliar o irreconciliável. A obra é apresentada hoje por Cândida Pinto e António Vitorino, no Colégio Militar, em Lisboa, às 19.00.
Fonte: DN Sapo