Netflix, black power e o racismo implícito em nós

Kendrick Lamar no Grammy 2016. #OscarSoWhite. #BlackLivesMatter. Beyoncé no Super Bowl 50. Lemonade. Donald Trump. Estes são alguns exemplos que provam o quanto a questão do preconceito racial veio à tona durante o ano de 2016 nos Estados Unidos e, consequentemente, no mundo.

Por Ygor Pinheiro, do Café Radioativo 

Recentemente, a Netflix lançou a primeira parte da sua nova série original “The Get Down”. Atendendo aos pedidos de maior representatividade e diversidade na TV, a série aborda a história de surgimento do hip hop nos EUA de maneira ficcional e com a maior parte do elenco formado por pessoas negras e latinas. Dirigida por Baz Luhrmann (“Moulin Rouge”, “O Grande Gatsby” e “Romeu e Julieta”) e com o auxílio do rapper Nas na produção executiva, a série era altamente aguardada por quase todos na internet.

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Os 6 primeiros episódios foram liberados no serviço de streaming. Os comentários foram intensos nos primeiros dias de exibição, porém, ainda na primeira semana, começaram a diminuir. Duas semanas após o lançamento ninguém mais ouvia falar sobre. Um mês depois, sites de notícias passaram a noticiar que a série havia obtido a menor taxa de audiência até hoje dentre as produzidas pela Netflix. Boatos de cancelamento começaram a ser espalhados.

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Na última sexta feira (30/09), a empresa demonstrou novamente não ter medo de investir no novo e lançou mais uma série com a maioria dos protagonistas negros e que celebra a sua cultura, “Luke Cage”. A série trata sobre Luke, um homem comum que adquire super força e invencibilidade ao ser vítima de um experimento científico. História padrão de super-heróis de quadrinhos. Tendo sido anteriormente apresentado para a TV na série “Jessica Jones”, Luke Cage é um super-herói que vem dos quadrinhos da editora Marvel, cuja origem está fortemente entrelaçada aos filmes do gênero blaxploitation da década de 1970. Tal gênero, é conhecido por exagerar as “características” dos negros, como malandragem, sensualidade, agressividade e etc. Um produto da estereotipização clássica desse povo e de alto entretenimento para uma audiência majoritariamente branca.

Por isso, devido ao momento de tensão sobre as questões raciais no qual vivemos atualmente, os produtores da série optaram por abandonar esse ponto de vista sobre o personagem e criá-lo de acordo com essa nova realidade. Na série da Netflix, podemos ter um ótimo exemplo do quão multifacetado o negro é e ainda do quão rica é a sua cultura, sem quaisquer tipos de estereótipos. No entanto, parece que isto por si só não foi capaz de agradar os críticos e a série já tem críticas entre medianas e ruins, algumas das quais criticam exatamente o abandono do blaxploitation e a “falta de diversão” na série.

Por fim, será que nenhuma das duas séries é realmente boa ou há uma dificuldade entre as pessoas brancas (maioria do público consumidor) em consumir algo com o qual não conseguem se identificar? “How To Get Away With Murder” e “Scandal”, séries conhecidas por suas protagonistas negras, tornam-se mais fáceis de “digerir” pois dentre os coadjuvantes ainda existe uma grande quantidade de personagens de etnia branca, mas e quando isso não acontece? Negros podem assistir séries, filmes e documentários que orbitam o maravilhoso mundo dominado por brancos durante toda as suas vidas e ainda conseguir se identificar, por que o contrário não pode ocorrer em momentos raros como esse? Parece que ainda vivemos em uma sociedade que insiste em manter seus padrões etnocentristas de vida, porém, se envergonha de declará-los.

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