Nos EUA, homem foi eletrocutado duas vezes em um ano

Fonte: UOL Internacional –

A execução de um preso de Louisiana, em meados dos anos 40, teve que se repetir por causa da negligência de um guarda que não verificou o funcionamento da cadeira elétrica

 

Outro ser humano compartilha com Romell Brown a triste estatística de ter sobrevivido à execução nos Estados Unidos: Willie Francis também sentiu a sensação angustiante de achar que deveria estar morto, mas continuar respirando. Com os músculos doloridos como se os tivessem “cortado com lâminas”, Francis tropeçou nos primeiros passos, mas acabou abandonando a sala de execuções caminhando com os próprios pés depois de ter suportado uma descarga de 2.500 volts. Duas vezes.

 

“Tirem isso, tirem isso!”, suplicou Francis a seus carrascos referindo-se ao capuz de couro que cobria seu rosto e prendia sua cabeça à cadeira elétrica. “Não consigo respirar!”, gritou depois de receber a primeira descarga.

 

Gruesome Gertie, como é conhecida a cadeira elétrica de triste fama da Louisiana, nos Estados Unidos, não acabou com a vida de Francis em 1946. Um preso que fazia a função de guarda não verificou bem o funcionamento da horripilante Gertie porque estava bêbado. Tudo isso é contado em detalhes no livro “The Execution of Willie Francis” [“A Execução de Willie Francis”], de Gilbert King.

“Não é para você respirar!”, respondeu o capitão Foster depois de lançar um olhar incrédulo sobre o condenado. Em seguida aplicou uma nova descarga sobre o corpo de 17 anos do negro condenado por assassinato.

 

“Não estou morrendo!”, disse Francis entre gritos convulsos.

Gruesome Gertie, como é conhecida a cadeira elétrica de triste fama da Louisiana, não acabou com a vida de Francis em 1946. Um preso que fazia a função de guarda não verificou bem o funcionamento da horripilante Gertie porque estava bêbado. Tudo isso é contado em detalhes no livro “The Execution of Willie Francis” [“A Execução de Willie Francis”], de Gilbert King. Gruesome Gertie fez seu trabalho um ano depois, em 9 de maio de 1947. “Estou pronto para morrer”, declarou Francis. Pela segunda vez.

 

Entre os episódios de Willie Francis e Romell Brown se passou mais de meio século. A pena de morte foi suspensa em 1972 e reinstaurada em 1976. Desde então, os Estados Unidos executaram 1.175 pessoas. Essa prática alcançou seu pico mais alto em 1999, quando se consumaram 98 execuções. Quase dez anos depois, em 2008, foram dadas apenas 111 sentenças de morte – em comparação às mais de 280-300 dadas na década de 90 – e 37 homens foram executados (só 11 mulheres morreram nas mãos do Estado desde 1976, a última foi Frances Newton em 2005, no Texas). Há um espanhol no corredor da morte: Pablo Ibar, condenado em 2000 na Flórida pelo assassinato de três pessoas e cujos advogados tentam anular o julgamento e sua declaração de inocência depois de conseguir reabrir o caso alegando que ele teve uma defesa inadequada. Há mais de 40 casos documentados de execuções descuidadas, que os grupos contrários à pena de morte atribuem à falta de preparo dos funcionários e à crueldade dos métodos. Numa eletrocussão no Alabama, os eletrodos colados à perna do condenado se prenderam. Com o corpo em chamas, o coração do condenado ainda estava batendo quando o carrasco foi certificar-se da morte.

 

Dos 50 Estados da União, 35 deles dão sinal verde para a pena de morte em suas legislações. Mas a prática está quase totalmente limitada aos Estados do sul, onde foram registradas todas exceto duas execuções no ano passado. Ambas foram realizadas em Ohio. É também lá que Romell Brown deveria ter morrido há menos de um mês.

 

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