Nota de Repúdio ao incentivo à homofobia na USP

Por: Julio Caetano

 

 

A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), entidade que congrega 237 organizações em todo o Brasil, e que tem como missão a defesa e promoção da cidadania das pessoas LGBT, vem a público REPUDIAR de forma veemente a homofobia pregada pelo jornal dos/das acadêmicos/as da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), “O Parasita”, que ofereceu um convite VIP para uma “festa brega” às pessoas que jogassem fezes em um gay (matéria abaixo).

 

A ABGLT pede ao Ministério Público, à administração da USP e às autoridades competentes, que tomem as devidas providências para apurar o caso e identificar os/as responsáveis, os/as quais deverão ser punidos/as exemplarmente.

 

Tendo em vista que este é o segundo caso noticiado de agressão homofóbica em menos de dois anos ocorrido na USP, entendemos também que cabe à administração da instituição tomar medidas corretivas práticas no sentido de promover a sensibilização do corpo docente e discente, funcionários/as em relação ao respeito à diversidade humana, inclusive o respeito a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, conforme deliberado na Conferência Nacional de Educação e na Conferencia Nacional  LGBT.

 

O episódio serve de exemplo para demonstrar que a falta de uma lei federal que criminalize a homofobia gera a violência vivenciada diariamente pela comunidade LGBT. Em vez de terem seus direitos protegidos, as pessoas LGBT são vítimas da impunidade. Basta considerar o que teriam sido as consequências se o objeto da matéria do “Parasita” tivessem sido os negros, por exemplo. Neste caso, as disposições punitivas da lei já estariam sendo cumpridas.

 

A ABGLT espera que parlamentares federais comprometidos/as com a paz, com a democracia, com o respeito à diversidade humana e à dignidade das pessoas, façam a sua parte, aprovando o Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 122/2006 que, entre outras formas de discriminação, pune a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero.

 

Estes são motivos pelos quais a ABGLT está promovendo a 1ª Marcha Nacional contra a Homofobia, que terá sua concentração a partir das 9 horas do dia 19 de maio de 2010, na Esplanada dos Ministérios em Brasília – DF, com a presença de militantes LGBT e aliados/as vindos/as em caravana de todas as 27 unidades de federação.

 

Pelo respeito à dignidade das pessoas

Pela aprovação do PLC 122/2006

Pela garantia do Estado Laico

Pelo fim do fundamentalismo religioso

 

Diretoria da ABGLT, 22 de abril de 2010

www.abglt.org.br

 

 

Texto extraído de “O Parasita” de abril e maio deste ano:

 

“Lançe-merdas e Brega será na Faixa – Ultimamente nossa gloriosa faculdade vem sendo palco de cenas totalmente inadmissíveis. Ano passado, tivemos o famoso episódio em que 2 viadinhos trocaram beijos em uma festa no porão de med. Como se já não bastasse, um deles trajava uma camiseta da Atlética. Porra, manchar o nome de uma instituição da nossa faculdade em teritório dos medicus não pode ser tolerado. Na última festa dos bixos, os mesmos viadinhos citados acima, aprontaram uma pior ainda. Os seres se trancaram em uma cabine do banheiro, enquanto se ouviam dizeres do tipo “Aí, tira a mão daí.” Se as coisas continuarem assim, nossa faculdade vai virar uma ECA. Para retornar a ordem na nossa querida Farmácia, O Parasita lança um desafio, jogue merda em um viado, que você receberá, totalmente grátis, um convite de luxo para a Festa Brega 2010. Contamos com a colaboração de todos. Joãozinho Zé-Ruela”

 

 

Jornal O Parasita Reprodução do Jornal O Parasita

Jornal O Parasita capa

Jornal de alunos de farmácia da USP pede para jogar fezes em gays

Em troca, periódico dá convite para festa brega em SP.
Defensoria acusa veículo de homofobia; autores não foram localizados.

Juliana Cardilli e Kleber Tomaz Do G1 SP

Jornal O Parasita Reprodução do Jornal O Parasita (Foto: Reprodução)

Um jornal dos alunos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP causou repúdio no meio estudantil e acadêmico ao realizar uma promoção polêmica. “O Parasita” oferece um convite a uma “festa brega” aos estudantes do curso que, em troca, jogarem fezes em um gay.

A Defensoria Pública do Estado de São Paulo teve conhecimento do texto (leia-o na íntegra abaixo) e informou nesta sexta-feira (23) à noite que irá denunciar o periódico semestral por homofobia à Comissão Processante Especial da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.

Além disso, a Coordenadoria de Políticas Públicas para a Diversidade Sexual afirmou que irá registrar um boletim de ocorrência na Polícia Civil contra o jornal por crime de injúria e incitação à violência.

O texto abaixo foi extraído de “O Parasita” de abril e maio deste ano. O periódico de seis páginas exibe na sua página 2 um discurso contra dois gays que se beijaram numa festa da Faculdade de Medicina no ano passado.

“Lançe-merdas e Brega será na Faixa – Ultimamente nossa gloriosa faculdade vem sendo palco de cenas totalmente inadmissíveis. Ano passado, tivemos o famoso episódio em que 2 viadinhos trocaram beijos em uma festa no porão de med. Como se já não bastasse, um deles trajava uma camiseta da Atlética. Porra, manchar o nome de uma instituição da nossa faculdade em teritório dos medicus não pode ser tolerado. Na última festa dos bixos, os mesmos viadinhos citados acima, aprontaram uma pior ainda. Os seres se trancaram em uma cabine do banheiro, enquanto se ouviam dizeres do tipo “Aí, tira a mão daí.” Se as coisas continuarem assim, nossa faculdade vai virar uma ECA. Para retornar a ordem na nossa querida Farmácia, O Parasita lança um desafio, jogue merda em um viado, que você receberá, totalmente grátis, um convite de luxo para a Festa Brega 2010. Contamos com a colaboração de todos. Joãozinho Zé-Ruela”

Outro lado

Jornal O Parasita capa Jornal O Parasita capa (Foto: Reprodução)

O autor do texto acima, “Joãozinho Zé-Ruela”, aparece como editor de eventos. O G1 não conseguiu localizar os responsáveis pelo jornal para comentar o assunto. Nove nomes aparecem no expediente de “O Parasita”. A reportagem também ligou para um dos colaboradores, deixou recado, mas até a publicação da matéria não havia recebido retorno.

Estudantes da faculdade ouvidos pelo G1 confirmaram que a publicação é feita por alunos da Farmácia. Entretanto, segundo eles, o jornal não é ligado a nenhuma entidade estudantil oficial. O texto chegou ao conhecimento de alunos de outras faculdades da USP nesta sexta pela internet. Muitos criticavam o conteúdo e a incitação homofóbica. Segundo um dos alunos de ciências farmacêuticas, “Muitas [pessoas reagem] com raiva, outras com descaso e algumas acham um jornal ‘legal’.”

Homofobia
De acordo com a defensora Maíra Diniz, coordenadora do núcleo de combate à discriminação, racismo e preconceito, “O Parasita” infringiu a Lei Estadual 10.948 que trata do combate à homofobia.

“É uma coisa horrível. Eu fui surpreendida de ver que estudantes de farmácia, que têm obrigação de esclarecer o público, pensam dessa maneira. Não é só uma mera opinião, isso configura homofobia”, afirmou a defensora Maíra na tarde desta sexta. “Vamos apurar quem é o responsável pelo jornal, inclusive oficiando a faculdade. Vamos oferecer denúncia na comissão processante com base na lei estadual de homofobia.”

O G1 também tentou entrar em contato com o centro acadêmico de Farmácia da USP, mas não localizou ninguém.

Segundo Maíra, os responsáveis pelo jornal serão julgados por uma comissão, que irá apurar se eles cometeram homofobia. “Homofobia não é crime, por isso é apurado por essa comissão. É um processo administrativo que pode render uma advertência ou uma multa mínima, no valor de R$ 15 mil, se os acusados forem considerados culpados”, disse a defensora. O valor é destinado para fundos de políticas para diversidade sexual.

Caso de polícia
O advogado Dimitri Sales, coordenador para Políticas de Diversidade Sexual do Estado de São Paulo, afirmou nesta sexta que irá levar o caso até à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), onde pretende registrar queixa contra o jornal.

“A homofobia é a aversão e ódio às pessoas que têm orientação sexual diversa da heterossexual, mas no caso deste jornal, se enquadra também na injúria. É lamentável que alunos de uma instituição, como esta da USP, colocam isso. Essa postura desse jornal é repudiada de forma veemente. Tem de ser praticada uma pena dura. Eles desconsideram duas coisas. A primeira é que reafirmam a postura da discriminação contra o casal que se beijou na festa da medicina veterinária. Ou seja, legitima algo que já foi repudiado antes. A segunda é mandar estudantes agredir gays. Essas coisas agora vão virar crimes de injúria e incitação à violência”, afirmou o coordenador Dimitri Sales.

Ainda, segundo Dimitri, se a citada “festa brega” realmente tiver uma data para ocorrer, a coordenadoria fará o possível para que ela seja cancelada. “Ainda não sei se essa festa é uma piada ou se realmente ocorrerá. Mas se ocorrer, vamos tomar alguma medida jurídica para impedir a realização dessa festa porque ela estaria se baseando num conceito homofóbico”, disse.

Reprimir
O G1 procurou a Universidade de São Paulo para comentar o assunto. A assessoria da USP informou que somente a diretoria de farmácia poderia comentar o assunto.

Procurada, a faculdade informou: “A Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) não tem conhecimento nem apóia essa publicação, inclusive desconhece os seus autores. A Faculdade tomará as medidas jurídicas cabíveis para reprimir este tipo de publicação”, em nota enviada por e-mail por sua assessoria de imprensa

 

Fonte: Lista Racial

+ sobre o tema

Técnico da Croácia repudia torcedores racistas

GDANSK, 17 Jun (Reuters) - O técnico da...

Escritora que teve livro rejeitado pelo Sesi fará mutirão contra intolerância

A obra já foi premiada e traz ilustrações de...

É belo ser irmã, é belo ser negra – por Kelly Matias

Eu me lembro como se fosse ontem o dia...

O racismo faz mal à saúde

Entre a emergência de uma parturiente negra e uma...

para lembrar

Antropólogo

Exatamente três dias após a aprovação na Comissão de...

‘Me revoltei’: ela apelou a corte internacional para ver racismo punido

Simone André Diniz Rodrigues, 45, de Pirituba (SP), surpreendeu-se...

Pichação com símbolo racista gera polêmica entre alunos da Unicamp

Alunos encontraram símbolo da Ku Klux Klan com mensagem...

Guardas civis de São Paulo são flagrados em vídeo agredindo morador de rua

Funcionários da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo...
spot_imgspot_img

Denúncia de tentativa de agressão por homem negro resulta em violência policial

Um vídeo que circula nas redes sociais nesta quinta-feira (25) flagrou o momento em que um policial militar espirra um jato de spray de...

Relatório da Anistia Internacional mostra violência policial no mundo

Violência policial, dificuldade da população em acessar direitos básicos, demora na demarcação de terras indígenas e na titulação de territórios quilombolas são alguns dos...

Aos 45 anos, ‘Cadernos Negros’ ainda é leitura obrigatória em meio à luta literária

Acabo de ler "Cadernos Negros: Poemas Afro-Brasileiros", volume 45, edição do coletivo Quilombhoje Literatura, publicação organizada com afinco pelos escritores Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa. O número 45...
-+=