Nota de solidariedade à profª Mary Garcia Castro

A União Brasileira de Mulheres imputa toda a sua solidariedade à pesquisadora feminista Mary Garcia Castro. Num ato de evidente retaliação política e ideológica, a reitoria da Universidade Católica de Salvador (UCSal) demitiu sumariamente uma de suas mais produtivas professoras-orientadoras da pós-graduação, sob a pouco convincente alegação de “corte de gastos”. 

Enviado para o Portal Geledés 

Mary é uma acadêmica de 75 anos com décadas de contribuição às Ciências Sociais, à democracia e à luta feminista de esquerda no Brasil. Filiada à UBM e colaboradora assídua da Revista Presença da Mulher, é uma das defensoras da corrente feminista emancipacionista — que articula classe, gênero e raça em uma perspectiva revolucionária de superação da sociedade capitalista — e uma das mais respeitadas cientistas sociais brasileiras. Coordenou estudos pioneiros sobre juventude e sexualidade de grande impacto teórico-científico e político para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), que balizaram Políticas Públicas para a Juventude em todo o Brasil.

Mary é uma das maiores intelectuais do país e, fossem critérios mais objetivos, jamais seria dispensada de qualquer universidade. Entretanto, a onda obscurantista que vem varrendo o Brasil atingiu um dos maiores nomes do feminismo brasileiro. O clima de ódio e intolerância, antiesquerda, antifeminista e protofascista, catalisado pelo golpe de Estado que conduziu Michel Temer à Presidência da República em 2016, vem fomentando em escala cada vez maior o autoritarismo e a censura ideológica, ganhando espaço também nas universidades — onde deveriam vicejar o debate de ideias e o direito ao livre pensar. Como durante a Ditadura Militar (1964-1985), membros da comunidade acadêmica progressistas e contestadores estão sendo paulatinamente perseguidos e afastados das universidades.

Mary Castro representa um grande perigo: é crítica, combativa, feminista e socialista, e, exatamente por este motivo é alvo prioritário de ataque dos setores reacionários da universidade e da hierarquia católica. Não admitiremos mais nenhuma “Caça às Bruxas”! Exigimos a imediata recontratação da Professora Mary Castro, professora valorosa, e o fim das perseguições de cunho teórico-ideológico nas universidades.

Nossa irrestrita solidariedade à brava Profª Mary Castro neste momento de perseguição e injustiça!

22 de fevereiro de 2017
União Brasileira de Mulheres

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