Nota fiscal vira símbolo de protesto contra o racismo na mão de celebridades

Para promover o programa #RacismoZero, a Universidade Zumbi dos Palmares convida diversas personalidades para exibirem uma nota fiscal como forma de chamar a atenção para mais esta violência racial que ocorre no país

Nos primeiros seis primeiros meses deste ano já foram registrados 265 casos de injúria racial pelos canais de denúncia da Secretaria de Justiça e Cidadania do estado de São Paulo, contra 251 casos entre os anos de 2019 e 2021.

E, mesmo com a diversidade racial fazendo parte das pautas ESG das grandes e médias empresas, as diversas formas de racismo continuam expressando o ódio e a intolerância de parte da população branca contra pessoas pretas e pardas – dos ambientes de trabalho aos de entretenimento e, principalmente, nos de consumo.

De serem seguidas pelos corredores de lojas, supermercados e terem suas bolsas e mochilas revistadas, a serem obrigadas a comprovar a posse dos objetos através da apresentação da nota fiscal. Essa ainda é a rotina diária de preconceito a que a população negra brasileira está sujeita, mesmo naqueles locais onde decidiu gastar seu próprio dinheiro.

Diante desse quadro vergonhoso, que já resultou até na morte de consumidores negros por seguranças de supermercado, a Universidade Zumbi dos Palmares dá início ao programa #RacismoZero (uma filosofia social semelhante à do #CarbonoZero), voltado para a necessidade de eliminar as emanações de ódio e intolerância nas relações humanas.

O movimento “Tá aqui minha Nota Fiscal” deu o pontapé inicial no conjunto de ações cujo objetivo é chamar a atenção da sociedade para as práticas tóxicas que, levam a tomar como ladrão qualquer indivíduo negro e, convocar as empresas do varejo a repensarem suas políticas de segurança e respeitar igualmente todos os consumidores.

Apresentar a nota fiscal de compra é, infelizmente, entre tantas outras, uma das situações mais comuns de discriminação nos espaços de consumo. Além de ter que comprovar a posse daquilo que carrega consigo, a população negra sempre é perseguida pelos seguranças, ignorada na hora da compra e muitas vezes o vendedor sugere um outro produto mais barato por julgar que ela não tem condições de comprar aquele item.

O movimento “Tá aqui a Nota Fiscal” começou  em de setembro a partir da publicação de posts com influenciadores negros e brancos convocando as pessoas a postarem fotos suas com uma nota fiscal e marcar a hashtag RacismoZero como forma de repudiar qualquer forma de racismo dentro do comércio ou fora dele.

Com a proposta de firmar-se como um novo contrato social nas relações pessoa-pessoa, empresa-pessoa e governo-pessoa, o programa #RacismoZero atua para eliminar o racismo das relações humanas, de trabalho, ensino, consumo, lazer e outras onde ele ainda se manifesta todos os dias – e submete cidadãos pretos e pardos à desumanização imposta pela falta de acesso, por barreiras que dificultam seu desenvolvimento, e pela violência física e psicológica de serem apartadas da sociedade em que vivem com base na cor de sua pele.

Para o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, professor Doutor José Vicente, o programa atua de forma sistêmica – como o próprio racismo: “O racismo é uma doença social e, para desconstruí-lo, é necessário não apenas acolher suas vítimas, mas também evitar que a agressão aconteça, criando ambientes seguros para a diversidade e promovendo a convivência pacífica e respeitosa entre as pessoas por meio da atitude antirracista”. 

Entre as celebridades que estão participando do movimento estão a ex-miss Brasil Deise Nunes, os atores Edu Oliveira, Felipe Sicler e Licinio Januário, o rapper Rael, a cantora Vanessa Jackson, as influenciadoras Giovanna Carolina, Lhaura Marques, Aber Almiro, Edu Oliveira, Felipe Sicler, o humorista Esdras e a jogadora de voleibol Fernanda Garay, entre outros. A ação multiplataforma ainda contou com a participação da jornalista Letícia Vidica, da CNN, que fez o convite aos telespectadores para participar da ação no programa POP Verso, apresentado por Mari Palma.

Mais informações: www.racismozero.com.br  

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