NOTA FÚNEBRE

Mais um ato de execução sumária empreendido pela PM em Salvador – As
Chacinas do Pero Vaz

É com grande sentimento de revolta que nós, integrantes da Campanha
Reaja! residentes no Bairro de Pero Vaz viemos a publico denunciar
mais um ato de execução sumária empreendido pela policia militar em
nossa comunidade. Através de uma ação conjunta realizada pela 37ª
Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) e a Rotamo, agentes
do estado realizaram no ultimo dia 4 de março uma chacina que culminou
no extermínio de quatro pessoas e no desaparecimento de mais quatro.
Estas oito pessoas foram encurraladas e sumariamente abatidas a partir
da justificativa de que a referida incursão policial teria sido
enfrentada com tiros por estes jovens.

 O comandante da 37ª Companhia, major Alberto Beanes, alega que
“Quatro destas pessoas reagiram e foram mortas em combate enquanto
outras quatro pessoas fugiram”. Mas de pronto nos chegou a noticia de
que entre os mortos neste evento estava Adailton Cruz Santos, 21 anos,
musico (cavaquinista e percussionista) do grupo de Partido Alto
Encaixe Perfeito, um jovem popularmente conhecido por “Daí”. Além dele
também teria sido encurralado na mesma casa as jovens Alessandra de
Jesus Santos, 17 anos, e Érica dos Santos Calmon, 15, além do camelô
Luis Alberto Pereira dos Santos, de 33 anos, que até o presente
momento continuam “desaparecidas”.

Apesar da policia alegar confronto armado com o intuito de justificar
a ação como mais um “alto de resistência” (ou seja, resistência
seguida de morte) muitas pessoas da comunidade atestam que a ação
policial não deu chances de revides e se deu a base de algumas salvas
intensas de tiros seguidas de intervalos de 5-10 minutos, tudo isso
sem nenhuma troca de tiros – o que caracteriza uma chacina promovida
sumariamente por representantes legais do estado.  Enquanto a policia
alega que quatro pessoas reagiram e foram mortas em combate, e outras
quatro pessoas fugiram verificamos inúmeras contradições em relação a
versão da policia: Populares afirmam que o evento se deu com base num
ataque inuterrupto e sem voz de prisão feito pela equipe de policiais;
Uma  ocorrência feita no Ernesto Simões a PM informa que foram
apreendidos 1kg de cocaína, certa quantidade de maconha e quatro
revólveres calibre 38 enquanto a ocorrência registrada na 2ª
Delegacia, a polícia afirma ter apreendido 179 pedras de crack, 16
papelotes e uma trouxa de maconha. Segundo o boletim, as armas foram
somente citadas e são três revólveres 38 e um calibre 32.

Neste momento a comunidade do Pero Vaz se encontra amendrontada pela
ocupação policia no local. A partir da justificativa de estar
combatendo os traficantes, que segundo eles estabelecem “toques de
recolher”, as policias do Estado têm intensificado suas ações letais
de busca na comunidade deixando um rastro de mães chorando sobre os
cadáveres de seus filhas. Ainda que a midia reforce a versão policial
que sempre alega encontrar resistência em suas ações, nos posicionamos
sobre este fato específico buscando saber diretamente do governador do
estado e suas autoridades competentes:

1.    Aonde foi apresentado oficialmente a apreensão das drogas e arma
que supostamente estaria entre as apreensões naquela investida
policial?

2.    Porque a policia apresentou duas versões diferentes sobre a ocorrência?

3.    Aonde estão as desaparecidas (Alessandra de Jesus Santos, 17
anos, e Érica dos Santos Calmon, 15, e o camelô Luis Alberto Pereira
dos Santos, de  33 anos.)

4.    Há alguma prova além da versão advogada pela PM e amplamente
veiculada pela imprensa local que alega confronto entre agentes
policias e traficantes?

Como  sabemos que a corregedoria da policia não é um órgão
“imparcial”ou confiável  para atestar a veracidade dos fatos  neste  e
em outros casos de execução sumaria praticados por PMS nos remetemos
mais uma vez ao Sr Jaques Wagner, governador do estado, a Sra. Isabel
Adelaide Moura, promotora de Justiça, coordenadora do Grupo de Atuação
Especial para o Controle Externo da Atividade Policial do Ministério
Público (GACEP).  Enquanto o falatório pré-eleitoral e a demagogia  é
enxertada pela mídia  em consonância com o governo e o Ministério
Publico, uma pilha incontável de cadáveres se agiganta nos territórios
favelizados deste estado. Matanças e sequestros como os acontecidos em
Cana Brava, Pero Vaz e Vitoria da conquista continuam sendo ignoradas.
O nosso genocídio tem sido televisionado como se fosse uma novela e um
silencio ensurdecedor ecoa pela cidade, inclusive entre as chamadas
“organizações de Direitos Humanos”  que ganham recursos avultosos
através de nossa desgraça.

 Frente a esta  realidade, reiteramos a nossa pauta pela implantação
de uma Corregedoria de Policia independente, desmilitarização da
policia e imediato afastamento do atual secretário de segurança
publica. No mais, nos mantemos solidários entre nós mesmas, amigas e
familiares das que são cotidianamente assassinadas pela policia Baiana
e sua denominada “política de segurança”.

 

 

 

Fonte: Lista Racial

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