A situação caótica do sistema prisional do Espírito Santo

Por: Admin

Em nova visita a presídios, entidades de defesa dos direitos humanos verificam quadro gravíssimo

 

 

A visita era uma fiscalização de rotina. Na sexta-feira (dia 5), a comissão formada por entidades de direitos humanos entrou na Penitenciária Estadual Feminina de Tucum, no município de Cariacica (ES), ciente de que ia se deparar com uma situação complicada. As 150 vagas da unidade estão ocupadas, no momento, por 630 mulheres.

O que não se esperava era a atitude do governo do estado do Espírito Santo: após um breve tempo no interior da penitenciária, a comissão foi “convidada a se retirar” pela diretoria do presídio. O “convite” teria sido feito por determinação do Secretário de Justiça, Ângelo Roncalli. Os representantes do Conselho Estadual de Direitos Humanos do Espírito Santo (CEDH-ES), do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra (CDDH-Serra), da Pastoral do Menor, da Justiça Global e da Conectas não puderam permanecer no interior da penitenciária.

“Entendemos essa determinação como uma expulsão”, disse Gilmar Ferreira, secretário-executivo do CEDH-ES e diretor do CDDH-Serra. “Havíamos sido autorizados a entrar na unidade pelo diretor-geral Anderson Fanele, mas fomos impedidos de conversar de forma independente com as detentas”.

Para Bruno Souza, presidente do CEDH-ES, essa expulsão reflete a falta de diálogo e de transparência com que o governo do Espírito Santo trata a questão do sistema prisional. “Tentam de todas as formas ocultar as graves violações de direitos humanos que acontecem sistematicamente nas unidades prisionais do estado. Frequentemente, o governo desrespeita decisões judiciais e determinações de organismos internacionais.”

 

Camburão é usado como cela

A visita à Penitenciária Estadual Feminina do Tucum não foi a única feita esta semana. Antes de ser retirada de lá, a comissão já havia estado nos Departamentos de Polícia Judiciária (DPJ) de Cariacica e Vila Velha, no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Cariacica e na Unidade de Internação Socio-educativa (UNIS), também em Cariacica. Na Delegacia de Homicídios (DHPP) de Vitória, o grupo se deparou com o chamado “microônibus da homicídios”, um camburão onde presos provisórios chegam a passar dias aguardando uma vaga no sistema.

“A situação continua extremamente grave. Em todas as unidades, foi observado um quadro gravíssimo de superlotação e falta de condições mínimas de higiene e atendimento médico”, disse Sandra Carvalho, diretora da Justiça Global, entidade que acompanha a situação carcerária do Espírito Santo há pelo menos cinco anos. “Nessa semana, encontramos presos acorrentados pelos corredores das DPJs. No CDP de Cariacica e no Presídio Feminino de Tucum, alguns detentos conseguiram nos entregar balas de borracha disparadas contra eles.”


OEA: Brasil deve garantir a vida de adolescentes

Em novembro de 2009, a Justiça Global e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra enviaram à Organização dos Estados Americanos (OEA) um pedido de medidas cautelares em benefício dos adolescentes privados de liberdade na UNIS. Apenas entre abril e junho, três mortes e várias denúncias de tortura haviam sido registradas no interior da unidade. A OEA prontamente determinou que o Brasil garantisse a vida e a integridade física dos internos.

No último dia 3, as entidades voltaram à UNIS – desta vez integrando a comissão de fiscalização – e encontraram o mesmo cenário de novembro de 2009. Para o espanto dos representantes das organizações, na parede de uma das alas, um enorme grafite tinha retratos de homens encapuzados portando armas de fogo. Abaixo da pintura, que foi feita por um grafiteiro contratado pelo Estado, inscrições remetem ao maior grupo criminoso do estado de São Paulo, o PCC.

“A direção do presídio chegou a fazer algumas reformas, mas as novas instalações continuam fora do parâmetro exigido pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase)”, afirma Padre Xavier, da Pastoral do Menor. “São celas fechadas, sem energia elétrica. É como em um presídio. O calor é insuportável e os meninos passam a maior parte do tempo em completa ociosidade.”

 

ONGS vão à ONU e à OEA

Em maio de 2009, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), órgão ligado ao Ministério da Justiça, enviou à Procuradoria Geral da República um pedido de intervenção federal no Espírito Santo em função de denúncias de precariedade das unidades prisionais e da prática de tortura e esquartejamentos nos presídios do estado. O conselho denunciou a existência de pessoas presas em contêineres e de péssimas condições de higiene, com grande quantidade de lixo e esgoto a céu aberto.

“As organizações estão preparando um conjunto de relatórios e documentos que serão encaminhados aos organismos internacionais de direitos humanos, tanto na ONU como na OEA”, informou Julia Neiva, advogada da Conectas. “Essa é um forma de reforçar o pedido de intervenção federal que tramita na Procuradoria Geral da República”.

Fonte: Brasil de Fato

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