Novo ato racista contra Renato Freitas, cidadão de um país onde tudo muda para que nada mude

O deputado foi vítima de uma ilegalidade clara

Seis meses depois que o STF lhe devolveu o mandato de vereador, cassado por decisão arbitrária da Câmara de Curitiba, o agora deputado estadual Renato de Freitas (PT-PR), foi alvo de uma nova manifestação de racismo.

No dia 3 deste mês, ao embarcar em Foz do Iguaçu com destino a Curitiba, onde reside, Renato foi retirado do avião por ordem policial, passando por uma revista humilhante, registrada em detalhes por sua própria câmara de vídeo.

Autorizado a prosseguir viagem depois que ficou constatado que nada havia de errado em sua bagagem, Renato não guardou a história para si, como chegou a lhe sugerir um passageira, com modos bondosos mas raciocínio conformista.

Quinze dias semanas depois, o caso se transformou num escândalo didático, num episódio que ajuda a lembrar uma conhecida tragédia brasileira — o racismo, capítulo de uma história vergonhosa em que tudo parece mudar para que nada mude.

“O que houve com Renato Freitas tem nome, e se chama racismo. O governo não pode deixar sem apuração essa conduta da PF”, cobrou Pedro Serrano, um dos grandes juristas do país, em entrevista a Dayane Santos, da TV 247.

O professor explica que o deputado foi vítima de uma ilegalidade clara. No interior do avião, Renato não foi alvo de uma revista “aleatória”, dessas que as autoridades policiais realizam nas ruas das grandes cidades, mas num local em que elas não devem ocorrer. “Revista com passageiro embarcado só existe com suspeita de crime”, explica Serrano.

Claro que, no mundo branco da imensa maioria de brasileiros e brasileiras que viajam de avião, a grande suspeita é a cor da pele. Colocado em 17o. lugar na lista de 50 deputados estaduais eleitos em 2022, quando recebeu 57 880 votos das camadas pobres e combativas do eleitorado paranaense, Renato fará 30 anos em dezembro e já acumulou uma respeitável história de luta.

No ano passado, quando dois trabalhadores pretos foram barbaramente executados no Rio de Janeiro porque reclamavam contra atraso nos salários, ele decidiu organizar um ato de protesto às portas de uma das tradicionais Igrejas de Curitiba.

Numa reação articulada, num prenúncio da atuação da extrema-direita bolsonarista contra Lula e o Partido dos Trabalhadores ano presidencial de 2022, uma maioria conservadora de vereadores de aprovou a cassação do mandato de Renato em clima de golpe de Estado, decisão escandalosa que só seria revertida quando seus advogados conseguiram levar o caso para o STF.  Ali, numa decisão monocrática, Roberto Barroso anulou a condenação. Numa coincidência que envolve conexões inesperadas e inspira conjecturas profundas, a decisão de Barroso foi tomada no mesmo dia em que o militante católico Renato de Freitas era recebido pelo Papa em Roma, onde se participava de uma atividade de jovens católicos do mundo inteiro. Foi assim, num gesto de Estado, que o destino de um militante preto e pobre se modificou — e se fez Justiça.

Numa repetição enviesada daquela que é, na essência, a mesma história de milhões de jovens negros do país, discriminados e agredidos em sua dignidade ao longo de várias gerações, o drama de Renato Freitas está exposto à luz do sol.

Com uma biografia de combate à injustiça e defesa da dignidade humana, Lula tem aí uma grande oportunidade para marcar mais uma diferença na história, e exibir uma investigação de verdade sobre o vexame no voo Foz do Iguaçu-Curitiba.

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