Para grupos de minorias morando na Europa, tarefas diárias como fazer compras ou visitar o médico frequentemente são afligidas por discriminação. De acordo com um novo relatório da UE, o racismo está profundamente enraizado -e, ainda mais preocupante, muitas vezes não é denunciado.
Para muitas minorias étnicas e imigrantes, o racismo e a discriminação são um fato triste da vida diária, de acordo com um novo relatório da Agência de Direitos Fundamentais da União Europeia
Em certa época, os europeus fugiram em grandes números da Europa em busca de um futuro mais promissor em outras partes. Gradualmente, contudo, a UE emergiu como imã de imigrantes. A experiência das minorias étnicas e dos recém chegados muitas vezes não é nada cor de rosa, de acordo com uma nova pesquisa.
Entre uma série de conclusões estarrecedoras, ela revelou que em média, um em cada dois romas e mais de um terço dos entrevistados africanos subsaarianos foram discriminados por sua etnia ao menos uma vez no último ano.
Dúvidas em relação à polícia local
Impressionantemente, eles também descobriram que entre os que enfrentaram discriminação nos últimos 12 meses, 82% não denunciaram suas experiências às autoridades, em geral por desconfiarem da polícia local.
O estudo em toda a UE é o primeiro do tipo, e entrevistou 23.500 pessoas de várias minorias e grupos de imigrantes em torno dos 27 Estados membros em 2008. Para avaliar a extensão do problema, usou uma série de questões sobre a discriminação em várias esferas da vida diária, inclusive no trabalho, na busca por trabalho e acomodação, em serviços de saúde e sociais, em escolas e lojas, assim como ao tentar abrir uma conta de banco ou obter um empréstimo.
O relatório concluiu que os romas enfrentam mais discriminação por causa de sua origem do que outros grupos. Em média, cada entrevistado roma foi discriminado cerca de 4,6 vezes no ano passado. Após os romas, os povos subsaarianos foram os mais discriminados, seguidos dos norte-africanos.
Ameaças motivadas pela raça
A organização também dividiu suas descobertas país a país, ressaltando as zonas de alto nível de preconceito na UE. Os que mais sofreram com o racismo foram os romas na República Tcheca, seguidos pelos romas na Hungria e na Grécia. Quase igualmente maltratados foram os africanos subsaarianos na Irlanda e os norte-africanos na Itália.
Em um esforço para diferenciar entre tipos de discriminação, o relatório também estudou os números de ataques e ameaças contra as minorias, e alguns somalis na Finlândia tiveram os mais altos incidentes na Europa. De cada 100 entrevistados, 74 disseram ter passado por um ataque ou ameaça. Em termos de provocações sérias, houve 174 incidentes para cada 100 romas na Grécia.
Enquanto os romas, os subsaarianos e muçulmanos consistentemente denunciaram os mais altos níveis de racismo, uma exceção foram os brasileiros morando em Portugal. Eles falaram de altos níveis de sentimento anti-imigração.
Na Europa como um todo, uma em cada quatro pessoas de uma minoria foi vítima de crime nos últimos anos -uma descoberta amargamente irônica, já que estes mesmos grupos são muitas vezes estereotipados como criminosos.
Entre os entrevistados, os mais jovens denunciaram maior violência. Por exemplo, entre os imigrantes norte-africanos, a maior parte dos ataques foi registrada pelos mais jovens (um terço das pessoas com 24 anos ou menos tinha sido vítima, além de 30% das com 25 a 39 anos). No grupo de 55 anos ou mais, apenas 12% foram afetados.
Desconfiança da polícia
De forma interessante, o relatório não encontrou diferenças significativas no gênero das vítimas, em contraste com pesquisas anteriores.
Algumas comunidades entrevistadas viam a polícia como parte do problema. Entre os norte-africanos na pesquisa, um em cada cinco achava que tinha sido revistado pela polícia devido a sua etnia.
Similarmente, o relatório apontou para uma desconfiança prevalecente entre imigrantes e minorias étnicas em relação às forças policiais locais. Um total de 82% dos indivíduos que disseram ter tido uma experiência recente de discriminação no último ano não prestaram queixa à polícia, em grande parte porque “nada ia acontecer” ou porque isso “acontece o tempo todo”.
“Essa falta de denúncia indica que os números oficiais sobre o racismo constituem a ponta do iceberg”, disse o relatório, acrescentando que o contraste entre as estatísticas oficiais e a alta frequência de incidentes revelada pela pesquisa “é evidência suficiente de que muito mais precisa ser feito.”
Fonte: UOL