No dia em que se cumpriu o primeiro aniversário do rapto das alunas da escola de Chibok, no Nordeste do país, o recém-eleito Presidente Muhammad Buhari disse que “honestamente” não podia garantir o seu resgate.
Do Público
O recém-eleito Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, descreveu o rapto de centenas de meninas de uma escola de Chibok, pelos militantes islamistas do Boko Haram, há exactamente um ano, como “um ataque aos sonhos e aspirações de toda uma geração”. Mas ao contrário do seu antecessor Goodluck Jonathan, disse “honestamente” que não estava em condições de garantir o seu resgate. “Por mais que queira fazê-lo, não posso prometer que as vou salvar. Não sabemos se as podemos salvar porque não sabemos onde elas estão”, lamentou Buhari, que durante a campanha eleitoral repetiu que teria mão-de-ferro contra o Boko Haram e seria implacável com o terrorismo.
“Este crime provocou uma justa reacção de horror e indignação na Nigéria e em todo o mundo. Hoje é um dia para reflectirmos na dor e sofrimento das vítimas, os seus amigos e familiares”, declarou o Presidente, numa breve cerimónia para assinalar o primeiro aniversário do rapto e desaparecimento das meninas. Malala Yousafzai, a estudante paquistanesa que foi baleada pelos taliban por insistir em ir à escola, juntou a sua voz à de muitos outros líderes internacionais que lembraram a data. “Hoje sou uma entre milhões de pessoas de todo o mundo que estão a pensar e a rezar por vocês. Não conseguimos imaginar a extensão dos horrores por que têm passado. Mas queremos que saibam que nunca vos vamos esquecer”, escreveu a activista e prémio Nobel da Paz.
Durante a noite ou madrugada de 14-15 de Abril de 2014, cerca de 300 jovens estudantes de diferentes estabelecimentos de ensino foram forçadas a sair dos dormitórios da escola secundária de Chibok onde ia decorrer o exame final de Física. O lugar fora invadido por militantes do Boko Haram, um grupo jihadista que se opõe à educação nos moldes ocidentais; depois de uma troca de tiros com os guardas da escola, obrigaram as meninas a embarcar em autocarros ou a caminhar mais de 15 quilómetros até ao mato de Sambisa, onde desapareceram.
O Governo nigeriano tinha suspendido as aulas nas escolas da região um mês antes, numa medida de precaução perante a ameaça representada pelos islamistas. Mas as estudantes tinham sido chamadas à escola de Chibok para realizarem as suas provas finais, debaixo da vigilância de seguranças. Dezenas de meninas conseguiram escapar dos captores e fugir para segurança, dias depois do rapto. Mas o rasto das restantes 216 mantidas pelos militantes perdeu-se logo depois: até hoje, não há nenhuma suspeita sobre o seu possível paradeiro, nenhuma prova de vida que alimente a esperança de um resgate.
Em declarações ao jornal nigeriano This Day na semana passada, o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al Hussein, duvidava que as estudantes ainda estivessem vivas. “Acreditamos que entre as vítimas dos massacres [do Boko Haram] iremos encontrar as meninas de Chibok”, afirmou, referindo-se às descobertas recentes de valas comuns em Bama e outras localidades abandonadas pelos jihadistas.
No dia em que se assinalou o primeiro aniversário do rapto, o mistério e as dúvidas continuam a atormentar as famílias que esperam pelo seu regresso. Não é só porque as estudantes continuam desaparecidas, mas também porque os esforços encetados para as resgatar falharam nesse propósito ou na dissuasão dos militantes: de então para cá, terão sido raptadas mais de 2000 estudantes pelo Boko Haram, alegadamente traficadas como escravas sexuais.
A campanha internacional para trazer de volta a casa as meninas desaparecidas em Chibok (o movimento #BringBack OurGirls que se se tornou viral na Internet) ainda não produziu o resultado esperado. Os seus activistas, como a professora de Maiduguri, Hauwa Biu, entrevistada pela cadeia norte-americana NBC, dizem que além do mérito de chamar a atenção mundial para o que aconteceu na Nigéria, a campanha “tornou evidente o fracasso da resposta do Governo”.
Esta terça-feira, o slogan da campanha foi alterado para “Nunca esqueceremos”. “Nos últimos 365 dias não nos cansamos de gritar pela libertação das nossas irmãos, e hoje continuamos a exigir, mais alto do que nunca, o seu regresso a casa”, disse à AFP Rebecca Ishaku, uma das activistas que participou numa marcha na capital Abuja, até à porta do Ministério da Educação. “O Governo deve tornar a educação e a segurança nas escolas uma prioridade”, reclamaram os manifestantes.
O então Presidente nigeriano Goodluck Jonathan, que levou semanas sem falar sobre o rapto, inicialmente recusou as ofertas de assistência internacional (dos Estados Unidos, França, Reino Unido ou China) para uma operação de resgate das estudantes. Foi só depois, sob pressão da opinião pública, que o Governo intensificou as suas incursões contra os islamistas, e já este ano lançou uma vasta ofensiva militar contra o Boko Haram, com o apoio das forças dos países vizinhos Chade, Níger e Camarões, para recuperar o território dominado pelos jihadistas. “A pressão teve algum resultado, mas continuamos a receber notícias de raptos e mortes. Esta é uma organização que continuará a existir e que não desistirá dos seus objectivos e métodos. Nesse aspecto, neste ano que passou nada mudou: eles continuam a raptar meninas e a transformar meninos em soldados”, disse à NBC o analista dothink-tank londrino Royal United Services Institute, Raffaello Pantucci.
Muhammad Buhari, que só toma posse no final de Maio, disse que o seu Governo terá uma “abordagem diferente” na resposta ao drama e às “angústias dos nossos concidadãos” afectados pela tragédia. “Tenciono fazer tudo o que estiver em nosso poder para encontrar as meninas. Mas honestamente não posso garantir que as vou salvar”, acrescentou.
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