O Brasil é um país laico e é preciso que isso seja mantido, afirma o infectologista Fábio Mesquita, dias antes de assumir a direção do Departamento de DSTs, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. O novo diretor concedeu entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, reproduzida abaixo.
O senhor assume a diretoria de DST/Aids num momento conturbado, com críticas do movimento social, de especialistas e de ex-diretores. Pretende se aproximar desses grupos?
Vamos dialogar com as ONGs de aids. Sem a diversidade de ideias e o diálogo não há progresso. Trabalhei com Paulo Roberto Teixeira e Pedro Chequer (ex-diretores), admiro os dois e vou procurá-los. A sociedade civil e os especialistas foram muito críticos.
Qual o maior desafio para enfrentar a epidemia no País?
Inovação. Os dados mostram que fazer mais do mesmo não levará a gente muito longe. Sem menosprezar o sucesso do programa brasileiro, é preciso atualizá-lo, inserir o que há de evidência científica e está funcionando em outros lugares.
Campanhas polêmicas tiveram a veiculação suspensa. O governo foi conservador?
Eu não imagino os EUA, mesmo na gestão de Barack Obama, colocando seu logo naquele material publicitário sobre prostituição. Será que os governos do Japão, Rússia ou China fariam? Daí a dizer que o Brasil discrimina profissionais do sexo é forçar a barra.
Qual estratégia o senhor pretende adotar para reduzir a infecção entre usuários de drogas?
Aplicar o que funciona: intensificar a estratégia de redução de danos; distribuir seringas e agulhas; oferecer tratamento de dependência de drogas com base em evidência científica; e tratar o quanto antes os usuários HIV positivos com antirretrovirais.
Qual influência que grupos religiosos têm na condução das políticas de combate à epidemia?
Há influência de toda sorte e de todas as religiões, já que isso representa nossa sociedade, que é multirreligiosa. O importante é garantir o preceito constitucional de que o Brasil é um Estado laico. Trabalhei no maior país muçulmano do planeta, a Indonésia, no país da Igreja Católica mais conservadora, Filipinas, e num país comunista de maioria ateia ou budista, o Vietnã, e celebro a cada dia o fato de ser brasileiro. Luta política sempre haverá, mas que graça teria viver num país monolítico onde alguns ditassem o que é melhor para todos?
Fonte: O Estado de S. Paulo